Crítica: Pai – 44ª Mostra de São Paulo - Cinem(ação)
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Crítica: Pai – 44ª Mostra de São Paulo

“Pai” é um drama familiar e comentário político realista.

Ficha técnica:
Direção: Srdan Golubovic
Roteiro: Srdan Golubovic, Ognjen Svilicic
Nacionalidade e Lançamento: Sérvia, França, Alemanha, Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, 2020 (44ª Mostra de São Paulo)
Sinopse: Em uma pequena cidade na Sérvia, vive Nikola, trabalhador temporário e pai de dois filhos. O homem se vê obrigado a entregar as crianças aos serviços sociais depois que a pobreza e a fome levam sua esposa a cometer um ato desesperado. Quando Nikola descobre a corrupção da administração local, ele decide viajar pela Sérvia a pé e levar o caso diretamente às autoridades governamentais em Belgrado. Movido pelo amor e pelo desespero, ele se recusa a desistir da justiça e de seu direito de criar os filhos.

Elenco: Goran Bogdan, Boris Isaković, Nada Šargin, Milica Janevski, Muharem Hamzić.

As primeiras cenas de “Pai” mostram a que ponto alguém pode chegar quando não tem dinheiro. Antes que o personagem-título apareça, vemos uma mãe desesperada. Ao longo do filme veremos que Nikola, o protagonista, sente o mesmo desespero e apenas o expressa com atitudes diferentes e certa letargia.

Após ter seus filhos apreendidos pelo sistema judiciário de sua cidade e ser informado sobre um sistema de corrupção que torna tudo mais difícil, Nikola não vê outra saída a não ser viajar a pé para a capital, a fim de entregar um requerimento ao ministro.

O que vemos, a partir de então, é uma jornada de dificuldades e privações até percorrer os 300 quilômetros que o separam de seu destino. Com algumas ajudas pontuais, Nikola não demonstra de forma melodramática seus sentimentos, mas sua força de vontade é admirável. E se o espectador tem alguma dúvida sobre a condição do protagonista de cuidar de seus filhos, ela é resolvida no primeiro momento de expressão de carinho dele em relação a um cachorro.

“Pai” é um filme que coloca em debate questões sociais relacionadas à pobreza e às relações de poder. As exigências que os servidores fazem quanto a ter um computador e um aquecedor no banheiro mostram o quanto se exige das camadas menos favorecidas – podendo ecoar a canção de Gabriel o Pensador que diz: “aquilo que o mundo me pede não é o que o mundo me dá”. Em outro momento, um amigo que dá carona a Nikolas afirma que sua caminhada e seu protesto não servirão de nada, sugerindo uma fuga para outro país.

Acima de tudo, “Pai” se mostra forte nos momentos em que o protagonista demonstra seus sentimentos mais profundos: ao chorar quando come uma refeição, ao lamentar a morte do cachorro, ao abraçar os filhos – e se Goran Bogdan consegue dar naturalidade sem abrir espaço para o melodrama, o jovem ator Muharem Hanzic também contribui para algumas das cenas de carga emocional mais intensa, amplificadas pelo fato de que, antes dela, não vimos qualquer outro momento entre o pai e seus filhos. É justamente por mergulhar apenas nas dificuldades de Nikola que construímos nossa expectativa para o encontro da família.

Os momentos finais do filme servem como uma conclusão que une o comentário político e o drama da história. Nikola precisa elevar sua paciência e força de vontade ao máximo para recuperar aquilo que a sociedade lhe tirou e o Estado não tem competência para devolver. Cabe a ele, e somente a ele, conseguir de volta o que lhe pertence. O mais triste é que essa visão não é pessimista, mas realista.

  • Nota
5

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