Crítica: A Família Addams 2: Pé na Estrada
A Família Addams 2: Pé na Estrada – Ficha técnica:
Direção: Greg Tiernan, Conrad Vernon, Laura Brousseau
Roteiro: Dan Hernandez, Benji Samit, Ben Queen, Susanna Fogel
Nacionalidade e Lançamento: Estados Unidos, 2021
Sinopse: Pertubardos que seus filhos estão crescendo rápido, Morticia (Charlize Theron) e Gomez (Oscar Isaac) decidem colocar a família inteira no trailer assustador para uma miserável viajem de férias.
Elenco: Oscar Isaac, Charlize Theron, Chloë Grace Moretz.
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Criada por Charles Addams em 1930, a Família Addams nasceu nas tiras de quadrinhos e ao longo das décadas recebeu adaptações para a televisão e para o cinema. A mórbida família é composta por Gomez e Mortícia, seus filhos Wandinha e Feioso, Tio Fester, o mordomo Tropeço, o primo Itt, Vovó Addams e, é claro, a decepada Mãozinha. A família Addams nasceu como uma sátira da família tradicional americana, e a natureza macabra de seus integrantes, assim como a bizarra dinâmica dessa família, nunca nos impediu perceber o amor que os integrantes dela nutriam um pelo outro. Os Addams são figuras de tradição bizarra, que não se encaixam na sociedade, mas que se tornam – através da sátira – mais humanos e normais que a sociedade ao seu redor, por vezes mais perturbadora nessa normalidade disfarçada da “família tradicional”.
Talvez os famosos filmes dirigidos por Barry Sonnenfeld sejam aqueles que melhor conseguiram traduzir as estranhezas da família. Isso se deve muito, é claro, ao próprio comando do diretor da trilogia Homens de Preto, que prezava pela estranheza – seja no design de produção, roteiro, ou o senso humor bizarro tão característico do cineasta. Os Addams são personagens engraçados e adoráveis, mas é nos contrapontos com o mundo “normal” de fora que eles brilham de verdade. Na direção excêntrica e bizarra de Levinson, era como se a família se apossasse do filme, e, sob o olhar deles, víssemos o mundo de fora – o que o tornava mais bizarro.
Assim, é notável como este A Família Addams 2: Pé na Estrada representa o oposto: a estranheza dos Addams permanece – e quando pode ser realmente estranha, é cativante – mas está inserida num filme que não poderia ser mais… comum. As músicas pop do momento e participações de celebridades (que estão presentes apenas por serem celebridades) já incomodam normalmente em animações de bichinhos fofos genéricos (Illumination, o estúdio responsável – melhor: culpado – pelos Minions deve ser o maior representante atual desse tipo de animação sem vida), mas com A Família Addams, pela própria natureza “anti-normie” da mesma, isso é sentido numa intensidade ainda maior.
O desenrolar do próprio enredo entrega as intenções da animação. Gomez (voz de Oscar Isaac no original) e Mortícia (Charlize Theron) decidem viajar em família para se reconectar com Wandinha (Chloë Grace Moretz), que está distante da família. Eles acabam cruzando parte dos EUA, visitando lugares tropicais, populares e até mesmo concursos de misses mirins (quer algo mais estereotipicamente americano do que isso?). Seria o melhor cenário para trabalhar as diferenças dos Addams diante do imaginário popular do que constitui as atrações turísticas do “american way of life”. Obviamente não se exige uma análise política e social elaborada disso, apenas gags engraçadas envolvendo a estranha família e como se relacionam com o mundo ao redor.
Quando o filme se concentra nessas (poucas) gags – que brilham, principalmente, nas interações de Wandinha com Feioso – se vê um pouco de vida. A animação é competente e o design dos personagens que integram a família é fiel ao material de origem, possuindo personalidade e divertindo nos absurdos. Mas o potencial que viria desse enredo é desperdiçado. Ao invés de tornar a família mais única com a escolha das ambientações, o trio de diretores – Greg Tiernan, Conrad Vernon e Laura Brousseau – faz justamente o contrário: A Família Addams nunca pareceu tão genérica.
Os produtores devem ter consciência dessa estranheza – aquilo que caracteriza e diferencia a franquia. Portanto, provavelmente com fins mercadológicos, o que se tem é a inclusão de músicas pop entre, durante e após cada sequência. A condução das viradas de roteiro é burocrática – o que não seria um problema. Mas A Família Addams 2: Pé na Estrada, é um filme que pega seus personagens tão marcantes e diferentes e os traz à mediocridade de uma animação que parece feita apenas por fins mercadológicos, que se eleva quando se atém aos carismáticos personagens, mas que se enfraquece grandemente pela intenção de seus realizadores em fazer a animação mais comum e genérica possível, em busca de sucesso comercial. Aparentemente, a Família Addams consegue vencer todas as normas da sociedade, menos o capitalismo. Isso sim é verdadeiramente macabro.