A Vida é um Musical – De West End para o Cinema
Depois de passearmos pela Broadway vamos passear pelos musicais de West End que foram para as telonas
No nosso primeiro encontro conversamos sobre a relação da Broadway com Hollywood. Ao fim do texto revelei algo que talvez fosse novidade para muitos, alguns dos maiores sucessos da Broadway nos cinemas, na verdade eram oiginais de West End, o redulto teatral de Londres. Agora é hora da passear por West End e ver alguns musicais originais de Londres que se tornaram filmes. Bora lá então?
O Fantasma da ópera (2004)
Pra começar vamos de clássico! O Fantasma da Ópera, de Andrew Lloyd Webber, Charles Hart e Richard Stilgoe, é um musical que estreou em West End em 1986 e está em cartaz até hoje e é a terceira peça teatral a mais tempo em cartaz em Londres e o segundo musical a mais tempo em cartaz, o primeiro lugar entre os musicais logo aparecerá aqui nessa lista. Baseado no clássico homônimo de Gaston Leroux, a história gira em torno de uma bela soprano, Christine Daaé, que se torna a obsessão de um gênio musical misterioso e desfigurado que vive no labirinto subterrâneo sob a Opéra House de Paris. O musical se tornou um grande sucesso de público e crítica, foi indicado a cinco Laurence Olivier Awards, o principal prêmio do teatro londrino, e faturou quatro prêmios. O musical chegou dois anos depois na Broadway, repetindo o sucesso de público e crítica e sendo indicado dez Tonys e ganhando sete, e é o musical a mais tempo em cartaz na Broadway. No Brasil O Fantasma da Ópera já ganhou duas versões de muito sucesso, a primeira em 2005 e a segunda em 2018. Uma curiosidade interessante é que a famosa cantora Sarah Brightman fez Christine em West End e na Broadway.
O filme de O Fantasma da Ópera demorou para sair do papel. Inicialmente o filme sairia em 1990, com Michael Crawford e Sarah Brightman repetindo seus papéis em West End e na Broadway como o Fantasma e Christine respectivamente. Vários diretores foram cotados, entre eles Shekhar Kapur (Elizabeth), mas desde o início Andrew Lloyd Weber queria Joel Schumacher para a cadeira de direção, o que aconteceu. Para o papel de Fantasma foram cotados vários atores como John Travolta e Antonio Banderas. Hugh Jackman foi convidado para o papel, mas recusou por esta filmando Van Helsing. O papel foi para Gerard Butler, que havia trabalhado com Joel Schumacher em Dracula 2000, mas nunca havia cantado profissionalmente. Essa falta de experiência fica claro no filme, embora o ator se esforce, na hora de soltar a voz ele deixa a desejar. Já para o papel de Christine, foram cotadas Katie Holmes e Anne Hathaway, essa última não pode aceitar por estar filmando O Diário da Princesa 2. O papel assim foi dado a Emmy Rossum, que se mostrou bem mais preparada vocalmente para o papel. Para completar o triângulo amoroso, o papel de Raoul foi dado a Patrick Wilson que já tinha uma carreira de destaque na Broadway.
O filme recebeu muitas críticas negativas em especial pela direção “confusa e espalahfatosa” de Joel Schumacher, e pela atuação “canastrona” de Gerard Butler como Fantasma, mas todos foram unânimes ao destacar positivamente a atuação de Emmy Rossum. Mas entre o público em geral o filme é amado. Embora tenha tido um retorno razoável nas bilheterias custando US$ 70 milhões e arrecadando US$ 154,6 milhões de dólares, o filme se tornou o que se chama de cult. Tanto é assim que, embora no Rotten Tomatoes, o filme tenha 33% de aprovação da crítica, mas possui 84% de aprovação no mesmo site do público em geral. Eu particularmente gosto muito do filme, como disse Gerard Butler faz o que pode, mas deixa a desejar ao cantar, e não acho tão espalhafatosa e confusa a direção de Joel Schumacher. E pra quem conhece o musical O Fantasma da Ópera, sabe que o filmes precisava ser extravagante. De qualquer forma o filme recebeu três indicações ao Oscar. Te convido a assistir ao filme para tirar suas próprias conclusões.
