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PSICOCINE – Transtorno Cinéfilo Caótico

Você já ouviu falar em “TCC”?

Não, não. Não estou falando daquele momento decisivo na sua conclusão de curso, mas o “Transtorno Cinéfilo Caótico”? Não? Pois bem, o “TCC” é uma condição mental que se manifesta como um Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI) específico para cinéfilos, envolvendo a presença de múltiplas personalidades, cada uma com uma preferência cinéfila distinta.

Indivíduos afetados por esse transtorno podem apresentar uma fragmentação em suas identidades cinéfilas, com alter egos surgindo em diferentes situações ou contextos relacionados ao cinema. Cada personalidade pode demonstrar preferências e características específicas em relação a gêneros de filmes, como drama, ação, suspense, comédia, fantasia, entre outros.

Ou seja:

Você pode estar em um barzinho com o pessoal do trabalho, defendendo Andrei Tarkovski e sua abordagem poética e contemplativa em relação ao cinema, que propõe uma profundidade filosófica, enfatizando o seu visual deslumbrantes e como isso é pensado para encorajar o espectador a refletir sobre questões existenciais e espirituais. Bate no peito do chato do RH falando sobre como esse expressionismo mudou o rumo da história do cinema, como influenciou outros tantos gênios mundiais e colocou a Rússia pra valer no mapa com suas películas.

E cinco minutos depois:

Você acaba bradando na mesa entre os colegas, que Will Ferrell é um ator subestimado, que possui uma carreira maior e melhor que a maioria dos atores sérios de Hollywood. Citar que ele até pode ter sido um adulto imaturo como Brennan Huff, mas foi o maior de todos os âncoras como Ron Burgundy, um piloto embaçado quando vestiu o seu macacão de Ricky Bobby que não veria isso ser possível nas mãos de De Niro e Al Pacino. Ficar de pé e falar alto como queria um padrasto como o Brad Whitaker ou como o Brasil merece um militar inteligente e charmoso como Allen Gamble e não esses palhaços que governaram o país e sair esbatendo as coisas para se segurar e não falar da patinação do Chazz ou a dedicação do melhor Elfo do Noel.

Compreende?

Então é com o maior prazer do mundo que eu retorno a minha casa! Sorc está de volta no Cinem(Ação), porque um bom filho à casa torna, nem que seja pra assistir uma Sessão da Tarde! E o conteúdo da minha reestréia é exatamente sobre este Transtorno tão perigoso a nossa imagem, que existe de forma à paisana na maioria dos cinéfilos. Muitos nem sabem que isso existe, quando passam por isso culpam a bebida ou até mesmo a companhia do dia, mudando o papo nerd com os amigos para algo mais culto com o(a) cônjuge. Pois venho aprofundar o assunto:

Os sintomas do “Transtorno Cinéfilo Caótico” podem incluir:

  • Mudanças abruptas no comportamento e nas preferências cinematográficas.
  • Amnésia ou lapsos de memória em relação às escolhas de filmes feitas por uma personalidade específica.
  • Aparição de diferentes identidades cinéfilas em momentos distintos, podendo se manifestar de forma imprevisível.
  • Sensação de perda de controle sobre as preferências pessoais em relação ao cinema.
  • Dificuldade em manter um senso estável de identidade cinéfila.

O tratamento do “Transtorno Cinéfilo Caótico” envolve a abordagem terapêutica, como a terapia cognitivo-comportamental e a terapia psicodinâmica. O objetivo é ajudar o indivíduo a compreender e integrar as diferentes identidades cinéfilas, facilitando a comunicação entre elas e promovendo uma coexistência mais harmônica.

Dizem que parte do tratamento pode ser asssitir diretores distintos na sequência em uma leve maratona de fim de semana, como por exemplo: Guel Arraes, seguido de Pascal Laugier, respirar vendo um John Hughes e terminar o dia com David Cronenberg, pode ser um bom começo de tratamento.

