Crítica: Quebrando Mitos
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Crítica: Quebrando Mitos

Quebrando Mitos, de Fernando Grostein Andrade, está disponível no site quebrandomitos.com.br

Ficha técnica:
Direção: Fernando Grostein Andrade, Fernando Siqueira
Roteiro:  Fernando Grostein Andrade, Carol Pires e Joaquim Salles
Nacionalidade e Lançamento: Brasil, Estados Unidos, 16 de setembro de 2022 (online)
Sinopse: “Quebrando mitos” revela a masculinidade catastrófica e frágil de Jair Bolsonaro sob o ponto de vista de um casal LGBT – o cineasta Fernando Grostein Andrade (“Quebrando o Tabu”, Coração Vagabundo”, “Abe”) e o ator e cantor Fernando Siqueira. Depois de ameaças anônimas por conta de críticas de Andrade à homofobia de Bolsonaro, o casal parte para a California e decide fazer um documentário que mistura biografias com a resistência ao fascismo no Brasil.

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É quase impossível assistir ao documentário “Quebrando Mitos” e não pensar em “Democracia em Vertigem”. Fernando Grostein Andrade e Petra Costa dividem muitas coisas em comum: a origem privilegiada, a visão política progressista e a busca por descontruir e desvendar o processo que trouxe o Brasil ao governo Bolsonaro e seus desdobramentos.

Mais do que repetir o verbo de “Quebrando o Tabu”, documentário que o diretor lançou em 2011 (e que mantém perfis atuantes nas redes sociais até hoje), o novo filme busca fazer uma análise do atual presidente do Brasil (candidato à reeleição) com base na masculinidade tóxica. Para isso, Fernando resgata sua própria história pessoal, sua infância e como foi o entendimento de sua homossexualidade.

“Quebrando Mitos” mantém a temática sempre ao redor dos assuntos tratados: mesmo quando a narrativa trafega pela questão dos povos indígenas no Brasil, ou da guerra às drogas e das milícias, o olhar sobre a “cultura do macho” segue sempre pairando no ar, mesmo nas divagações – ainda que elas sejam muitas e se revelem na quantidade de entrevistados, que vão de anônimos ao general Santos Cruz, passando pela líder indígena Sônia Guajajara e cenas de arquivo do então jovem deputado Jair Bolsonaro.

Fernando Grostein Andrade é menos poético que Petra Costa – já que estamos fazendo esse paralelo. O diretor narra com certa frieza (quiçá uma tentativa de displicência) a sua vida e suas reflexões sobre o mito da masculinidade tóxica na cultura que formou Bolsonaro. É como se ele não quisesse chamar atenção para si, ainda que todo o documentário seja baseado na visão pessoal de Fernando – e é isso que enriquece a obra evita que ela se torne uma grande reportagem com “talking heads”.

Em tempos de eleições decisivas para o futuro do Brasil, o documentário é dessas obras que contribuem para a luta daqueles que compreendem Bolsonaro como uma ameaça à democracia. Resta saber se será visto por eleitores indecisos ou bolsonaristas. A rapidez da edição final permite uma atualidade fundamental para o seu lançamento, já que o doc conta com as cenas da leitura da Carta às Brasileiras e aos Brasileiros na Faculdade de Direito da USP (ocorrida em agosto) e a patética cena do último 7 de setembro, em que o representante do Estado brasileiro entoa a palavra “imbrochável” aos seus seguidores.

“Quebrando Mitos” é um documentário que sabe bem o seu lugar: o lançamento online faz com que ele seja mais uma peça de extensão do debate político do que uma obra com potencial de exibição em festivais. O discurso do cineasta permite a conexão do espectador, especialmente quando ele relata questões que envolvem sua saúde mental.

Em um futuro não muito distante, o documentário poderá se juntar a todos os outros que refletem e refletirão sobre o momento histórico que o Brasil vive hoje. Quem sabe um dia essas reflexões nos permitirão curar as feridas que hoje, abertas, tanto fazem nosso país sangrar.

  • Nota
3

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