Vale destacar que O Fantasma da Ópera ganhou uma versão elogiadíssima de uma gravação teatral no famoso teatro Royal Albert Hall em comemoração aos 25 anos de seu lançamento. Essa versão é facilmente encontrada no Brasil e está no Youtube Filmes.
Sinopse: La Carlotta (Minnie Driver) é a diva de uma conceituada companhia teatral, que é responsável pelas óperas realizadas em um imponente teatro. Temperamental, La Carlotta se irrita pela ausência de um solo na nova produção da companhia e decide abandonar os ensaios. Com a estréia marcada para o mesmo dia, os novos donos do teatro não têm outra alternativa senão aceitar a sugestão de Madame Giry (Miranda Richardson) e escalar em seu lugar a jovem Christine Daae (Emmy Rossum), que fazia parte do coral. Christine faz sucesso em sua estréia, chamando a atenção do Visconde de Chagny (Patrick Wilson), o novo patrocinador da companhia. O Visconde e Christine se conheceram ainda crianças, mas ele apenas a reconhece na encenação da ópera. Porém o que nem ele nem ninguém da companhia, com exceção de Madame Giry, sabem é que Christine tem um tutor misterioso, que acompanha nas sombras tudo o que acontece no teatro: o Fantasma da Ópera (Gérard Butler).
Para dar um gostinho de quero mais …
Evita (1996)
Vamos continuar com o velhinho mais amado pelos amantes dos musicais? Vamos de Andrew Lloyd Webber novamente. Dessa vez vamos sair da Paris do século XIX e vamos para a Argentina da década de 30 e 40, vamos deixar os bastidores do teatro e vamos para os bastidores da política, de personagens fictícios para reais. Estou falando do musical Evita, escrito por Webber e Tim Rice. Inicialmente lançado como um álbum ao estilo ópera rock em 1976, estreou em West End em 1978 com um sucesso impressionante de público e crítica, ficando oito anos consecutivos em cartaz. O musical é o que chamamos de sung-through, algo como, através do canto, em que as músicas constituem todos, ou praticamente todos os diálogos da produção. Evita, como o nome mesmo já diz, conta a história da vida de Eva Perón , a segunda esposa do presidente argentino Juan Perón. A história segue a infância de Evita, sua ascensão ao poder, trabalho de caridade e sua morte precoce aos 33 anos vítima de câncer. Evita foi indicado a quatro Laurence Olivier Awards tendo ganho dois, Melhor Musical e Atriz. Um ano depois o musical chegou a Boadway, onde repetiu o sucesso ficando quatro anos em cartaz. A produção foi indicada a onze Tonys Awards e ganhou sete, incluindo Melhor Musical. No Brasil o musical já teve duas montagens, a primeira em 1983 com Mauro Mendonça, Carlos Augusto Strazzer e Sylvia Massari no elenco, e a segunda em 2011.
O projeto para o filme começou logo após o lançamento do álbum conceitual. O diretor Alan Parker se interessou em fazer um filme baseado na obra. Mas o projeto não vingou na época, visto que Parker ja estava com outros projetos musicais engatilhados, a saber o filme Fama, e queria fazer outras obras que não fossem musical. A Paramount comprou os direitos do filme em 1981, e até chegaram a contratar um diretor Ken Russell, mas novamente o projeto não foi pra frente, principalmente porque o Russell foi demitido da produção. Tentaram Hebert Ross, Alan J. Pakula e Hector Babenco, mas todos declinaram. Após isso, em 1987, os direitos foram vendidos novamente, e Oliver Stone entrou no projeto, que avançou bastante. Mas devido a problemas com locações e nos bastidores, o projeto parou e Stone saiu para produzir e dirigir The Doors. Em 1990 os direitos foram novamente vendidos, agora para Disney, que contratou Glenn Gordon Caron, para dirigir o filme, mas o projeto não prosseguiu por questões financeiras. Novamente os direitos foram vendidos, e Stone voltou a produção. Mas devido a agenda do diretor, envolvido em Nixon na época. Sabe quem então voltou ao projeto? Alan Parker, que tinha recusado dirigir no início da década de 80, voltou ao projeto e dirigiu o filme.
