Crítica: Tinnitus
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Crítica: Tinnitus

Ficha técnica – Tinnitus
Direção: Gregorio Graziosi
Roteiro: Marco Dutra, Gregorio Graziosi, Andres Vera
Nacionalidade e Lançamento: Brasil, 22 de junho de 2023
Elenco: Joana de Verona, Indira Nascimento, Ally Willow, Antonio Pitanga, André Guerreiro.
Sinopse: Marina é uma ex-mergulhadora que sofre de um terrível zumbido nos ouvidos. Após um acidente sofrido nas últimas Olimpíadas, ela decide voltar a competir na esperança de conquistar uma medalha olímpica, colocando sua vida em risco.

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Os Narvais são baleias caracterizadas pelo longo e protuberante dente que se assemelha a um chifre que lhe rendeu o apelido de “unicórnio do mar”. Não são animais violentos, mas quando necessário podem usar de sua força para sobreviver. Em poucos minutos de filme, a protagonista Marina chega a dizer “O monstro ainda dorme”, para se referir a si mesma.

É assim que o diretor Gregório Graziosi explora os diversos elementos relacionados aos monstros à espreita que vivem dentro da protagonista. Marina Lenk (sobrenome nada sutil) tem Tinnitus, um zumbido constante no ouvido, que simboliza seus anseios, medos e sua violência adormecida que desembocam no desejo da protagonista de mergulhar em si mesma e descobrir o silêncio, a paz interior.

A cidade de São Paulo é presença constante. Ao fundo da piscina, os prédios opulentos no entorno são ameaçadores. A presença constante do concreto só não é mais sufocante que os barulhos constantes da cidade, em referência direta ao zumbido. São Paulo é uma cidade com tinnitus, e nem mesmo um museu transmite paz.

Marina encontra paz como sereia de um aquário decadente. É debaixo d’água que encontra seu silêncio. É na fantasia que foge da realidade.

Tinnitus tem na cor vermelha o símbolo dessa raiva. As bexigas que podem explodir a qualquer momento em uma apresentação musical, as luzes constantes em todos os cantos, e o “diabo” que se debate em meio a um vazio bairro da Liberdade.

Antonio Pitanga, em sua participação, vive um homem que também busca sua paz por meio da religiosidade. Ele busca seu silêncio, também, nas origens orientais – o budismo, a cultura japonesa e os jogos olímpicos na terra do sol nascente fazem mais uma referência sempre presente.

Mesmo que com alguns diálogos pouco naturais e atuações dissonantes que distanciam o espectador, Graziosi faz de Tinnitus um experimento sensorial que flerta com o “body horror”, debate questões e explora as relações femininas. Há algo de Persona, mas também de O Som ao Redor. Há elementos que lembram Julia Ducournau. E no fim, é claro, Cisne Negro – ou seria Cisne Vermelho?

Como exercício sensorial, Tinnitus funciona em sua proposta. No entanto, suas excentricidades não são suficientes para que ele se firme com suas próprias marcas. Para além do experimento, especialmente quando se considera as relações entre as personagens das atletas e da treinadora, há um distanciamento que se forma como uma barreira. Para que mergulhemos de verdade em uma personagem (com perdão do trocadilho), seria necessário um pouco menos de frieza, talvez.

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