The Night Manager
O formato de minisséries veio para ficar! Nos anos 90, 2000, a grande maioria dos seriados possuíam 23 episódios de 23 minutos com intervalos, totalizando 30 minutos aproximadamente. Quem lembra de Friends, How I Met Your Mother, The Big Bang Theory, Modern Family, entre várias outras? Com a chegada dos Serviços de Stream o mercado sofreu uma revolução e o cliente percebeu que poderia escolher o que assistir quando quisesse, sem ter que esperar o horário certo da atração passar na TV e sem a necessidade de se limitar a apenas um episódio por dia.
O mundo vive a era da customização ou seja, os produtos são criados e pensados para os gostos individuais do cliente. Por exemplo, os adolescentes e jovens de todo o Brasil que nasceram até os anos 2000, provavelmente tiveram as mesmas referências musicais – salvo regionalismos – com a cultura pop/rock, que era divulgado nas rádios. Os primeiros Ipods e MP3 iniciaram a cultura de customização musical, uma vez que as pessoas podiam montar suas playlists (no início, muito ainda baseado no que se ouvia nas rádios e festas) e ouvir suas músicas preferidas quando bem entendessem. Hoje em dia, é muito provável que pessoas da mesma idade, que inclusive morem na mesma casa, tenham gostos e padrões musicais totalmente diferentes uns dos outros.
Isso vale para os primeiros serviços de stream, cujo catálogo inicial era composto por filmes “antigos”. Essa revolução, sem dúvida, deu-se pelo avanço da tecnologia, pelos novos canais que substituíram os então, tradicionais e a evolução da BigData, ou seja, a capacidade das empresas aprenderem por meio de rastreamento de padrões de uso, preferências individuais, regiões e culturais, como seu cliente se comporta e a partir disso, criar ofertas personalizadas para cada um. A exemplo disso temos o Spotify, que sugere músicas, álbuns e cria playlists personalizadas para cada assinante baseado no histórico. Outro exemplo são os “market places”/varejistas, que criam ofertas baseado em seu histórico de busca nos sites das próprias empresas e em redes sociais, sites de busca e afins. Evidentemente, o mercado de TV não ficaria para trás e rapidamente “ajustou” (ou vem tentando ajustar) o formato, conteúdo e duração de suas produções de modo a permitir que o telespectador maratone seu seriado favorito.
O formato de minissérie é uma segunda evolução, a meu ver. Não que isso seja algo que já não existisse nas TVs, mas no stream é algo recente. Muitas vezes quando se pensa em começar uma série nova, as pessoas analisam a duração dos episódios e a quantidade de temporadas para tomarem uma decisão se estão dispostas a assumir esse “compromisso”. É aí que brilha as minisséries. Se bem-feitas, elas conseguem entregar uma certa profundidade de personagens, cenas ótimas e uma grande produção, sem o peso do compromisso a longo prazo para o espectador.
A Amazon Prime vem investindo pesado nesse formato e um grande nome é The Night Manager (O Gerente Noturno). A série é composta por 06 episódios de, aproximadamente, 1h cada. O tempo total é curto o suficiente para assistir em um final de semana e os episódios são longos o suficiente para criar um clima e desenvolver os personagens a cada episódio, sem tantas interrupções se tivesse a duração “normal” de 23m.
O elenco é, tecnicamente, muito poderoso. Hugh Laurie (House), Tom Hiddleston (Loki, Os Vingadores) são os protagonistas e a direção é de Susanne Bier, vencedora do Oscar por “Num Mundo Melhor”. Preciso dizer mais alguma coisa? Os atores criam uma tensão dramática de alto nível para um seriado de espionagem. No final fica difícil saber exatamente quem é o vilão(ões). Se isso não te convenceu, o seriado ganhou 3 globos de ouro em 2017 e as paisagens naturais e urbanas maravilhosas foram filmadas no Cairo, Londres, Suiça, Madrid, Palma de Maiorca e Marraquexe.
O que eu menos gostei foi que, apesar de mais profundo do que a maioria das séries e filmes de espionagem, o roteiro não aprofundou tanto quanto eu gostaria e os personagens poderiam ter sido mais trabalhados. Com um elenco desses em mãos, faltaram algumas cenas mais difíceis tecnicamente, que exijam mais dos atores como variedade de emoções, senso de perigo etc.
A atriz Elizabeth Debicki que ganhou um prêmio de melhor atriz em papel de apoio pelo O Grande Gatsby, chama a atenção por sua atuação e beleza exuberante, enquanto que Olivia Colman (Fleabag) demora um pouco a convencer em seu papel, mas chega lá.
Os fãs de 007 talvez se decepcionem pelo pouco conteúdo de ação ao estilo Hollywood, contudo podem se surpreender com alguns diálogos e atmosfera majoritariamente britânica. Por fim, a série não é genial – e não é seu objetivo – mas é muito acima da média e com certeza vale o tempo investido que, afinal de contas, é apenas um final de semana.