A história por trás do elenco é tão interessante quanto a descrita acima. A escolha de Banderas como Ché não foi difícil, ele foi escolhido quando Glenn Gordon Caron foi contratado para dirigir o filme, e assim ficou. Já para Evita que a história fica interssante. A cantora Karla DeVito chegou a fazer o teste, mas a primeira “escolha” para o papel foi Liza Minelli, escolha entre aspas porque ela foi a primeira escolha do diretor Ken Russell, porque a primeira escolha da Paramount, que tinha os direitos na época, e Tim Rice era Elaine Paige, que viveu Evita nos palcos londrinos. A cantora Madonna apareceu na história em 1986, quando ela foi até o escritório do produtor Robert Stigwood vestida a caráter, com vestido e penteado dos anos 40, para mostrar seu interesse em viver Evita, ela até tentou fazer uma campanha para Copolla dirigir o filme. A visita deu certo, Stigwood falou que ela era perfeita para viver Evita. Mas eis que Meryl Streep entrou no páreo quando Oliver Stone entrou no projeto, mas ela foi descartada devido ao alto preço do cachê. Quando os direitos foram para Disney, Madonna voltou ao topo da lista. Quando Stone voltou, sua primeira escolha foi Michelle Pfeiffer, mas ela precisou abandonar a produção por estar grávida. Com a saída da atriz quem voltou a ser cogitada foi Meryl Streep, juntamente com Glenn Close. Vendo que não estava sendo cogitada para o papel, Madonna agiu. Ela enviou para Alan Parker uma carta de quatro páginas explicando que ela era a melhor pessoa para retratar Eva e que estaria totalmente comprometida com o papel, ela também lhe enviou uma cópia de seu videoclipe Take a Bow como uma forma de “fazer um teste”. Alan Parker, aceitou desde que ela não desse “pitaco” na produção. Após Rice aceitar ela como Evita, e a cantora passar por treinos vocais, Andrew Lloyd Weber também aceitou. E assim Madonna foi escolhida como Evita, não sem polêmica, embora ela tenha se entregado ao máximo ao papel, chegando a adoecer, os argentinos não curtiram muito a escolha da cantora. Não achavam a atriz adequada para viver a “Santa Evita”, mas os protestos não deram em nada e Madonna prosseguiu no papel, e o fez lindamente, digasse de passagem!
O filme quando estreou recebeu críticas mistas. A atuação de Madonna dividiu a crítica, enquanto alguns falavam que ela não tinha força para cantar e fazer Evita, outros falavam que a atuação da cantora foi hipnotizante, e que se ela estava em cena era impossível tirar os olhos dela. Isso fez com que o filme tivesse 63% de aprovação no Rotten Tomatoes. Mas críticas a parte o filme foi um sucesso razoável nas bilheterias, custando US$ 55 milhões e arrecadando um pouco mais de US$ 141 milhões nas bilheterias do mundo todo. O filme foi indicado a cinco Oscars e ganhou o prêmio de Melhor Canção para You Must Love Me, canção inédita que foi incorporada nos revivais do musical. Madonna, mesmo dividindo a crítica, faturou o prêmio de Melhor Atriz em Comédia ou Musical no Globo de Ouro. A trilha sonora foi um grande sucesso, alcançando o 1º lugar em vários países e vendeu 11 milhões de cópias no mundo todo. A canção Don’t Cry For Me Argentina, que era do musical original, alcançou o topo das paradas em diversos países, e ganhou uma versão remix que fez sucesso no mundo todo. Resumo da ópera se você é fã de Madonna e de musicais como eu é um filme essencial! Caso contrário te aconselho a dar uma chance ao filme porque é muito bem feito.
