Crítica: O Filme da Escritora – 46ª Mostra de São Paulo
O Filme da Escritora – Ficha técnica:
Direção: Hong Sang-soo
Roteiro: Hong Sang-soo
Nacionalidade e Lançamento: Coreia do Sul, 2022 (46ª Mostra de São Paulo)
Sinopse: Uma escritora faz uma longa viagem para visitar uma livraria, administrada por uma amiga mais jovem com quem perdeu contato. Ela, então, sobe uma torre sozinha e encontra um diretor de cinema e sua esposa. Eles passeiam em um parque e conhecem uma atriz, a quem a escritora tenta convencer a fazer um filme com ela.
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Por que a arte? Por que o cinema? Por que ainda o cinema? Eis a razão sem nenhum tipo de categorização. O novo filme de Hong Sang-soo, um dos melhores cineastas vivos, segue o passeio de uma escritora (Lee Hye–young) durante um dia comum, o seu encontro com uma atriz (interpretada por Kim Min–hee) e o seu desejo de dirigir um filme que vai se revelando aos poucos. O cineasta mistura esse senso de locomoção constante que a vida tem, os seus passeios, as passagens por diferentes lugares, diferentes passeios dentro da mesma caminhada, diferentes interações, associações com diferentes pessoas e os sentimentos extraídos com uma conversa com elas com a experiência do próprio cinema.
Por que isso é tão fascinante? Tão bonito? Pensar no poder das palavras, as letras, extrair imagens para a eternidade, vivenciar elas numa tela, pensar sobre elas e tudo isso é como extrair sentimentos e sonhos que no meu de um mundo cheio de incertezas, de micro constrangimentos e invisibilidade. O cinema de Hong Sang-soo no geral é sobre esse encontro da palavra falada se transformando em palavra filmada. Em como o encontro entre artes é algo vigoroso, assim como é vigoroso o encontro entre vidas capturadas pela arte.
Esse é um filme que trata disso de maneira frontal. E aí que talvez esteja toda a beleza desse seu cinema em compreender um carinho e um afeto que ronda aqueles personagens, mesmo quando eles estão cercados por grandes tristezas e entender que a comunicação pela arte ajuda a estabelecer ainda mais esses gestos de afeto. O destino é casual, a arte é algo deliciosamente comum, mas especial, algo que está dentro da própria vida absolutamente cotidiana.
E Hong faz isso pelo seu próprio cinema nos seus zooms, na mudança de cor, nos planos longos, nos ambientes abertos que percorre, na câmera grudada nos rostos, na criação gradual de intimidade entre os seus personagens sentido lentamente, na confusão de sentimentos e constrangimentos que tomam as conversas, a simplicidade quase que suave serve para materializar sentimentos de percepções muito belas durante o processo de imaginário artístico, teoria artística e realização com as palavras ou com uma câmera. E ambos também. Tudo isso acaba criando um lanço sobre o sentimento interno que aqueles personagens vivenciam e que é saltado pra fora por encontros, palavras e o ato de fazer arte. Só o rosto de Kim Min–hee já acaba revelando toda essa dimensão de grandiosidade possível na simplicidade fantástica desse espetáculo da vida e a arte. Entre querer e fazer.