Streaming: Liberdade ou Prisão?
Recentemente viralizou uma imagem mostrando a porcentagem de filmes, separados por década, que cada streaming mais popular tem em seu catálogo. E é impressionante como obras lançadas da década de 80 para baixo não possuem muito espaço nessas plataformas.
Isso desencadeou um debate que se repete nas redes a respeito dos serviços de streaming e da pirataria. Será que é realmente possível conhecer bem o cinema apenas tendo acesso a serviços de streaming? Será que a única forma de ter acesso a um vasto material é através da pirataria?
Que plataformas como Netflix e Prime Vídeo são uma facilidade nos dias de hoje é um fato. Elas chegaram com uma ideia de supostamente democratizar o acesso aos filmes e séries, com inúmeros títulos de vários lugares do mundo, com vários estilos. Só que com o passar dos anos a coisa tem se mostrado um tanto diferente. Temos visto mais e mais plataformas de streaming sendo criadas e a cada dia menos democrático se torna tudo.
A cada ano que passa os conteúdos das plataformas ficam mais e mais focados nas suas produções “originais”. E para termos acesso a filmes e séries e várias distribuidoras precisamos assinar muitos serviços. O que era democrático pode acabar mais caro do que uma TV por assinatura. E talvez com menos variedade de conteúdo. E mesmo assim, ainda existe a dificuldade de acesso a vários tipos de produção.
Apesar de existir streaming com excelente curadoria voltada para filmes mais antigos, de países diversificados, ainda é difícil pra quem se interessa em conhecer bem o audiovisual, ou até mesmo estudá-lo, depender apenas dessas plataformas. Além de ser caro, a quantidade de obras é bem limitada. E aí entra o problema: é válido recorrer à pirataria?
Em um mundo ideal esse nem seria um debate, mas em um país onde boa parte da população não tem nem acesso a serviços básicos, falar sobre o assunto acaba sendo necessário. Filmes e séries são produtos artísticos, históricos e que toda a população deveria ter acesso. Permitir que apenas uma parcela da população – a que pode pagar pela variedade de plataformas – tenha acesso a essas obras não é algo justo. E mais, mesmo quem pode pagar, por conta da falta de obras mais diversas, não consegue ter acesso a uma variedade real de filmes brasileiros, latinos que sejam de antes de 1980.
Em um mundo ideal ninguém iria recorrer a pirataria, mas o que resta quando as plataformas não são democráticas? É necessário ter de maneira legalizada mais filmes e séries que sejam produzidos fora dos Estados Unidos e Europa. Obras mais antigas que 1980. E que esses serviços também sejam mais baratos para a população. Porque nem todo mundo pode pagar mais de R$100 por mês para ter acesso a apenas algumas plataformas de streaming que não possuem um catálogo tão diverso assim.