Sinopse: Em 1952, em um pequeno cinema da Argentina, a projeção é interrompida para comunicar o falecimento da líder espiritual do país, Eva Perón (Madonna). A partir deste momento é narrado em flashback como a filha bastarda de um agricultor de um pequeno povoado é barrada no funeral do seu pai e como ela, freqüentando as rodas certas com as pessoas certas, acaba se tornando rapidamente a primeira-dama do seu país.
Pra dar um gostinho de quero mais…
Mamma Mia! (2008)
Da Argentina para Grécia! Nossa próxima parada nos musicais de West End que ganharam uma versão cinematográfica é Mamma Mia!. Criado por Catherine Johnson, é um musical no formato jukebox, com base nas músicas do grupo sueco Abba. O musical estreou nos palcos de West End em 1999 e continua em cartaz até os dias de atuais. Sucesso de público e crítica, o Mamma Mia! foi indicado a quatro Laurence Olivier Awards e levou o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante. Dois anos depois o musical chegou a Broadway onde repetiu o sucesso londrino ficando em cartaz por 14 anos, sendo indicado a cinco Tonys, mas ali não ganhou nenhum prêmio. No Brasil, o musical ganhou uma versão de grande sucesso em 2010.
O filme baseado no musical estreou nos cinemas 9 anos após a estreia nos palcos de West End. O filme juntou novamente Catherine Johnson e Phyllida Lloyd, que escreveu e dirigiu respectivamente o musical original. As duas cumpriram as mesmas funções que tiveram no musical roteirista e diretora. Para o papel de Donna cogitaram Michelle Pfeiffer e Olivia Newton-John, que estavam bem interessadas no papel, mas quem acabou ganhando o papel foi Meryl Streep, que já havia dito ser fã do musical que assistiu na Broadway logo após o 11 setembro de 2001. O papel de Sophie foi bem disputado Mandy Moore, Rachel McAdams, Amanda Bynes e Emmy Rossum fizeram o teste para o papel, mas a premiada foi Amanda Seyfried. Em uma entrevista nos extras do DVD do filme, um dos produtores do filme disse que a atriz foi escolhida após ela cantar perfeitamente a canção I Have Dream que é tocada no início do filme. É interessante também a história da entrada de Pierce Brosnan no elenco, o ator aceitou “cegamente” fazer o filme. Quando ele soube que Meryl Streep estaria no filme ele aceitou sem nem saber do que se tratava o filme. Já Cher queria estar no filme, estava tudo certo para ela fazer Tanya, mas ela não conseguiu conciliar sua agenda com a gravação do filme, e o papel ficou com Christine Baranski. Quem também aparece no filme são os ex-integrantes do grupo ABBA Benny Andersson como pianista durante o número de Dancing Queen e Björn Ulvaeus como um deus grego no final do filme durante a música Waterloo.
Embora com grande elenco que além de Pierce Brosnan e Meryl Streep, incluía ainda Colin Firth, Julie Walters e Stellan Skarsgård o filme recebeu muitas críticas negativas, mas o sucesso de público foi impressionante! O filme custou apenas US$ 52 milhões e arrecadou impressionantes US$ 609,9 milhões no mundo todo. O filme ainda foi indicado a diversos prêmios entre eles dois Globos de Ouro. Com o passar do tempo o filme tem ganhado status cult e tem se tornado o guilty pleasure de muitos cinéfilos. Eu particularmente gosto do filme mas tenho várias ressalvas com ele, na verdade três: 1ª a escolha de Pierce Brosnan para o elenco, até os filhos do ator desaprovaram ao ouvi-lo cantar, a 2ª e 3ª diz respeito a duas cenas. Uma delas é Lay All Your Love on Me, uma cena de Sophie e Sky na praia que é pura vergonha alheia, pelo menos não tanto quanto é nos palcos, só tenho pena dos atores dessa cena, Amanda Seyfried em entrevista disse que no momento dessa cena, embora tivesse sol estava fazendo um frio absurdo e a água do mar estava geladíssima. A outra cena é de The Winner Takes It All, embora Meryl Streep seja divina ela parece não saber o que fazer na cena, outro momento vergonha alheia. No mais o filme é divertido e tem ABBA, quer coisa melhor? Inclusive o filme ganhou uma sequência, que pasmem ainda não assisti!
