Roberto Benigni será homenageado no 78º Festival de Veneza
Cineasta italiano ganhador do Oscar por A Vida é Bela ganhará o Golden Lion for Lifetime Achievement pelo conjunto de sua obra
Quem foi criança na década de 1990, em especial 1999, e é brasileiro tinha ódio de duas coisas França e Zidane no futebol, e de Roberto Benigni e A Vida é Bela no cinema. Isso porque foi graças a esses dois conjuntos, que nós crianças na época, descobrimos que nem tudo é como queremos. Mas vamos deixar o futebol de lado, afinal aqui é um site de cinema, e vamos falar da segunda dupla: Roberto Benigni e A Vida é Bela.
Naquele fatídico 1999, mais precisamente no dia 21 de março, nossos sonhos de termos uma estatueta dourada se esvaiu na cerimônia do Oscar. O Brasil parou para torcer por Fernanda Montenegro e Central do Brasil. Mas eis que Sophia Loren sobe ao palco e ao anunciar o ganhador de Melhor Filme Internacional grita “Roberto!!!”, naquele instante nossos sonhos e corações foram despedaçados. E com isso criou-se em todos nós um ódio absurdo contra Roberto e A Vida é Bela. Isso criou uma repulsa, um preconceito contra o diretor e o seu filme. Mas tudo passa, feridas são fechadas e cicatrizadas, nós crescemos e passamos a entender melhor tudo ao nosso redor. E o ódio se esvai, menos o ódio contra Gwyneth Paltrow e Shakespeare Apixonado. E hoje por mais que doa saber que Central do Brasil tenha perdido o Oscar, dói menos saber que esse Oscar foi para A Vida é Bela, que é um filme tão lindo quanto o nosso. Inclusive, se por raiva você não assistiu ainda, assista vale muito a pena.
Mas nem só de A Vida é Bela vive Roberto Benigni. O ator, diretor e roteirista começou sua carreira na TV, na minissérie Sorelle Materassi, como “um jovem”. Seu primeiro papel de destaque veio em 1976 na minissérie Onda libera, baseado na peça Cioni Mario di Gaspare fu Giulia. Na minissérie Roberto viveu Mario Cioni, papel que repetiu em sua estreia no cinema no filme Berlinguer, ti voglio bene, filme de ficção de estreia do diretor Giuseppe Bertolucci. A estreia de Roberto no cinema como diretor veio em 1983 com o filme Tu Mi Turbi. Escrito pelo próprio diretor junto com Giuseppe Bertolucci, o filme é o primeiro filme de Roberto Benigni com Nicoletta Braschi, presença certa em todos os seus filme e com quem ele se casou em 1991.
Embora tenha se tornado muito popular em seu país de origem, sendo indicado e ganhando alguns prêmios de cinema, a fama internacional veio só em 1998 com A Vida é Bela. O filme foi um grande sucesso internacional faturando 72 prêmios mundo a fora, entre eles a Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes e 3 Oscars, Melhor Ator, Melhor Trilha Sonora Dramática e Melhor Filme Internacional, em cima de Central do Brasil, mas um detalhe interessante Central do Brasil ganhou o Bafta de Melhor Filme Internacional em cima de A Vida é Bela.
Após o fenômeno A Vida é Bela, Roberto Benigni teve pouco destaque no cinema, se dedicando principlamente ao Teatro e a TV Italiana. Sua última direção foi no subestimado O Tigre e a Neve, em que ele também atuou ao lado de sua esposa Nicoletta Braschi. Apenas como ator no cinema, Roberto apareceu em um dos segmentos de Para Roma Com Amor, de Woody Allen, e como Gepetto, em Pinóquio, de Matteo Garrone, em uma atuação muito elogiada que lhe rendeu dois prêmios de Melhor Ator Coadjuvante em premiações do cinema italiano.
