Crítica: Super Mario Bros. – O Filme
Ficha Técnica – Super Mario Bros. – O Filme
Direção: Aaron Horvath, Michael Jelenic
Roteiro: Matthew Fogel
Sinopse: Em Super Mario Bros. – O Filme, Mario (Chris Pratt) é um encanador qualquer no bairro de Brooklyn junto com seu irmão Luigi (Charlie Day). Um dia, Mario e Luigi vão para no reino dos cogumelos, governado pela Princesa Peach (Anya Taylor-Joy), mas ameaçado pelo rei dos Koopas, Bowser (Jack Black), que vai fazer de tudo para conseguir reinar todos os lugares. É então quando Luigi é raptado por Bowser e o usa para procurar Mario, o único capaz de deter o Koopa e reestabelexcer a paz. Mario terá que aprender como viver nesse novo reino perigoso, passando por vários biomas, aprender a dirigir carros, utilizar itens que o fazem soltar bolas de fogo das mãos, virar um animal e andar em plataformas nada confiáveis. Também estará acompanhados de amigos, como Toad (Keegan-Michael Key) e Donkey Kong (Seth Rogen).
Elenco de dubladores originais: Chris Pratt, Charlie Day, Anya Taylor Joy, Jack Black, Keegan-Michael Key, Seth Rogen.
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Mario, famoso personagem de video games que também serve como a cara da desenvolvedora Nintendo, teve sua primeira aparição em 1981, no jogo Donkey Kong. O encanador italiano teve seu primeiro jogo solo em 1985, no sucesso Super Mario Bros., e permaneceu com grande influência na cultura popular por pouco mais de 40 anos – aparições em jogos de video-games de todas as gerações, bonecos, roupas e até uma adaptação em live action para os cinemas, em 1993. Estrelada por Bob Hoskins como Mario e John Leguizamo como seu irmão, Luigi, a obra foi mal recebida por fãs e crítica pela forma com que recontextualizava os elementos fantásticos e coloridos dos jogos num filme sombrio e cyberpunk. Um longa interessante, mas que se perdia nas explicações que tentavam aplicar lógica realista aos elementos simples e infantis dos jogos.
Se passaram quatro décadas, mas ainda é aquele primeiro jogo de 85 que define o personagem na cultura pop. A narrativa era inovadora para a época, mas temos um sidescrolling (o primeiro do tipo) simples: ir de um canto da tela ao outro, pulando sobre a cabeça de inimigos, coletando cogumelos para resgatar a princesa Peach das garras do vilão Bowser. Mario não possuía personalidade, quereres e medos, a não ser aquela de quem o controlava fora do mundo em 8 bits no qual se passava o jogo. No entanto, o estimulo sensorial das cores, gráficos e das irresistivelmente icônicas músicas criadas pelo sound designer da Nintendo, Koji Kondo, transformavam Super Mario Bros. num clássico.
Se é possível dizer que o erro do filme de 1993 foi hiper complicar o jogo, este Super Mario Bros. – O Filme (dirigido a quatro mãos por Aaron Horvath e Michael Jelenic) acerta por abraçar aquela simplicidade narrativa. Para isso, a Nintendo entregou sua marca à Illumination Studios, empresa responsável pela franquia dos Minions, para trazer o personagem novamente as telas. Conhecida por suas produções direcionadas ao grande público sem grandes pretensões narrativas além de um entretenimento simples e pop, temos um filme que se beneficia dessa simplicidade enquanto entrega fan service para os fãs atrás de nostalgia.
Se a essência desse fan service e nostalgia pode ser ruim (algo que discorro nesse texto), temos uma adaptação que no final se sai melhor do que Sonic – O Filme ou Mortal Kombat na forma com que ela insere os easter eggs e o agrado ao fã na trama, algo que se relaciona diretamente com o fato de esta ser uma animação 3D já ambientada no universo dos jogos durante a maior parte, e não no nosso mundo real live action, como as adaptações do ouriço azul e dos lutadores sangrentos. É mais fácil incorporar Donkey Kong, os karts ou uma fantasia de gato vestida por Mario em determinado momento deste filme, quando já estamos inseridos num universo no qual noções como power ups já fazem parte da lógica vigente desse mundo sem muitas explicações.
Assim, temos uma animação focada no virtuosismo visual transposto dos bits dos jogos para a computação gráfica, que opera sempre orientada pelo espetáculo. Se no jogo existem fases – cada uma delas um mundo diferente, a mesma lógica se aplica aqui, privilegiando-se as sequências de ação com pequenos interlúdios de história contada através de diálogos no roteiro de Matthew Fogel. O filme dá pouca atenção à trama envolvendo o aprisionamento de Luigi, por exemplo. Existe uma descomplicação geral que faz bem a Super Mario Bros. – O Filme, ainda que dela venha um certo aspecto de genérico potencializado pelas escolhas pouco inspiradas de músicas presentes no filme, sempre a escolha mais óbvia. O preguiçoso e o enlatado presente nas produções da Illumination existem aqui, mas lida-se com um mundo tão estimulante visualmente como o de Super Mario, que tais escolhas não são o suficiente para estragar o filme.
Além disso, existe tempo até mesmo para um personagem que rouba o filme para si toda vez que aparece em cena: uma fofa estrela de visual e voz adoráveis que são contrapostos pelas frases sombrias e niilistas que saem da boca dela, sempre numa cadência alegre que não condiz com o que está sendo dito.
O retorno dessa estrela coadjuvante justamente antes do fim dos coloridos créditos finais denota a atenção dos realizadores deste Super Mario Bros – O Filme (dirigido por para aquilo que importa em seu filme – não o enlatado gancho para continuações num roteiro apenas correto, mas personagens criativos de um mundo que instiga e se justifica através do visual.