A terapia também visa identificar possíveis traumas ou conflitos subjacentes relacionados ao cinema que possam estar contribuindo para a fragmentação da identidade cinéfila. Ao longo do tratamento, o paciente é encorajado a desenvolver um senso de equilíbrio e identidade unificada em relação ao cinema, permitindo uma apreciação mais holística e satisfatória dessa forma de arte.

O cinema simplesmente não existiria sem a psicologia. Arte é inegavelmente um movimento terapêutico. Entretanto, muitas vezes podem nos causar gatilhos irreversíveis. Traumas como o final de Lost ou A Vila, podem partir em pedaços o seu carinho pela sétima arte, ou diminuir o apreço uma vez que é como provar o gosto amargo da traição. Maratonas de séries desenfreadas, como esperar 1 anos pela nova temporada e matar ela em 1 madrugada, se houver pequenos cochilos como em obras como Dark, pode ocasionar problemas psicológicos graves de má interpretação da linha do tempo. Outro forte causador deste “TCC” focado em películas é o trailer mal editado. Trailers normalmente que contam muito, estragam o plot twist ou pior, que contém cenas que não se encontram no filme, também podem ocasionar em TCC.

A psicologia está na análise e desenvolvimento de personagens. Está por trás das escolhas de direção. Nas emoções que uma atuação provoca. Nos traumas e superações que o roteiro instiga. Análise de filmes que abordam personagens enfrentando traumas e desafios emocionais pode fornecer uma visão profunda sobre como o cinema retrata experiências emocionais complexas e como os personagens podem superá-las, mostrando resiliência psicológica. Nos arquétipos, simbolismos, processo criativo e até mesmo na audiência. Vamos estudar tudo isso por aqui.

Psicologia é interpretação.

O cinema também.

Trouxe esse problema para vocês após um estudo de dias a fio, por conta do autodiagnóstico. No mês passado descobri o “TCC” ao explicar o final de Jamaica Abaixo de Zero para minha namorada. Eu entendi claramente que eles morreram naquele acidente, e são as suas almas a serem parabenizadas e recebidas no céu por aplausos enquanto caminham até a linha de chegada.

Entende o problema?

Cinéfilo quer descobrir escolhas de direção, mesmo quando não há. O filme é baseado em fatos reais e os quatro atletas sobreviveram, então por que diabos eu estava procurando pelo em ovo?

TCC.

Ao notar a discussão sem pé nem cabeça corri para o banheiro, lavei o rosto nas águas sagradas da pia e me encarei no espelho. Pensei em alguma pergunta íntima para fazer ao meu reflexo no espelho. Algo que só o cinéfilo que habitava em mim poderia responder e foi aí que notei as múltiplas facetas do meu problema!

Não doeria assumir que gosto de comédias românticas daquelas bem óbvias para mim mesmo dentro daquele ambiente úmido e seguro, mas quando questionei quem deveria fazer uma comédia romântica perfeita para se assistir em um dia de chuva debaixo do edredom, respondi: Rob Zombie.

Comecei a suar frio, o que eu estava fazendo, quem estava respondendo aquilo? Quantos cinéfilos habitavam dentro de mim? Tentei fazer uma lista rápida de filmes favoritos e elenquei Clube da Luta, O Casamento dos Trapalhões, Casablanca e quando cheguei em Kung-Fusão eu parei. Tive uma crise de ansiedade e resolvi tomar um banho.

Foi aí que estudei o máximo possível para poder compartilhar com propriedade esse probleminha que se eu tenho, você pode não só ter como conhecer alguém que o tenha.

Este primeiro episódio dessa coluna vem para apresentar o problema, os próximos eu trarei filmes distintos e motivos para assisti-los. A ideia dessa coluna é ser medicinal e tratar o transtorno de todos nós e, é claro, trazer boas pérolas para serem assistidas.

Nos vemos – se tudo der certo – na semana que vem.

Abraços do Doutor Sorc!

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