Crítica: Convidado de Honra
Convidado de Honra deve ter sido um bom filme em algum momento de sua elaboração.
Ficha técnica:
Direção: Atom Egoyan
Roteiro: Atom Egoyan
Nacionalidade e Lançamento: Canadá, 2019
Sinopse: Jim (David Thewlis) é um inspetor de alimentos que está tentando tirar da cadeia sua filha Veronica (Laysla de Oliveira), depois de ela ser acusada injustamente de assédio sexual. Quando Veronica decide que não quer sair da prisão, a relação entre pai e filha fica ainda mais complicada.
Elenco: David Thewlis, Laysla de Oliveira, Luke Wilson, Rossif Sutherland.
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Convidado de Honra foi exibido no Festival de Veneza em 2019 e agora é lançado nas plataformas digitais, incluindo o Amazon Prime Video. Há muitos filmes que demoram a ser lançados injustamente, mas não creio ser o caso deste.
O personagem de David Thewlis é um fiscal de restaurantes com o poder ditatorial de fechar estabelecimentos imediatamente. Sua filha é professora de música e rege seus alunos com uma sensualidade exagerada, mas foi presa e seu “crime” nos será revelado ao longo da trama, assim como o que levou seu pai à morte.
“Convidado de Honra” ocorre em três camadas temporais, mas sua tentativa de complexidade apenas contribui para o desastre que é a sucessão de situações sem propósito do filme de Atom Egoyan. O filme pode gerar interesse no espectador em seus primeiros minutos ao criar elementos de mistério, mas esse mistério se esvai assim que a história toma contornos rocambolescos e forçadamente melodramáticos.
“Convidado de Honra” até esboça alguns elementos que poderiam funcionar: o protagonista abusa de seus “pequenos poderes” para conseguir o que quer, é enganado por imigrantes donos de um restaurante (aliás, todos os restaurantes são de imigrantes), e enquanto isso sua filha é presa injustamente por falsas acusações de ter abusado de um aluno.
Quando tudo isso é colocado na balança, temos uma salada desconexa de fatos digna de uma novela mexicana dos anos 80. O padre vivido por Luke Wilson diz logo no começo que não conhecia o pai de Veronica, para no final “revelar a verdade” sobre ele, em uma situação que serve apenas para criar um mistério absurdo. A descoberta do motivo pelo qual Veronica quis permanecer presa é tão inverossímil que nem mesmo a culpa católica explicaria (se ela se sente responsável pela morte de uma pessoa, por que não confessar, em vez de aceitar uma acusação “injusta”?).
Vale citar, também, que a grande “revelação” do filme acerca do passado que envolve a esposa de Jim e a professora de piano torna tudo tão bizarro quanto risível. Além disso, a situação que leva Veronica à cadeia é simplesmente tão estúpida que nem mesmo Michael Scott seria capaz de vivenciar na série “The Office”.
“Convidado de Honra” tem tantos elementos em meio a uma trama tão bagunçada, que fica difícil tentar entender um porquê às escolhas do diretor e roteirista. O objetivo do filme é tratar da relação entre um pai e uma filha? É falar sobre perdas e culpas do passado?
Não importa. Tudo isso se esvai diante da sequência de fatos e da tentativa desnecessária de criar mistério. E até agora estou tentando entender o que faz a situação que leva ao título do filme ter alguma importância.