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Crítica: Pantera Negra: Wakanda para Sempre

Pantera Negra: Wakanda para Sempre – Ficha técnica:
Direção: Ryan Coogler
Roteiro: Ryan Coogler, Joe Robert Cole
Nacionalidade e Lançamento: Estados Unidos, 10 de novembro de 2022 (Brasil)
Sinopse: Rainha Ramonda, Shuri, M’Baku, Okoye e Dora Milaje lutam para proteger sua nação das potências mundiais intervenientes após a morte do rei T’Challa.
Elenco: Letitia Wright, Lupita Nyong’o, Danai Gurira, Angela Bassett, Winston Duke, Tenoch Huerta.

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É o início de um novo momento no MCU. E a inauguração da fase quatro, pelo menos para Pantera Negra, veio com necessidades claras que justificam, inclusive, sua duração exaustiva, porém completamente compreensível. Era preciso, primeiramente, prestar a devida (e dolorosa) homenagem a Chadwick Boseman, um grande ator e uma das figuras mais importantes e reconhecidas em filmes de super herói dos últimos anos, que se tornou um verdadeiro símbolo de representatividade para crianças e adolescentes pretos do mundo inteiro. Apenas um momento de homenagem à altura de quem foi Chadwick poderia ser o prólogo desse filme, cujo personagem se fundiu à sua imagem por muito tempo.

Posteriormente, sucedendo o ritual fúnebre repleto da dor da perda, foi preciso estabelecer novos dilemas à história. Algo que justificasse a continuação da franquia e do próprio destino do heroi dentro do MCU. Para isso, tornou-se imprescindível introduzir novos vilões e novos conflitos, os quais justificariam a necessidade do surgimento de um novo Pantera Negra, sem Chadwick. Com esse objetivo em mente, Wakanda Forever então irá focar boa parte do seu segundo ato em apresentar vários novos personagens, junto dos quais irão surgir novos conflitos. Em torno desses pontos, o roteiro é estruturado de forma bastante tradicional (três atos claros) e objetiva, possuindo um início, um meio e um fim lógicos, os quais seguem fielmente, também, o estilo de mercado do próprio estúdio.

Ou seja, mesmo para mim, que não sou uma grande fã dos filmes da Marvel e não acompanhei tudo que tem sido lançado nos últimos anos, foi fácil perceber, logo nos primeiros minutos, que Wakanda para Sempre é um filme essencialmente transicional. Não se trata de uma grande obra, é apenas mais um filme comum que funciona para os fins mercadológicos do estúdio de “preencher uma tabela” ao redor do seu universo cinematográfico próprio. Diferente do primeiro filme do herói, essa continuação perde a força não apenas pela ausência da imagem de Chadwick, mas porque não tem intenção de se destacar de fato. Está ali para cumprir um objetivo específico dentro de algo bem maior, por isso as palavras inovação e disrupção, tão presentes no primeiro, aqui se tornam desconhecidas.

A nível de exemplo, as cenas de ação quase não existem e, quando aparecem, cumprem apenas o básico “feijão com arroz”: boas o suficiente para não serem ruins, mas ruins o suficiente para não serem ótimas. Não são terríveis, mas também não vieram para agregar nada de novo – carece de emoção. Além disso, a introdução do novo vilão, Namor, apesar de teoricamente nos introduzir a um universo inteiramente novo nas profundezas do oceano, torna impossível não ter a sensação de estar diante de um novo (e inferior) mundo de “Avatar”, onde personagens azuis com uma estranhas e poderosas habilidades vivem isolados do resto do mundo.

É apenas quando decide focar em suas personagens femininas e na dramaticidade inerente ao filme e seus assuntos adjacentes, como o luto, é que Wakanda para Sempre irá ganhar força e deixa de ser, por frações de segundo, mais um lançamento genérico extremamente confundível de ao menos meia dúzia de cópias. O protagonismo de Letitia Wright, Angela Basset, Lupita N’yongo, Dominique Thorne e Danai Guirira destaca Wakanda Forever quando colocado ao lado de demais lançamentos, pois concretiza uma presença ainda maior de gênero, especificamente de mulheres pretas, dentro dos filmes do MCU.

Se no primeiro tivemos uma aula de representatividade, a qual circula os debates sobre o filme até hoje, nesta continuação temos um dos únicos que eu acredito que passaria no famoso “Teste de Bechdel”. Temos uma quantidade enorme de mulheres com tempo de tela infinitamente superior aos homens, cujos diálogos raramente possuem outros homens como pauta principal. Discute-se o destino do povo de Wakanda, a inteligência acima da média de uma adolescente brilhante e até mesmo formas de fazer nascer um novo (ou uma nova?) Pantera Negra por meio do uso da ciência avançada do seu povo.

Pontuo aqui também, embora com menor profundidade e portanto talvez, menor relevância no debate, que além do protagonismo de mulheres pretas, essa também é a primeira vez que registramos a presença de povos latinos dentro do MCU de forma onde a própria história da exploração espanhola possui destaque dentro da narrativa. Isto é, Namor é o primeiro vilão dentro desse universo cinematográfico que traz consigo referências aos Maias. O que é interessante quando percebemos essa influência nos costumes do povo Talokan, desde seus rituais até a forma como seu figurino é pensado.

Wakanda para Sempre apresenta seus inegáveis problemas como um filme de transição inserido dentro de uma lógica mercadológica, que mostra uma certa tendência à genericidade, mas também possui seus méritos no que tange à mais uma vez presente representatividade, agora de gênero e diferentes povos em sua narrativa, e na sua carga dramática inegável. Se difere dos demais, mas não o suficiente para se tornar brilhante. Digamos que, preenche os requisitos de um filme mediano, porém distante do que eu poderia considerar medíocre.

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