Crítica: Em Meus Sonhos – 44ª Mostra de São Paulo
“Em Meus Sonhos” poderia ser um belo filme coming of age. Poderia.
Ficha técnica:
Direção: Murat Çeri
Roteiro: Murat Çeri
Nacionalidade e Lançamento: Turquia, 2020 (44ª Mostra de São Paulo)
Sinopse: Tarik é um menino de oito anos de idade que sofre um acidente de carro com a família. Seu pai acaba morrendo e sua mãe fica em coma no hospital. O garoto perde a memória e, sem outros parentes na cidade, é enviado a um vilarejo para morar com os avós. Ainda que não se lembre de nada, ele sonha constantemente e passa a criar uma conexão com um burrinho que perdeu a mãe em um acidente de carro na aldeia.
Elenco: Harun Reha Pakoglu, Recep Çavdar, Nevzat Yilmaz, Ferda İşil, Ismail Hakkı Ürün.
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Com certeza o cineasta Murat Çeri tinha o objetivo de fazer uma sensível jornada na infância de um menino do interior da Turquia. Infelizmente não foi o resultado que conseguiu.
O filme “Em Meus Sonhos” começa com uma cena em que Tarik olha pela janela do carro, e em seguida ouvimos o barulho de um acidente. Quem não lesse a sinopse certamente ficaria confuso. A partir de então, veremos o menino viver uma série de “aventuras” sob a tutela de seu bondoso avô, enquanto tem sonhos confusos que provavelmente são sua memória vindo à tona, já que o pequeno não se lembra de nada.
Entre os personagens que povoam o local, está um que parece ter alguma deficiência mental e sofre com a morte de alguém da família, em uma tentativa de paralelo entre aqueles que se lembram de quem se foi e o protagonista que se esqueceu. Aliás, imagino que a figura do homem de faculdades mentais limitadas e bom coração faça parte do imaginário turco, considerando que o também fraco “Milagre na Cela 7” traz o mesmo tipo de personagem.
O filme não consegue ter nenhum timing para as piadas que surgem aqui e ali, e nem mesmo para os momentos onde o melodrama fala mais alto, como quando Tarik foge e outro personagem chora no cemitério. Até para os momentos de descoberta do protagonista são perdidos, já que sua corrida até a “árvore assustadora”, por exemplo, é enfadonha.
“Em Meus Sonhos” é redundante em diversos momentos: quando os personagens repetem as análises sobre o burrinho que perdeu a mãe, quando vemos uma cena pelo reflexo de poças d’água sem motivo, e quando o avô enrola cigarros que não fuma e um personagem diz aquilo para reforçar.
No entanto, nada é mais constrangedor do que a cena criada para revelar a “verdade” ao protagonista. Não é porque são crianças que a motivação precisa ser tão tola, e não é por porque são crianças que a atuação precisa ser tão sofrível. Afinal, não apenas o protagonista Tarik como todos os atores mirins deste filme parecem ter sido selecionados sem o menor critério.
“Em Meus Sonhos” não tem uma premissa ruim. É uma pena que Murat Çeri, em vez de fazer um filme sobre crianças, trata o espectador como se fosse uma.