Crítica: Jurassic World: Domínio
Jurassic World: Domínio
Direção: Colin Trevorrow
Roteiro: Colin Trevorrow, Emily Carmichael
Elenco: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Laura Dern, Sam Neill, Jeff Goldblum, DeWanda Wise, Mamoudou Athie, Isabella Sermon, Campbell Scott, BD Wong
Sinopse: Em Jurassic World Domínio, sequência direta do longa de 2018, – Jurassic World: Reino Ameaçado – quatro anos após a destruição da Ilha Nublar, os dinossauros agora vivem – e caçam – ao lado de humanos em todo o mundo. Contudo, nem todos répteis consegue viver em harmonia com a espécie humana, trazendo problemas graves. Esse frágil equilíbrio remodelará o futuro e determinará, de uma vez por todas, se os seres humanos continuarão sendo os principais predadores em um planeta que agora compartilham com as criaturas mais temíveis da história em uma nova era. Os ex-funcionários do parque dos dinossauros, Claire (Bryce Dallas Howard) e Owen (Chris Pratt) se envolvem nessa problemática e buscam uma solução, contando com a ajuda dos cientistas experientes em dinossauros, que retornam dos filmes antecessores.
.
A franquia Jurassic Park cada vez mais parece presa em um ciclo de repetição/reinvenção que não alcança sucesso nem de um lado, nem do outro. Isso pode ser atribuído a excelência do primeiro filme de 1993, dirigido por Steven Spielberg, e um impacto cultural que levou até mesmo o cineasta e o escritor do livro original, Michael Crichton, a quebrarem a cabeça no desenvolvimento da inevitável sequência – O Mundo Perdido, um filme que procurava conciliar a necessidade de produzir algo novo enquanto tentava replicar a magia do original. Essa eterna tentativa de correção de curso que nunca conseguiu replicar o encantamento spielbergiano pelo desconhecido, e nem mesmo seguir novos caminhos, é sentida em todas as sequências da franquia, incluindo o reboot Jurassic World – quase um remake do filme original – e a sequência Reino Ameaçado, na qual J.A. Bayona procurava seguir um caminho diferente de forma desengonçada (clones humanos que nenhum impacto possuíam na trama ou no universo).
Quando “Jurassic World: Domínio” – o pior filme da franquia – chega ao fim, a sensação de reciclagem e exaustão chega ao ponto do constrangimento. A repetição da música tema do clássico original esteve presente nos filmes consequentes da franquia sempre com a sensação de derivação, tentando replicar o icônico momento onde víamos as criaturas pela primeira vez. Para o olhar desimpressionado de uma geração acostumada com as possibilidades que a computação gráfica traz, é sintomático que aqui o tema orquestrado entre em cena não numa deslumbrante visão dos dinossauros, e sim nas reapresentações/reuniões do elenco original (Sam Neill, Laura Dern, Jeff Goldblum). Quando a crença no fantástico é nula, só resta a nostalgia e o caminho mais fácil das piadas metalinguísticas sobre memes de Goldblum com a camisa desabotoada.
Talvez a impressão de desinteresse coletivo pela fantasia seja apenas um reflexo do desinteresse do diretor Colin Trevorrow e da roteirista Emily Carmichael, que, sem criatividade, reciclam elementos dos filmes anteriores de forma burocrática. De quantas formas consegue-se recriar situações de suspense ou perseguições com criaturas com inventividade no sexto capítulo? Assim, não nos importamos com os personagens ou seus destinos porque os realizadores também não se importam, na falta de imaginação que traz de volta as grandes corporações como um vilão abstrato, representado na figura “estilo Steve Jobs” igualmente esquecível.
Assim, “Jurassic World: Domínio” encara até mesmo os dinossauros com desinteresse, ignorando quase que imediatamente o gancho do filme anterior e trazendo uma trama que gira em torno de gafanhotos pré-históricos modificados geneticamente, e que representam uma ameaça por serem pragas e dizimarem plantações e recursos naturais. Eventualmente até mesmo esse elemento parece esquecido, num filme centrado mais nas burocráticas sequências de ação que separam o núcleo do elenco antigo com o da trilogia recente (Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Isabella Sermon) para juntá-los ao final, na esperança de que esse encontro empolgue por si só, o que não acontece. A dinâmica de Sam Neill com Dern, a presença das crianças e o alívio cômico de Goldblum eram elementos fortes do filme original, mas o filme os trata como ícones culturais à la Han Solo ou Leia Organa. Quando o primeiro Jurassic World já repete essas configurações, o que resta para Domínio? Assim, quando o grupo principal se depara, no clímax final, com o T-Rex e outro dinossauro modificado geneticamente (mais uma reciclagem de um filme anterior) prestes a ingressarem num combate, o Ian Malcolm de Goldblum retira a si e os outros humanos do caminho e diz, como se piscasse pra audiência, que “isso não é sobre nós”, como se soubesse que o público só quer assistir a esse embate de criaturas. Se isso é verdade, por que “Jurassic World: Domínio” devota a maior parte de sua projeção ao fan service burocrático, núcleos humanos desinteressantes e dramas artificiais?