Crítica: Cidade Invisível (1ª temporada)
Cidade Invisível tem o importante propósito de (re)apresentar personagens do folclore ao grande público, e passa de ano.
Ficha técnica:
Direção: Luis Carone, Júlia Pacheco Jordão
História original: Raphael Draccon, Carolina Munhóz
Nacionalidade e Lançamento: Brasil, 5 de feverero de 2021 (Netflix)
Sinopse: Um mundo subterrâneo é habitado por criaturas míticas evoluídas de uma linhagem profunda do folclore brasileiro. Enquanto isso, um detetive se encontra preso em uma investigação de assassinato que o coloca no meio de uma batalha entre esses dois mundos.
Elenco: Marco Pigossi, Alessandra Negrini, Manuela Dieguez, José Dumont, Jéssica Córes, Julia Konrad, Wesley Guimarães, Fábio Lago.
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É curioso ver que tantos brasileiros conhecem as mitologias nórdica, anglo-saxã e grega, mas pouco conhecem dos seres mitológicos do nosso próprio país. Admiram um super-herói chamado Thor, se encantam com as histórias de Hércules e de Aquiles, sabem tudo sobre orcs, goblins e trolls, mas associam nomes como Cuca, Curupira e Saci apenas a obras infantis.
Nesse sentido, a série “Cidade Invisível” merece aplausos por colocar os seres mitológicos da nossa própria cultura em uma trama que revisita, atualiza e reapresenta seres como a Iara, Tutu e Boto-rosa. Com esse propósito, a série produzida por Carlos Saldanha com base na história dos escritores Raphael Draccon e Carolina Munhóz carrega consigo, no mínimo, uma ótima intenção.
Acompanhamos a história de um agente da polícia ambiental que, após perder a esposa em um incêndio estranho, acaba descobrindo pouco a pouco sobre os seres fantasiosos envolvidos nos acontecimentos.
Ainda que o resultado final não seja a perfeição, o fato é que os sete episódios de “Cidade Invisível” conseguem trazer boa medida de mistério e uma trama coesa. Há momentos de conveniências de roteiro, é claro, como a escolha de quando uma entidade utiliza seus poderes ou não, e do que faz um boto se transformar de volta em homem, mas nada que afaste o espectador.
Com a liberdade de poder interpretar alguns mitos para a verossimilhança da história, a série faz escolhas interessantes: o mito de Iara se mescla com a figura de Iemanjá; a Cuca não se transforma em um jacaré (como a maioria de nós se acostumou, ainda que isso não seja uma “regra” de sua mitologia); os personagens estão todos no Rio de Janeiro… e tudo isso funciona para nos aprofundarmos naquele universo específico da história.
Com escolhas técnicas corretas (ainda que não tragam nenhum elemento autoral, como faz Boca a Boca, por exemplo, que desenvolve uma estética própria), “Cidade Invisível” consegue encontrar boas soluções para não precisar abusar dos efeitos visuais, e o faz com o cuidado necessário. As atuações estão “corretas”, ainda que nenhum dos atores consiga grande destaque: Marco Pigossi transmite a preocupação necessária ao seu personagem, José Dumont tem a força de sempre, e Alessandra Negrini… é Alessandra Negrini.
Refletindo sobre os episódios, é curioso notar como eles são rápidos e lentos ao mesmo tempo. Rápidos porque diversas cenas são apressadas, fazendo parecer que há uma preocupação enorme em prender o espectador e evitar que ele abandone a trama. Mas também são lentos porque, em certo ponto, a história não sai do tradicional “vai e vem” entre as locações, com cenas que alternam entre o bar, a comunidade, a casa do protagonista e a delegacia, mas que pouco caminham ou que poderiam ser mais sucintas.
Mesmo assim, “Cidade Invisível” tem bons cliffhangers nos finais de episódio, e ainda faz uma decisão acertada e corajosa em relação a um personagem carismático, mesmo que a última cena da temporada não seja tão surpreendente.
A série funciona como bom entretenimento e ainda cria um universo que pode ser explorado tanto em continuações (e espero que venham mais temporadas) quanto em histórias paralelas ou de origem. E se servir para aumentar o conhecimento dos nossos próprios mitos (e nossa própria cultura), já terá sido muito bem-vinda.