Crip Camp resgata a origem da luta pelos direitos dos deficientes
Se tem uma coisa que o casal Obama sabe fazer, além de política, é escolher quais projetos cinematográficos eles vão apoiar e investir. Após vencer o Oscar de Melhor Documentário com American Factory, a Higher Ground Productions, empresa fundada por Michele e Barack Obama, atuou como produtora executiva do documentário Crip Camp: A Revolução pela Inclusão. Com estreia mundial no Festival de Cinema de Sundance de 2020 o longa ganhou o prêmio do público, e chegou a catálogo da Netflix em março.
Crip Camp é sensível e extremamente surpreendente. O documentário apresenta um acampamento de verão no começo da década de 1970, em Nova York um tanto diferente e especial, já que, ele é projetado para adolescentes com deficiência.
O que parece ser uma narrativa um tanto simples, sobre um local onde jovens, os quais durante toda sua infância e parte da juventude eram excluídos da sociedade e tratados como inválidos, podem experimentar o sentimento de liberdade. Entretanto, aquele acampamento se torna ponto de partida para o maior movimento de luta pelos direitos dos deficientes nos EUA.
Desde o início do documentário o espectador a conhece as histórias de diversos deficientes que, relatam as dificuldades e os preconceitos sofridos ao longo de suas infâncias e adolescências. A descoberta de um acampamento de verão para deficientes mudou a vida de milhares de jovens, que dentro do Crip Camp puderam realizar desejos, expor suas dores e sentir compreendido por outros que passam pelos mesmos desafios dentro de suas famílias e na sociedade.
As amizades construídas são os pilares de uma revolução, que mostrou aos norte-americanos que os deficientes fazem parte da sociedade e devem ter seus direitos garantidos.
Crip Camp tem uma narrativa muito bem construída e um roteiro bem amarrado. Apesar de deixar o prato principal para a segunda metade, o que pode incomodar os mais apressados, o acampamento e seu papel na vida dos personagens é fundamental para o desenvolvimento e conclusão do filme. Sem deixar pontas soltas, Crip Camp costura bem as histórias e nada disso seria possível sem o acampamento.
Em suma, a produção é uma ótima pedida para conhecer a origem do movimento pelos direitos dos deficientes, a qual se une estritamente com a história dos EUA, e o fracasso da Guerra do Vietnã. Já que o grande número de sobreviventes da guerra retornava do conflito deficientes, entregues à própria sorte. E claro, não possível não lembrar do longa Nascido em 4 de Julho, estrelado por Tom Cruise, o qual narra a trajetória de Ron Kovic, que ficou paraplégico na guerra do Vietnã, e em certo momento se une ao movimento dos ativistas deficientes na luta por direitos.
Crip Camp é sobre representatividade, inclusão social, resistência, quebra de preconceitos e paradigmas, autoconhecimento, respeito e acima de tudo os laços da amizade. Ficarei surpreso caso não apareça entre os principais concorrentes ao Oscar.