Crítica: Beau Tem Medo
Beau Tem Medo
Direção: Ari Aster
Roteiro: Ari Aster
Sinopse: Após a morte repentina de sua mãe, um homem gentil e atormentado pela sua ansiedade enfrenta seus medos mais obscuros enquanto embarca em uma jornada épica e Kafkaesca de volta para casa.
Elenco: Joaquin Phoenix, Amy Ryan, Patti LuPone, Zoe Lister–Jones, Nathan Lane, Armen Nahapetian, Parker Posey.
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Beau Wassermann (Joaquin Phoenix/Armen Nahapetian) é um homem frágil, tímido e que tem uma relação passiva com toda a desgraça do mundo ao redor dele. Ele precisa encontrar a sua mãe (Patti LuPone/ Zoe Lister–Jones) mas enquanto uma série de desgraças vão acontecendo com ele. É interessante o conceito de “Beau Tem Medo” de explorar o sentimento de impotência diante de uma visão extrema e propositalmente caricata dos males do mundo e o desespero de como esses males vão se infestando por um homem sem que qualquer tentativa de defesa dele acabe dando certo. Uma pena que na maior parte do filme o Ari Aster construa tudo isso da maneira mais rasa possível, deixando que cada um dos elementos do filme soem muito forçados.
Parece até um filme formulário do que é geralmente associado com um tipo de vertente de “cinema de autor” e vai só preenchendo tudo dessa vertente do jeito mais genérico e manjado possível. Começando pelo coitadismo do personagem do Joaquin Phoenix, um dos melhores do cinema mas aqui está no piloto automático do “Coringa” numa atuação totalmente “Tonho da Lua” excessiva e rasa resumida em apenas em sofrer e sem nenhuma característica própria ou nuance e junto com isso temos um filme em que a mescla com um surrealismo, o esteticismo, o uso da câmera, a luz, a montagem, os traumas familiares, as questões psicológicas, a estranheza e por aí vai só existem nesse tom exagerado – o que em si nenhum problema – para gerar de maneira apelativa e muito fácil ao meu ver uma imposição de sentimentos do espectador que fica extremamente calculada e esquemática – inclusive no seu senso de humor absurdo – e vazia porque na realidade estão lá sem servir a algo específico já que as obsessões e traços do Aster são subservientes a outros filmes e diretores melhores que ele e também ao fato que ele parece desesperadamente durante toda a sua duração querer gritar com elementos utilizados como truques que está fazendo um filme de “autor” com todos os traços de “filme de autor” ao invés de apenas construir um filme pra isso. É um cinema de cartilha. De fórmula.
Por isso as obsessões e características próprias de Aster com famílias disfuncionais, traumas e o sofrimento humano parecem genéricas e um sub de outros cineastas que constroem filmes com esses mesmos elementos de forma e conteúdo de uma maneira mais orgânica ou então cineastas com quem ele tem traços similares: lembrando um Charlie Kaufman piorado, um sub Roman Polanski no seu começo nas sequências do apartamento, um sub David Lynch o tempo inteiro, um sub Lars Von Trier e por aí vai. Isso por conta de ideias visuais que apenas caem num esteticismo comum e batido, um sofrimento que soa apenas apelativo e jogado na cara, uma técnica que só parece se auto–promover ao invés de promover a experiência do filme e uma ambição que ele nunca alcança o que faz com que ele cai no que existe de mais genérico dentro de um auto–declarado “cinema de autor”.
E que parece afobado pela falta de manejo do seu cineasta de estabelecer esses traços sem cair no constrangimento e no ridículo. E quando ele abraça o ridículo e o sarro do seu humor ele acaba parecendo minuciosamente calculado. A fluidez não existe. O que deixa tudo monótono. Um personagem de si mesmo. Sobram cenas muito boas isoladamente e pontualmente como a do jovem que interpreta o Joaquin Phoenix mais novo (ótimo), o excelente momento em que a mente público e obra de arte se fundem numa apresentação se utilizando de animação, da teatralidade dos cenários do palco, das cores, da montagem e do único momento em que Joaquin Phoenix mostra o grande ator que é e a aparição de Parker Posey, um dos momentos em que o humor é genuinamente natural, mas acabam sendo só isso: momentos dentro de uma bagunça em que sinto que todo o seu brilho auto evidenciado pra si próprio é “falso”. De resto é um filme esquemático que cai nas obviedades da “maluquice” pela “maluquice” e o “malvado” por ser “malvado” que já soa em fáceis demais quando feito sem algo mais próprio para dizer e sem alguma força que se consiga manejar. Sobra uma demonstração bem superficial de um tipo de filme do que de fato um filme.