Crítica: Sem Ressentimentos – 44ª Mostra de São Paulo
“Sem Ressentimentos” é um agradável filme de amadurecimento.
Ficha técnica:
Direção: Faraz Shariat
Roteiro: Faraz Shariat, Paulina Lorenz
Nacionalidade e Lançamento: Alemanha, 24 de setembro de 2020 (44ª Mostra de São Paulo)
Sinopse: Na noite de seu aniversário, Parvis rouba uma garrafa de bebida em uma danceteria. Porém, ele acaba pego e, como é filho de iranianos exilados, é obrigado a fazer trabalhos comunitários em um centro de refugiados na Saxônia, Alemanha, onde vive. Lá, ele se apaixona por Amon, que fugiu do Irã com a irmã, Banafshe. Juntos, os três curtem um verão com noites sem fim, primeiros amores, a força a juventude —e a percepção de que nenhum deles se sente plenamente em casa na Alemanha. Em um filme semi-biográfico, o realizador oferece uma visão sensível sobre imigrantes em terras alemãs.
Elenco: Benjamin Radjaipour, Banafshe Hourmazdi, Eidin Jalali.
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Muitas das cenas de “Sem Ressentimentos” mostram seus personagens dormindo, deitados, ou então escovando os dentes. Talvez porque nestes momentos nos mostramos quem somos de verdade, talvez porque estamos mais vulneráveis. É com muito desse sentimento que Faraz Shariat vai contar a história de um jovem gay filho de iranianos, que terá sua jornada dividida com dois irmãos refugiados do mesmo país.
As imagens de arquivo exibidas logo no começo são do próprio diretor, que certamente está falando de si mesmo em todo o filme – e a fantasia de Sailor Moon dá indícios fortes, já que a animação japonesa fez sucesso há algumas décadas.
Entre encontros de sexo casual, passeios pela madrugada e trabalhos comunitários, acompanhamos a vida de Parvis: o preconceito por ser “imigrante”, a história de dificuldades da família e as amarras relacionadas à sua orientação sexual, apesar do apoio dos pais. “Sem Ressentimentos” é a típica jornada do jovem que não se encaixa nos ambientes que frequenta: Parvis não se sente tanto alemão, mas também não é iraniano.
Se o filme acerta em explorar o drama dos irmãos refugiados que tentam se estabelecer na Alemanha, o fato é que tratar de tantas temáticas acaba por apenas “pincelar” algumas delas – como a do assédio contra Banafshe. As cenas meio oníricas que o filme traz funcionam como momento de respiro, mas não vão muito além disso, e uma fala sobre “filmes clichês de amadurecimento” funciona como referência metalinguística e também como mea culpa por se reconhecer neste lugar.
Assim, ainda que “Sem Ressentimentos” não traga muita novidade para além do que já se tem de filmes LGBTQs de amadurecimento, ao menos faz coro para o debate sobre tal temática na cultura de países islâmicos, já que a pauta está efervescente nestes tempos.