Sinopse: 1999, na ilha grega de Kalokairi. Sophie (Amanda Seyfried) está prestes a se casar e, sem saber quem é seu pai, envia convites para Sam Carmichael (Pierce Brosnan), Harry Bright (Colin Firth) e Bill Anderson (Stellan Skarsgard). Eles vêm de diferentes partes do mundo, dispostos a reencontrar a mulher de suas vidas: Donna (Meryl Streep), mãe de Sophie. Ao chegarem Donna é surpreendida, tendo que inventar desculpas para não revelar quem é o pai de Sophie.
Pra dar um gostinho de quero mais…
The Horror Picture Show (1975)
Nossa viagem por West End agora nos levará para Inglaterra! Dessa vez para falar de um dos meus filmes musicais favoritos, e falar de um musical que sou doido para assistir ao vivo. Estou falando do filme The Rocky Picture Horror Show e do musical The Rocky Horror Show. Escrito por Richard O’Brien, o musical é um tributo humorístico aos filmes B de ficção científica e terror dos anos 30 até o início dos anos 60. Em The Rocky Horror Show um casal recém-noivado é pego por uma tempestade e vai parar na casa do travesti cientista louco Dr. Frank-N -Furter. Ali ele revela sua nova criação, uma espécie de monstro no estilo Frankenstein na forma de um homem musculoso, fisicamente perfeito, chamado Rocky, “com cabelos loiros e um bronzeado”. O espetáculo ficou 7 anos em cartaz em West End com grande sucesso, já na Broadway o musical não foi bem aceito, tendo apenas quarenta e oito exibições. Mesmo com uma recepção fria pelo público americano, ou melhor de Nova York, porque em outras cidades foi um sucesso, o espetáculo ganhou dezenas de montagens no mundo todo, incluindo três no Brasil. A primeira delas foi em 1975 dirigida por Rubens Corrêa com Lucélia Santos, Eduardo Conde, Nildo Parente, o diretor Wolf Maia, o cantor Tom Zé e o compositor Zé Rodrix no elenco. Em 1994 o musical voltou ao Brasil, com direção de Jorge Fernando, e Claudia Ohana, Marcelo Novaes e Tuca Andrada no elenco. A montagem mais recente ocorreu em 2016 com o humorista Marcelo Médici no papel principal. The Rocky Horror Show é um dos mais importantes musicais quando se trata de sexualidade, diversidade e fluidez sexual, o musical é a frente de seu tempo, talvez por isso que quando ganhou um revival na Broadway e o espetáculo ficou 2 anos em cartaz.
O filme baseado no espetáculo, ganhou um Picture no nome e ficou como The Rocky Horror Picture Show, e foi dirigido pelo australiano Jim Sharman, que também dirigiu o espetáculo, e teve o roteiro escrito por Richard O’Brien, que também atuou no filme no mesmo papel que fez nos palcos de West End e da Broadway. Mas aqui O’Brien teve o auxílio de Sharman para desenvolver o roteiro. Além de O’brien, outro que voltou para o filme depois de fazer o personagem em West End e na Broadway foi Tim Curry que viveu o Dr. Frank-N-Furter, um cientista travesti bissexual excêntrico. Além deles outros que foram dos palcos para as telonas foram Patricia Quinn que viveu Magenta em West End, Nell Campbell que viveu Columbia nos palcos de Londres, Meat Loaf que viveu Eddie e o Dr. Everett V. Scott na Broadway e nos cinemas viveu o personagem Eddie, e Jonathan Adams que havia vivido o narrador em West End mas no filme fez Dr. Everett V. Scott. Já para o casal principal foram escalados os até então pouco conhecidos Susan Saradon e Barry Bostwick.
