Crítica: Agente Oculto
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Crítica: Agente Oculto

Agente Oculto

Direção: Joe Russo, Anthony Russo
Roteiro: Joe Russo, Christopher Markus, Stephen McFeely
Elenco: Ryan Gosling, Chris Evans, Ana de Armas, Billy Bob Thornton, Jessica Henwick, Dhanush, Alfre Woodard, Regé-Jean Page, Wagner Moura, Julia Butters
Sinopse: Um agente oculto da CIA descobre segredos comprometedores da agência e é caçado mundo afora por um dissidente sociopata que coloca sua cabeça a prêmio.

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O protagonista de Agente Oculto, mais nova aposta na Netflix no cinema de ação, é construído com características de alguns dos agentes secretos e figuras de ação – também no aspecto “boneco invencível”-  de maior relevância dos últimos anos, do passado secreto de Jason Bourne, passando pelo codinome númerico de james Bond -aqui Sierra Six  -, até a mística atrelada ao seu nome, tal qual um infalível e imparável John Wick.

Não é apenas na construção de Six (Ryan Gosling) que o filme de Joe e Anthony Russo – dupla responsável pelos maiores sucessos da Marvel, como Vingadores Ultimato – pega as referências emprestadas, mas na construção de seu todo. As sequências de ação vistas aqui parecem cada uma saídas de projetos de ação diferentes, como se os diretores procurassem atingir cada nicho de seu público e do algoritmo. O motivo dessa sensação ocorrer não é exatamente o roteiro de Joe Russo, Christopher Markus e Stephen McFeely (os dois últimos colaboradores habituais dos Russo), que coloca Six em uma variedade de situações e set-pieces que viajam o globo – algo comum no cinema de espionagem e ação, mas sim por conta de como as cenas em si são filmadas: uma cena envolvendo uma queda em ar livre após a explosão de um avião é filmada como a cutscene de um videogame, não só pela fotografia de ângulos impossíveis – na câmera  que viaja em plano sequência pela situação fantasiosa, mas também pela péssima computação gráfica, que mais parece uma pré-visualização esperando para ser renderizada do que o produto final; em outra hora, temos uma abordagem de câmera na mão com proximidade da ação e cortes rápidos que lembra os filmes da série Bourne; em outros momentos, sequências de ação são filmadas com drones que procuram causar um sentimento de contemplação misturada com vertigem e mais servem para confundir.

Se cada uma dessas abordagens poderia representar algum tipo de exercício de estilo ou reverência por parte dos irmãos Russo, essa impressão não é sentida justamente pela ineficácia da maioria de tais abordagens, algo que se evidencia na montagem. O problema não se encontra apenas e exatamente nos cortes rápidos, mas sim no arranjo dos planos que não consegue atribuir um ritmo para a cena. Um exemplo disso é o grande set-piece que ocorre pela metade do filme, no qual, após uma ambiciosa cena que termina no descarrilamento de um trem, vemos um plano aberto de toda a destruição causada, culminando numa expressão cômica de Gosling. Devido a confusão espacial causada, não sentimos o impacto da destruição – a computação gráfica precária não ajuda -, nem mesmo a punchline do momento cômico.

Existe uma falta de lógica narrativa e coesão nas escolhas dos irmãos Russo até mesmo naquelas escolhas que se revelam constantes ao decorrer do filme, como a insistência dos diretores nas filmagens através de drones em movimentos rápidos e particulares – frequentemente em planos gerais que estabelecem onde a ação ocorre, mas também no meio de algumas sequências de ação, algo que não possui função alguma na narrativa, não atestam algo, não funcionam nem como floreios de estilo ou marca própria – inclusive frequentemente quebrando o ritmo da ação que ocorre em cena.

Agente Oculto pega para si, também, uma característica que assola alguns dos maiores agentes secretos do cinema: a busca por identidade. Se em alguns destes filmes essa busca era um elemento trabalhado na narrativa para a construção do drama de seus assombrados protagonistas, no mais novo filme da Netflix isso é um sintoma do projeto, que se dissemina para o protagonista Six. Sempre eficaz em construir tipos silenciosos e transmitir emoções sutis através de uma postura contida, Ryan Gosling parece aqui preso num personagem desinteressante. Definidos muitas vezes por suas atitudes através de grandes sequências de ação que revelam muito sobre seus personagens, tipos como Ethan Hunt transcendem o aspecto “boneco de ação”. Entre as cenas de ação deficientes e engessadas de Agente Oculto, pouco há no texto que torne o personagem de Gosling cativante, pouco há nos coadjuvantes (Ana de Armas, Billy Bob Thornton, Julia Butters) que auxilie essa construção. Assim, ele não funciona nem como pessoa, e nem como boneco de ação.

Chris Evans se diverte como o vilão – que já esqueci o nome – justamente por saber que é um vilão, mas falta talvez humor ou autoconsciência num filme que não sabe o que pretende ser para que a performance funcione. Nessa noção do personagem que possui consciência do que representa para a história, poderia ser até interessante que Six possua uma tatuagem do nome de Sísifo – condenado na mitologia grega a carregar uma grande rocha morro acima, apenas para vê-la cair ao atingir o topo, tendo que carregá-la novamente pela eternidade. A tatuagem que poderia ser interessante aqui se torna verborrágica, e o motivo desse interesse se deve mais a uma noção do arquétipo, que serviria mais para um Ethan Hunt de Tom Cruise ou um John Wick de Keanu Reeves. Ao Sierra Six de Ryan Gosling, fica apenas a saudade dos agentes secretos que o inspiraram, com seus filmes mais interessantes que, bons ou ruins, pouco sofreram do sintoma de serem medíocres.

  • Nota
2.5

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