Crítica: O Policial e a Pastora (Olhar de Cinema)
Ficha técnica – O Policial e a Pastora
Direção: Alice Riff
Roteiro: Alice Riff, Larissa Ribeiro.
Nacionalidade e Lançamento: Brasil, 2023 (Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba)
Sinopse: Em um contexto contemporâneo marcado pelo signo da polarização, Alice Riff investe no desafio do “entre”. Seu interesse se volta para pessoas que lutam contra os pensamentos hegemônicos em instituições historicamente conservadoras: Valéria, fundadora do grupo de evangélicas pela igualdade de gênero, e Alexandre, policial crítico à organização.
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Depois da vitória da extrema direita com a eleição do Bolsonaro, o povo do Brasil pôde ver claramente o país viver uma ascensão de uma comunidade evangélica extremamente repressiva e que flerta com inúmeras violências; além de uma polícia que massacra o povo. Fugindo da lógica hegemônica, Alice Riff traz um documentário retratando duas figuras que fogem do que se espera. De um lado um policial que é antifacista, do outro uma pastora feminista.
A ideia de filmar essas duas figuras é muito interessante. Em um país que viveu uma ascensão conservadora muito forte, e que a polícia e a igreja foram dois dos maiores focos desse excesso de conservadorismo, ter acesso a pessoas que ocupam esses espaços de maneira diferente é algo que chama atenção. Só que existe uma distância grande entre a ideia e a execução.
Um filme dividido em dois, na primeira parte vemos Alexandre, policial negro, periférico, que usa camiseta do Spike Lee e diz não querer ser mostrado como herói. Ele entende as dicotomias de ser um homem negro com ideias de luta e ser parte da instituição que está inserido. Vemos uma pouco sobre ele e sobre o que Alice imagina ser ele, mas de fato pouco temos acesso a quem ele é. E a como foi sua relação com o período de governo Bolsonaro.
Em um segundo momento vemos Valéria. Pastora evangélica que tem no púlpito de sua igreja uma mulher preta e travesti. Uma quebra com o que é esperado de evangélicas. Vemos também outras mulheres que fazem parte do grupo de Valéria e temos acesso aos seus pensamentos contra a violência que inúmeras mulheres brasileiras sofrem.
Duas narrativas diferentes, duas visões de mundo distintas. Uma baita história no meio, mas que o público nunca tem acesso de fato.
As narrativas não se conectam, e mesmo de forma independente, o público não consegue de fato se aproximar daqueles personagens. E não porque suas histórias não sejam interessantes, pelo contrário; mas porque a maneira que a diretora escolhe retratar esses dois, no fim, retrata pouco sobre eles.
Em um país onde ao falar de policiais e pastores automaticamente se pensa em uma extrema-direita conservadora, personagens como os do filme são disruptivos. O documentário poderia ser também, mas infelizmente a maneira como constrói tudo, só mostra que ali poderia ter um grande filme, mas ficou um pouco de vazio.