Crítica: O Neon Através do Oceano – 44ª Mostra de São Paulo
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Crítica: O Neon Através do Oceano (The Neon Across The Ocean) – 44ª Mostra de São Paulo

“O Neon Através do Oceano” (The Neon Across The Ocean) é um documento dos sentimentos atuais.

Ficha técnica:
Direção: Matthew Victor Pastor
Roteiro:  Matthew Victor Pastor
Nacionalidade e Lançamento: Austrália, Filipinas, 2020 (44ª Mostra de São Paulo)
Sinopse: Ambientado em um futuro não muito distante, após a crise mundial de 2020, o filme conta a história de Mandy, uma australiana-filipina de 17 anos. Durante o último ano do Ensino Médio, e lidando com o divórcio iminente dos pais, a garota navega por um mundo regido por um novo padrão de isolamento e medo. Além disso, ela se sente atraída por Serena, sua tutora. Enquanto isso, uma jovem que vive em Manila conta sua história.

Elenco: Waiyee Rivera, Gregory Pakis, Corey Reason, Alfred Nicdao, Lilibeth Munar.

A voz no elevador alerta para a importância de lavar as mãos. Uma máscara está jogada no chão. A cidade está vazia. Mandy está sempre sozinha, e precisa conviver apenas com seu pai ausente e sua tutora.

Com um prólogo nos tempos de hoje, “O Neon Através do Oceano” é um filme australiano e filipino que se passa em um futuro próximo. Dirigido por Matthew Victor Pastor, ele tem sua estreia mundial na 44ª Mostra de São Paulo, e foi filmado durante o período de lockdown.

Acompanhamos um pouco da vida da jovem Mandy, que vive apenas com seu depressivo pai em Melbourne, já que seu irmão se mudou e sua mãe precisou acompanhar os parentes nas Filipinas, seu país de origem. Ela vive a solidão de quem está sempre diante de uma tela, e por pesquisar tudo na internet acaba não precisando tanto de sua tutora – embora deseje tê-la por perto, por outros motivos.

Mandy é sempre mostrada com muita luz ao seu redor, seja natural ou artificial, em contraste com outros personagens, um pouco mais à sombra. Ela também está sempre separada de todos: por um vaso, uma parede, ou simplesmente pela arquitetura dos apartamentos, que o diretor consegue mostrar com sua câmera nos cantos.

Por falar em câmera, vale atentar para como Pastor escolhe se aproximar das personagens com uma lente angular, que amplia o espaço e, de certa forma, nunca chega realmente perto. Afinal, temos que ficar longe.

“O Neon Através do Oceano” tem uma narração paralela em Manila que sugere que as histórias são cíclicas, mesmo quando os tempos mudam. Alguns diálogos solenes mostrados em off apenas reforçam a ideia de que a juventude está cada vez mais distante das pessoas.

A luz neon do título é o que conecta a Austrália e as Filipinas, separadas pelo mar e conectadas pela internet – e pelos laços de sangue dos filhos de imigrantes. Resta saber se essa conexão basta para uma geração de solitários.

“O Neon Através do Oceano” é um filme que estabelece um clima e permanece nele o tempo todo, mesmo com os poucos momentos de virada. As escolhas são interessantes, ainda que as conexões entre as filmagens em Manila e Molbourne não estejam tão bem conectadas – o que é um paradoxo. A inserção de questões raciais é jogada de forma brusca e não condiz com o discurso do filme até então.

Ainda que ficção, é um documento do nosso tempo. Que sirva para refletirmos.

  • Nota
3

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