Quando foi lançado, o filme foi muito mal recebido. Fez pouca bilheteria e foi massacrado pela crítica especializada. Mas como eu disse anteriormente, The Rocky Horror Picture Show estava a frente do seu tempo. Em 1976 o filme passou a ser exibido na sessão da meia-noite no Waverly Theatre em Nova York e desde então continua sendo exibido, e lá se vão 44 anos ininterruptos sendo exibidos na sessão da meia-noite com a audiência indo assistir trajando fantasias com referências ao filme. Para facilitar essas sessões a Fox passou a deixar o filme disponível para qualquer cinema em qualquer momento, facilitando essas sessões. Isso quase deixou de ocorrer com a compra da Fox pela Disney, já que a gigante americana resolveu tirar todos os filmes da Fox dos cinemas, mas a Disney preferiu não mexer com esse clássico.
A frente do seu tempo The Rocky Horror Picture Show é um marco no cinema musical e mundial. Ele se tornou cult, e deixou um legado incrível para na cultura pop. Principalmente para a a comunidade LGBTQIA+ que vê no filme um abraço a liberação sexual, a androgenia e a sexualidade fluída. Seja qual for as suas opções sexuais, religiosas, políticas, etc., o filme é essencial para qualquer fã de cinema e principalmente para os fãs de musical.
Sinopse: Influenciado pelo matrimônio de um grande amigo, Brad Majors (Barry Bostwick) decide pedir sua noiva, Janet Weiss (Susan Sarandon), em casamento. Antes da cerimônia eles partem em uma viagem de carro, mas acabam se perdendo. Para piorar a situação, o carro quebra e está chovendo bastante. Eles vão até um castelo próximo em busca de ajuda e são recepcionados por Riff Raff (Richard O’Brien), o criado do dr. Frank N Furter (Tim Curry), dono do local. Brad e Janet estranham o visual e o comportamento de todos, sem imaginar que Frank N Furter dedica a vida à libido e o prazer. Seu novo plano é criar um homem musculoso, Rocky (Peter Hinwood), que possa atender aos seus anseios sexuais.
Para dar um gostinho de quero mais…
Les Miserábles (2012)
Saindo da Inglaterra vamos voltar para onde iniciamos essa viagem, a Paris do século XIX. Enquanto Christine viva dividida entre o Fantasma e Raoul em um lado de Paris, do outro acompanhamos a história de Jean Valjean, Javert, Fantine, Eponine, Cosette, Marius, Enjolras e do casal Thénadier no clássico Les Misérables. Sim, eu sei o musical estreou na França em 1980, e só 5 anos depois foi para West End, mas foi apenas com a ida para os palcos londrinos que o musical estourou para o mundo todo. Escrito por Claude-Michel Schönberg, Alain Boublil e Jean-Marc Natel, o musical teve a sua adaptação para os palcos de West End feita por Herbert Kretzmer, produzida por Cameron Mackintosh. Baseado na obra homônima de Victor Hugo, a saga de Jean Valjean está em cartaz em West End a 35 anos ininterruptos, é o musical a mais tempo em cartaz em West End. Sucesso de público e crítica, o espetáculo foi indicado a 4 prêmios Laurence Olivier Awards, e ganhou o prêmio de Melhor Atriz, não me pergunte como ele perdeu o prêmio de Melhor Musical. Dois anos depois, em 1987, o espetáculo estreou na Broadway, onde foi um grande sucesso, sendo encenado por 16 anos ininterruptos. O espetáculo foi indicado a 12 Tonys e levou 8 prêmios para casa. No Brasil, Le Mis, como é conhecido no mundo dos musicais, foi montado duas vezes. A primeira em 2001 e a segunda em 2017, inclusive essa última montagem foi a grande vencedor do Prêmio Bibi Ferreira 2018, ganhando 5 prêmio incluindo de Melhor Musical.
