Crítica: Mamãe, Mamãe, Mamãe – 44ª Mostra de São Paulo
“Mamãe, Mamãe, Mamãe” é um retrato melancólico, doce e otimista da adolescência feminina.
Ficha técnica:
Direção: Sol Berruezo Pichon-Rivière
Roteiro: Sol Berruezo Pichon-Rivière
Nacionalidade e Lançamento: Argentina, 22 de fevereiro de 2020 no Festival de Berlim (44ª Mostra de São Paulo)
Sinopse: Numa manhã de verão, uma garota se afoga na piscina de sua casa. O pequeno corpo fica lá até que sua mãe o encontre. Ela deixa a outra filha, Cleo, sozinha em casa por horas. A menina fica à espera da tia, que chegará com suas primas: Leoncia, Manuela e Nerina. Assim, Cleo, junto com as primas, mergulha no mundo feminino da infância, enquanto sua mãe sofre a perda da filha.
Elenco: Agustina Milstein, Chloé Cherchyk, Camila Zolezzi, Matilde Creimer Chiabrando, Siumara Castillo.
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Quando “Mamãe, Mamãe, Mamãe” chegou ao fim, não me surpreendi ao ver que os nomes nos créditos indicavam a quase totalidade de mulheres na equipe. Afinal, trata-se de um filme essencialmente feminino.
Se a tragédia inicial do longa argentino é o gatilho para abordar o luto, um dos temas do filme, ela também abre espaço para criar a situação na qual a jovem Cleo deverá dividir seus dias de férias de verão com as primas, já que sua tia se dispõe a ajudar sua mãe.
A paleta de cores lavadas, que indica os dias quentes e ao mesmo tempo mantém o ar de tristeza, se combina perfeitamente com os objetos da casa, grande e espaçosa, ainda que simples e um tanto decadente. A cineasta, em seu primeiro trabalho, retrata com muita proximidade e diversos closes cada atividade das meninas, que vivem idades diferentes, entre a infância e o início da adolescência.
O espectador é levado a sentir cada momento vivido por elas: o poder de seduzir sendo descoberto pela prima mais velha, a vontade que Cleo tem de exprimir os sentimentos represados, o ritual criado para celebrar a primeira menstruação, assim como a relação delas com a morte e a vida representada pelos cuidados com o coelho e as histórias de supostos sequestros.
Com apenas 65 minutos de duração, “Mamãe, Mamãe, Mamãe” poderia ter mais tempo, tamanho é o envolvimento que a narrativa cria com o espectador. Uma das características responsáveis por isso é a atuação das garotas: todas exalam verdade e conversam com uma naturalidade difícil de se ver em crianças.
Uma escolha de Pichon-Rivière que nos mergulha ainda mais na realidade da protagonista é raramente mostrar o rosto das mulheres adultas. Quando o faz, é do ponto de vista da altura de Cleo, e isso se vê especialmente no abraço entre ela e sua mãe.
E mesmo que o longa evoque melancolia e certa morosidade, ele ainda consegue ser otimista, oferecendo uma solução rápida que funciona como um acalento, o que contrapõe os momentos iniciais. Se o cinema argentino sempre foi acima da média, o primeiro trabalho da cineasta Sol Berruezo Pichon-Rivière apenas prova que ele não pretende deixar de ser.