Crítica: Casa Izabel (Olhar de Cinema)
Ficha técnica – Casa Izabel
Direção: Gil Baroni
Roteiro: Luiz Bertazzo
Nacionalidade e Lançamento: Brasil, 2023 (Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba)
Sinopse: Em um aparente refúgio da realidade brasileira dos anos 1970, homens da alta sociedade se encontram para encarnar mulheres em fantasias de luxo e exuberância. Mas Casa Grande Izabel esconde muito mais do que os caprichos e devaneios secretos de seus hóspedes.
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Imagine um lugar onde homens da alta sociedade se encontram e, vestidos de mulheres, encarnam algumas das suas fantasias. Em princípio não é nada sexual, mas sim uma ideia de luxo e exuberância. Essa é a Casa Izabel do título. Uma antiga casa grande que, mesmo em um período sem escravidão, traz ali dentro costumes que remontam aos tempos coloniais.
Enquanto homens brancos vão àquele lugar para viverem como mulheres, enquanto bebem champanhe e contam histórias inventadas, o único homem negro do local está ali para servir aos outros. Ele também encarna uma mulher, mas sem jamais poder dar vazão aos seus desejos reais. Sua existência é marcada pela violência com que as outras pessoas o tratam.
Se inicialmente Casa Izabel dá a entender que o protagonista será o novato que chega naquele lugar e vai pouco a pouco entendendo seu funcionamento com estranheza; logo percebemos que essa é mais uma ilusão dentre tantas que o filme traz. Em um primeiro momento o longa parece que vai tratar sobre questões de gênero e sexualidade, mas apesar de pincelar uma ou outra coisa, não se aprofunda muito nisso. As atrações e os desejos das pessoas do grupo não se tornam elementos verdadeiramente trabalhados dentro da narrativa.
A ideia de trazer o crossdressing para a centralidade do longa é interessante e algo que vale a pena ser mais explorado dentro do nosso cinema. O filme também traz um debate racial e se passa em plena Ditadura Militar, colocando o tema dentro da narrativa. Apesar de dentro daquela casa tudo parecer idílico, delicado e ter até uma aura de sonho, a realidade é dura e cheia de destruição. Só que apesar de temáticas importantes, muitas das ideias de Casa Izabel não se encaixam tão bem assim. Conflitos são abandonados no meio da narrativa e jamais resolvidos. Parece faltar foco na escolha de qual história o filme realmente quer contar.
Gil Baroni é um diretor competente e leva o público a ficar imerso em uma narrativa cheia de momentos que trazem estranhamento, fascinação e beiram o absurdo. As imagens conseguem ser impactantes e se torna fácil mergulhar dentro daquele universo; mas o enredo muitas vezes não se encaixa. Muitas situações não são bem trabalhadas, e as resoluções parecem fáceis. Apesar de aparentemente provocativo, existe pouco de disruptivo no filme. As imagens que se apresentam e as figuras mostradas na tela chamam atenção, mas suas ações nunca alcançam a mesma força.
A impressão é que Casa Isabel quer ser um filme transgressor, mas não alcança seu objetivo. Tem elementos interessantes, mas fica a sensação de que falta algo.