“Indianara” ganha Mostra Ecofalante
O longa brasileiro Indianara é o grande vencedor da Competição Latino-Americana da 9ª Mostra Ecofalante de Cinema. O documentário dirigido por Aude Chevalier-Beaumel e Marcelo Barbosa acompanha a revolucionária Indianara Siqueira, uma militante que luta com seu bando pela sobrevivência das pessoas transgêneras no Brasil. A obra foi premiada com o troféu Ecofalante e R$ 15 mil na noite desta quarta-feira, 16 de setembro, na Cerimônia de Premiação do evento, transmitida ao vivo pelo Facebook e Youtube.
Segundo o júri, composto por Beth Formaggini (cineasta), Caru Alves (diretora, produtora e roteirista) e Kiko Goifman (antropólogo e diretor), Indianara “é um filme que tem uma personagem inacreditável, uma personagem completamente surpreendente, forte e urgente. Ao mesmo tempo, o olhar da direção é muito cuidado. É um filme interessantíssimo, que não é do passado nem do futuro, é um filme do presente”.
O longa Estou Me Guardando para Quando o Carnaval Chegar, de Marcelo Gomes, recebeu menção especial do júri “por fazer uma crítica sagaz e criativa dos efeitos do empreendedorismo em uma população rural do Pernambuco, revelando a face mais brutal da indústria do tecido”. O colombiano Suspensão, de Simón Uribe, também recebeu menção especial; segundo o júri, “é um documentário de grande força estética e narrativa que nos faz refletir sobre a reação da natureza às mudanças climáticas e às políticas desastrosas de governos latino-americanos, que nós bem conhecemos por aqui, com relação ao meio ambiente. Suspensão nos faz perceber com todos os nossos sentidos, através de uma linguagem inovadora, a grandiosidade da Floresta Amazônica e a fragilidade das suas populações”.
O documentário Soldados da Borracha, de Wolney Oliveira, foi o vencedor do Prêmio do Público na categoria longa-metragem. O filme documenta a saga de cerca de 60 mil brasileiros enviados para a região amazônica pelos governos do Brasil e dos Estados Unidos durante a segunda Guerra Mundial em um mirabolante plano para extrair látex, material estratégico imprescindível para a vitória dos Aliados.
O Prêmio do Júri de Melhor Curta foi para Mamapara, de Alberto Flores Vilca, “por fazer um retrato comovente que consegue capturar a dignidade de uma mulher solitária que vive no altiplano peruano, fazendo uma síntese da América Latina em toda a sua complexidade”. A coprodução Peru/Argentina/Bolívia retrata Honorata Vilca, uma senhora analfabeta de ascendência quíchua que mora com seu cão e se dedica à venda de doces. O curta ganhou o troféu Ecofalante e R$ 5 mil de prêmio.
O colombiano O Delegado, de Samuel Moreno Alvarez, recebeu menção especial do júri na categoria curta-metragem “por tratar de questões socioambientais importantíssimas, inclusive sobre a questão indígena; por ser uma mistura, ou uma dificuldade de identificar, se é um documentário ou uma ficção; e principalmente pela complexidade de um personagem extremamente rico”. O curta brasileiro Guaxuma, de Nara Normande, também recebeu menção especial; segundo o júri, o filme é “um libelo ao amor, à amizade, à liberdade de criação e de gênero, tão importante nesses tempos de avanço do autoritarismo e da censura no Brasil. Uma animação inovadora que mostra as transformações na vida de uma menina e de um lugar”.
O Prêmio do Público na categoria curta-metragem foi para Resplendor, de Claudia Nunes e Erico Rassi, que aborda um capítulo ainda muito obscuro da nossa história: a existência de um centro de detenção indígena em Minas Gerais chamado Reformatório Krenak durante a ditadura militar. O documentário mostra como funcionou esse campo de concentração e as consequências desse trauma coletivo para os povos indígenas afetados.
Concurso Curta Ecofalante
O grande vencedor do Concurso Curta Ecofalante foi O Verbo Se Fez Carne, de Ziel Karapotó, da Universidade Federal de Pernambuco. No filme, o diretor utiliza seu corpo para denunciar cinco séculos de colonização e suas consequências nos povos originários. Segundo o júri do Concurso Curta, composto por Felipe André Silva (cineasta e escritor), Gabriela Yamaguchi (Diretora de Sociedade Engajada do WWF-Brasil) e Kênia Freitas (professora, crítica e curadora de cinema), o filme foi escolhido “por abordar de forma poética e fabular temas centrais ao cinema brasileiro como a colonização e a perseguição ainda permanente dos povos indígenas, com uma experimentação formal e performática precisa e incisiva”. O curta ganhou o troféu Ecofalante e R$ 4 mil de prêmio.
O júri concedeu menções especiais a dois filmes do Concurso: Território: Nosso Corpo, Nosso Espírito, de Clea Torres e João Paulo Fernandes (da Universidade Federal de Mato Grosso), “por construir uma narrativa com características cruciais do cinema documental – a representação a partir das falas das mulheres indígenas, a conexão do público à defesa dos povos dos territórios e o chamado a olhar – rostos, gestos e seus significados”; e Estado de Neblina, de Bruno Ramos (do Centro Universitário Senac, de São Paulo), “pela proposta criativa de unir um cinema social e atento com a experimentação da ficção científica, criando assim uma distopia que se utiliza do olhar sobre uma infância perdida para falar do agora e de que caminhos estamos trilhando”.
O vencedor do Prêmio do Público foi Hoje Sou Felicidade, dos diretores João Luís e Tiago Aguiar (da Universidade Federal de Pernambuco). O curta tem como protagonista Aldir Felicidade: negro, cadeirante, periférico e intérprete de samba 14 vezes campeão de desfile das escolas de samba no carnaval de Recife.
Novos prêmios do público
Novidade desta edição, a Mostra Ecofalante criou dois novos prêmios escolhidos pelo público: Melhor Filme do Panorama Internacional Contemporâneo e Melhor Filme da Mostra.
No Panorama Internacional Contemporâneo, o Prêmio do Público foi para o australiano Triste Oceano, de Karina Holden. Através de entrevistas com apaixonados ativistas, o filme desvela a história das mudanças em nosso oceano para defender a necessidade de preservá-lo.
Já o vencedor de Melhor Filme Longa Metragem da Mostra pelo Público foi o longa Soldados da Borracha, de Wolney Oliveira.