O filme baseado no espetáculo musical começou a ser desenvolvido em 1980, logo que o álbum conceitual, que deu origem ao musical francês, foi lançado, mas apenas em 1988 que o projeto pareceu andar. Cogitaram Alan Parker para a direção, mas em 1991 Bruce Beresford (Conduzindo Miss Daisy) foi contratado. No ano seguinte a TriStar Pictures entrou na produção do filme. Mas esse projeto foi abandonado. Só em 2005, que o produtor Cameron Mackintosh mostrou interesse novamente de fazer um filme baseado no musical, e o projeto foi ressuscitado. Após uma negociação de 2 anos, em 2011 o produtor Eric Fellner adquiriu os direitos para fazer o filme e juntamente com os produtores Tim Bevan e Debra Hayward, contrataram William Nicholson para escrever um roteiro para o filme. O próximo passo foi escolher o diretor a primeira escolha foi Tom Hooper, que ficou no projeto até o fim.
Para o elenco a ideia inicial era que a dupla Jean Valjean e Javert fosse vivida por Hugh Jackman e Paul Bettany respectivamente. Mas o papel do inspetor mais odiado de Paris foi para Russell Crowe. Para o papel de Fantine foram cogitadas Amy Adams , Jessica Biel , Tammy Blanchard , Kristin Kreuk , Marion Cotillard , Kate Winslet e Rebecca Hall, mas como todos sabemos a escolhida foi Anne Hathaway, que perdeu 11kg e cortou os cabelos para viver a personagem. Eddie Redmayne foi escolhido desde o início para o papel de Marius, assim como Amanda Seyfried para o papel de Cosette adulta, Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen como os Thénardiers e Aaron Tveit como Enjolras. Já o papel de Eponine foi oferecido a Scarlett Johansson , Lea Michele , Miley Cyrus , Tamsin Egerton , Taylor Swift e Evan Rachel Wood, mas a escolhida foi, a até então desconhecida, Samantha Barks, uma atriz de teatro que já havia vivido a personagem na montagem de aniversário de 25 anos de Les Misérables e estava em cataz em West End com Oliver!.
O filme foi um grande sucesso de público, ele custou US$ 61 milhões e arrecadou US$ 441,8 milhões no mundo todo. Mas recebeu críticas mistas, muito devido a direção de Tom Hooper que preferiu usar uma câmera mais focada no rosto do que no que havia a seu redor. Outra crítica ao filme foi para Russell Crowe que como cantor se mostrou um ótimo ator. Mas algumas coisas foram unânimes, como a atuação de Hugh Jackman e Anne Hathaway, que fez o limpa nas premiações de 2013. Outros pontos positivos no filme foi a sua parte técnica em especial a maquiagem, direção de arte e figurino. Mesmo com as críticas mistas, o filme apareceu na maioria das listas de melhores do ano. Em resultado disso o filme tem uma aprovação até positiva no Rotten Tomatoes, 69% da crítica especializada. O filme foi indicado a 8 Oscars, incluindo Melhor Filme. Les Miserábles saiu da noite do Oscar com 3 prêmios entre eles o de Melhor Atriz Coadjuvante para Anne Hathaway.
Les Miserábles é um dos meus musicais favoritos, e a verdade é que o filme me decepciona um pouco, mas mesmo assim é um espetáculo visual que merece ser conferido. Só um detalhe, assim como Evita, Le Mis é um musical no estilo sung-through, ou seja, todas as suas falas são cantadas.
Sinopse: Os Miseráveis é uma adaptação do musical da Broadway, que por sua vez foi inspirado em clássica obra do escritor Victor Hugo. A história se passa em plena Revolução Francesa do século XIX. Jean Valjean (Hugh Jackman) rouba um pão para alimentar a irmã mais nova e acaba sendo preso por isso. Solto tempos depois, ele tentará recomeçar sua vida e se redimir. Ao mesmo tempo em que tenta fugir da perseguição do inspetor Javert (Russell Crowe).
Para dar um gostinho de quero mais…
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E nossa viagem por West End termina aqui! Lógico ficou muita coisa de fora, assim que eu for assistindo eu vou escrevendo textos específicos sobre esses filmes e musicais. Nosso próximo encontro vai ser daqui uns dias, mais precisamente no dia 1º de Dezembro, o dia internacional de luta contra Aids. Curioso para saber sobre que filme/musical iremos conversar? Então até lá!