Com esse currículo e grande popularidade no cinema italiano, Alberto Barbera, diretor do Festival de Veneza, indicou o nome de Roberto Benigni para o Golden Lion for Lifetime Achievement, prêmio que homenageia grandes nomes do cinema pela sua carreira e sua obra no cinema. A direção geral do Festival acolheu essa indicação, e no 78º Festival de Cinema de Veneza Roberto Benigni receberá o prêmio pelo conjunto de sua obra.
Sobre a indicação de Roberto, Alberto Barbera disse:
Desde sua estreia, marcada por sua abordagem inovadora e irreverente das regras e tradições, Roberto Benigni destaca-se no panorama das artes performativas italianas como uma referência inédita e inigualável. Fazendo malabarismos com suas aparições em palcos teatrais, sets de filmagem e estúdios de televisão, cada vez com resultados surpreendentes, ele brilha em todos eles graças à sua exuberância e impetuosidade, seu jeito generoso com o público e a alegria apaixonada que talvez seja o mais original marca registrada de sua obra. Com um ecletismo admirável e sempre fiel à forma, ele é um dos atores de comédia mais extraordinários em uma galeria reconhecidamente rica de performers italianos; um diretor memorável que faz filmes extremamente populares; e, sua mais recente transformação, um dos mais conceituados intérpretes e divulgadores da Divina Comédia de Dante. Poucos artistas igualaram sua capacidade de combinar um timing cômico explosivo, que muitas vezes é acompanhado por uma sátira irreverente, com seu admirável talento como ator – a serviço de grandes diretores como Federico Fellini, Matteo Garrone e Jim Jarmusch – e como um envolvente e interprete literário sofisticado.
Alberto Barbera, Diretor do Festival de Veneza
Ao saber que receberá o prêmio Roberto Beningni declarou:
Meu coração está cheio de alegria e gratidão. É uma imensa honra receber um reconhecimento tão importante do meu trabalho no Festival Internacional de Cinema de Veneza.
Roberto Benigni
O Golden Lion for Lifetime Achievement é entregue desde 1969, o primeiro a receber foi o cineasta Luis Buñuel. O prêmio foi entregue pelos prôximos 3 anos, e houve uma pausa, e voltou a ser entregue em 1982 quando homenageou 12 personalidades do cinema entre elas Akira Kurosawa, Frank Capra, Jean-Luc Godard, Frank Capra e George Cukor. Dois anos depois, em 1984, o prêmio não foi entregue, mas apartir de 1985, quando o mestre Frederico Fellini foi premiado, o prêmio nunca mais parou de ser entregue. E desde então tivemos nomes do cinema italiano e mundial sendo premiados. Entre os que receberam o Golden Lion for Lifetime Achievement estão: Tilda Swinton, Julie Andrews, Pedro Amodóvar, David Cronenberg, Vanessa Redgrave, Jane Fonda, Robert Redford, William Friedkin, John Woo, Tim Burton, David Lynch, Hayao Miyazaki, Dino De Laurentiis, Omar Sharif, Clint Eastwood, Jerry Lewis, Sophia Loren, Warren Beaty, Gérard Depardieu, Stanley Kubrick, Dustin Hoffman, Robert Altman, Ennio Morricone, Martin Scorsese, Woody Allen, Al Pacino, Claudia Cardinale, Robert De Niro, Roman Polanski, Steven Spielberg, Francis Ford Coppola, Jeanne Moreau, Marcello Mastroianni, Joseph L. Mankiewicz, Michelangelo Antonioni, Charles Chaplin, Billy Wilder, Ingmar Bergman, John Ford e Orson Welles. Agora Roberto Benigni será também agraciado com o prêmio e ficará eternizado no Festival de Cinema de Veneza!
Será que veremos cenas como as que vimos quando ele ganhou o Oscar em 1999? Espero que sim!!
O 78º Festival de Veneza vai ocorrer entre 1º e 11 de setembro de 2021.