Crítica: O Charlatão – 44ª Mostra de São Paulo
Essa não é a primeira vez que um filme Tcheco tenta construir a figura de um herói martirizado pelo regime Comunista. Em 2017, foi lançado o longa Milada, uma política da República Tcheca que enfrentou o Nazismo, mas que acabou sendo executada pelo partido comunista. E assim como Milada o filme O Charlatão, dirigido por Argnieszka Holland, não atinge seu objetivo.
Não quero ser injusto. O Charlatão possui um nível de produção e narrativa bem melhor que Milada, porém o que era para ser a construção de um “herói” vai ladeira abaixo com o desenrolar do drama.
A narrativa convida ao espectador a acompanhar uma espécie de biografia, com um lado político, de um curandeiro chamado Jan Mikolásek, mas acaba caminhando para uma espécie de romance proibido.
O Charlatão, filme selecionado para representar a República Tcheca na corrida pelo Oscar de Melhor Filme Internacional, tenta absolver o personagem de seus erros, por um bem maior. Quase como um santo. Sempre evidenciando suas boas ações, que é caçado pelos cruéis comunistas.
E assim, o que era a história de um jovem especialista em ervas medicinais, se torna um romance. Não que esse seja o problema. A história de Mikolásek com seu assistente é incapaz de estabelecer uma conexão emocional com o espectador. Algo que seria fundamental para compreender e aceitar o desfecho – bem ruim por sinal – do filme.
Na cena final do julgamento a pouca simpatia criada pelo protagonista se esvai e fica apenas a visão de um homem egocêntrico, com um caráter dúbio e extremamente narcisista.