“Edifício Gagarine” estreia hoje nos cinemas
O enorme conjunto habitacional de tijolos vermelhos Cité Gagarine, com 370 apartamentos, construído nos anos 60 em Ivry-sur-Seine, nos arredores de Paris é o cenário do filme “Edifício Gagarine”, de Fanny Liatard e Jérémy Trouilh, que estreia hoje nos cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília, Salvador, Belo Horizonte, Palmas, Manaus, Curitiba e Florianópolis, com distribuição da Vitrine Filmes. O longa conta a história de Youri, um adolescente de 16 anos nascido e criado no prédio, que se une aos amigos Diana e Houssan para tentar salvá-lo da demolição. Com o sonho de se tornar um astronauta, é no Gagarine que Youri chega mais perto de realizá-lo, transformando-o em sua “nave espacial”.
O edifício recebeu esse nome em homenagem ao primeiro homem no espaço, o russo Yuri Gagarin, que esteve na inauguração do conjunto em 1963. Na época, edifícios altos estavam sendo erguidos para “limpar” as favelas da periferia da capital francesa. Com o passar dos anos, essas “utopias coletivas” se tornaram bairros frequentemente estigmatizados e marcados por uma renovação urbana. Em 2014, foi tomada a decisão de demolir Cité Gagarine, e os habitantes foram gradualmente realocados. As famílias partiram, levando consigo suas histórias de vida, de trabalho, de migração, esperança e decepção. Em 31 de agosto de 2019, as máquinas de demolição entraram no local, sob o olhar atento dos ex-moradores.
Os diretores do filme “Edifício Gagarine” contam um pouco sobre a experiência de fazer o filme. “Em nossas mentes, Youri, o adolescente, e Gagarine, o prédio, estão em um diálogo ininterrupto um com o outro. Quando pensamos em Youri, imaginamos seus pais se mudando para o conjunto habitacional antes de seu nascimento e sendo inspirados a lhe dar o nome do lugar. Youri foi criado lá e desenvolveu uma imaginação igual a do enorme arranha-céus. A perspectiva de seu desaparecimento significa, para ele, a morte de seus sonhos e memórias de infância. Também significa perder sua amada comunidade. Queríamos dar uma visão positiva de um lugar e uma geração que costumam ser caricaturados. Youri ama sua vizinhança. Para ele, o Gagarine não é uma utopia ultrapassada, é o seu presente e o solo do seu futuro. Sair significa perder tudo: abandonar sua família e seu mundo imaginário. Então ele assume a resistência”.
A dupla conta ainda como a ideia de “Edifício Gagarine” surgiu em meio a uma experiência real. “Alguns amigos arquitetos foram contratados para estudar a possível demolição de Gagarine. Eles nos pediram para gravar depoimentos de alguns moradores. Fomos imediatamente atraídos pelo lugar e pelas pessoas. Desde a nossa primeira visita, pensamos em fazer um filme, nunca tínhamos feito ficção, mas era evidente que era por aí que tínhamos de começar”, contam.
Exibido em mais de 25 festivais pelo mundo, entre eles o Festival de Cannes 2020 (seleção oficial), “Edifício Gagarine” vai além de um obra cinematográfica, segundo os diretores. Para eles, o longa virou um registro eterno de algo que não existe mais. “O filme também é uma ferramenta de lembrança, testemunhando a arquitetura do período, e principalmente para as pessoas que deram vida ao local. Eles estão em toda parte no filme – em arquivos visuais e de som, na tela e atrás da câmera. Tentamos mostrar que o prédio é importante, mas no final o que resta são as pessoas. A relação com o lugar perdura, aconteça o que acontecer. Isso é o que tentamos capturar e transmitir. Segurando um espelho que reflete a beleza e complexidade dessas vidas”, concluem.