Crítica: No Ritmo do Coração
No Ritmo do Coração é aquele filme que vale a pena pela emoção que causa.
Ficha técnica:
Direção: Sian Heder
Roteiro: Sian Heder (história de Victoria Bedos e Stanislas Carré de Malberg)
Nacionalidade e Lançamento: Estados Unidos, 29 de Janeiro de 2021 (Sundance)
Sinopse: Ruby é a única pessoa ouvinte em sua família surda. Quando o negócio de pesca da família é ameaçado, Ruby fica dividida entre o amor pela música e o medo de abandonar seus pais.
Elenco: Emilia Jones, Marlee Matlin, Troy Kotsur, Daniel Durant, Ferdia Walsh-Peelo.
O momento em que Ruby tenta explicar ao professor seus sentimentos ao cantar é seguramente um dos mais belos de “No Ritmo do Coração”, longa que adapta o roteiro do original “A Família Bélier” e foi comentado durante a cobertura do Festival de Sundance.
Na cena, a garota não emite nenhum som. Única ouvinte de uma família de surdos, Ruby consegue expressar melhor seus sentimentos por meio da língua de sinais. A cena é também significativa, já que o filme ganha sempre que aposta na ausência de sons – e de verborragia.
Na relação com os pais, Ruby está sempre conversando, mas é no abraço em sua mãe e no toque de seu pai no pescoço (para “ouvi-la” cantar) que o filme nos conquista. Na relação com a amiga há diálogos espirituosos, mas é no olhar dela na plateia que sentimos a amizade verdadeira. Na relação com Miles (Ferdia Walsh-Peelo, de Sing Street), que requer diálogos expositivos para entendermos sua situação, os momentos mais belos ocorrem ao som da música que os personagens entoam.
“No Ritmo do Coração” carrega um tom leve e edificante que traz consigo elementos já vistos em diversos outros filmes em sua narrativa: o professor durão e exigente, a família superprotetora que “poda” os sonhos da filha, além da paixão adolescente. A temática, é claro, torna tudo mais emocionante: Ruby é uma CODA (Child of Deaf Adults: filha de pais surdos), termo que intitula o filme no original. Em função disso, a adolescente é a intérprete dos pais e do irmão com a sociedade.
A presença de atores surdos no papel dos personagens surdos é outro fator que, além de ser inclusivo, garante a verossimilhança necessária para a emoção dos personagens, o que é fundamental para a filmagem naturalista e direta de Sian Heder, diretora em seu segundo longa, após “Tallulah”.
Não é paradoxal, portanto, que os momentos mais poderosos de “No Ritmo do Coração” sejam silenciosos. O mais icônico deles é durante a apresentação musical de Ruby, quando a câmera nos coloca pela primeira vez no lugar de sua família, que percebe o quanto as pessoas presentes no local estão emocionadas. É o momento em que os pais não apenas compreendem o talento da filha (por meio dos outros), como também se dão conta de que a vida dela vai além do universo familiar.
O que “No Ritmo do Coração” faz é, portanto, utilizar-se de uma narrativa segura e tradicional para ser didática e verborrágica, de forma a fortalecer os momentos de silêncio, sendo estes os de maior destaque.
Filme visto na cabine de imprensa do Topázio Cinemas.