Crítica: Ligue Djá: O Lendário Walter Mercado - Cinem(ação)
3 Claquetes

Crítica: Ligue Djá: O Lendário Walter Mercado

Documentário “Ligue Djá” homenageia a figura icônica do astrólogo Walter Mercado e o conecta com os tempos atuais.

Ficha técnica:
Direção: Cristina Costantini, Kareem Tabsch
Nacionalidade e Lançamento: Estados Unidos, 8 de julho de 2020 (estreia mundial em streaming – Netflix)
Sinopse: Todos os dias, ao longo de décadas, Walter Mercado — o astrólogo icônico que não seguia limitações de gênero — encantava 120 milhões de telespectadores latinos com sua extravagância e positividade.

Algo inexplicável me empolgou a assistir ao documentário “Ligue Djá: O Lendário Walter Mercado”. Talvez seja essa a mesma força inexplicável que o tornou um ícone popular ao longo de muitos anos no mundo latino-americano.

Com o objetivo de traçar toda a trajetória de vida do astrólogo que encantou milhões com suas roupas espalhafatosas e seu jeito feminino, o documentário toma algumas decisões que o enriquecem, como optar por usar desenhos para alguns momentos dos quais não se tem imagem – e que vão da infância de Walter até um julgamento importante que ocorreu em sua vida. Mesmo com uma narrativa que segue o óbvio caminho cronológico, o longa é eficaz em mostrar alguns momentos de intimidade da velhice do biografado e alternar com entrevistas que revelem os acontecimentos aos poucos, ainda que algumas pareçam pouco relevantes.

Com o claro objetivo de ser uma homenagem enaltecedora de Walter Mercado, o filme jamais questiona a boa intenção dele ou sua guinada aparentemente repentina para a astrologia. Se considerarmos o fato de que ele foi ator e cantor, é possível que os programas de televisão sobre astrologia tenham sido apenas um atalho do ator para o sucesso – afinal, trata-se de uma espécie de espetáculo. Mas o documentário não fala disso.

Há um vilão, no entanto. Nota-se o fato de que Bill Pakula, gerente do guru latino, some por alguns minutos dos depoimentos justamente quando se fala nele e no golpe que ele deu no artista. Pouco depois, ele é esquecido. Talvez Walter Mercado não tivesse se tornado tão grandioso sem a visão megalomaníaca do empresário, mas não se perdoa alguém que explorou e lucrou em cima de uma figura tão amável e inocente.

Não é apenas pelo sucesso que fez e pelo ícone que se tornou que Walter Mercado mereça um documentário. Sua forma de encarar a vida e de promover o sincretismo religioso foi única, assim como sua maneira de entender a si mesmo e de representar o diferente – ainda que Walter optasse por não ser totalmente sincero sobre isso. Mentir a idade e afirmar sempre que estava radiante e feliz era como ele manifestava seu amor à vida. Tudo isso, junto de suas mensagens positivas, é o que agradava tanto as massas.

Walter Mercado fez em sua época o que muitos coaches tentam fazer hoje: dizia o que as pessoas queriam ouvir. Astrologia nunca foi algo visto como sério, ainda que seu entorno místico sempre atraia até mesmo os mais céticos, e isso combinava perfeitamente com sua raiz teatral. “Ele nunca dizia algo negativo”, resumiu uma entrevistada. Assim, dizendo aquelas coisas genéricas que Mercado dizia na TV, sempre finalizava desejando “mucho mucho amor”, (título original do filme).

Sem saber e talvez sem querer, Mercado encorajava os imigrantes latinos, as abuelas de todas as Américas, e até mesmo muitos jovens gays, que se identificavam com sua figura de alguma forma. Isso o doc faz bem em notar, assim como o fato de sua figura ser conhecida até mesmo pelos jovens de hoje, que não o viram na TV. Há uma inocência carismática em sua figura. “Ligue Djá: O Lendário Walter Mercado” é um documentário que serve seu propósito mesmo sem grandes arroubos. Seu mérito está em conectar uma figura excêntrica aos tempos atuais. Um astrólogo que buscava fazer coisas boas e pregar o bem, diferente de outros “colegas de profissão” dos dias de hoje.

  • Nota
3

Deixe seu comentário