A Primeira Guerra Mundial em 7 Filmes
Guerra de trincheiras, guerra por territórios ou guerra das guerras, a Primeira Guerra Mundial causou um impacto enorme em poucos anos, ceifando a vida de milhões de pessoas em todo o planeta. Acontecimento grandioso que mudou para sempre a história da humanidade, essa guerra durou de 1914 e 1918, e nela o mundo testemunhou o uso das armas mais poderosas e letais vistas até então, além do uso de aviões de combate e tanques de guerra. Naquele tempo, o tirano Adolf Hitler ainda não tinha todo o poder que fez dele o mais insano e temido ditador do século 20. Mensageiro e cabo do exército alemão, com o fim da guerra, 21 anos depois, após sucessivos acordos, uniões e traições, Hitler assombraria o mundo na Segunda Guerra Mundial.
A Primeira Guerra não foi tão mostrada pelo cinema quanto a Segunda Guerra. Não me refiro a filmes de outros gêneros que se passam entre 1914 e 1918, mas filmes de guerra que mostram a guerra como principal elemento na trama. Se observarmos atentamente, veremos que, além de (relativamente) poucos filmes sobre a Primeira Guerra, o cinema mostrou esta guerra de forma mais dramática, diferente da Segunda Guerra, onde vários filmes têm um caráter aventureiro, com missões envolvendo heróis e espiões.
Vamos lembrar de sete filmes que se passam em meio à Primeira Guerra; em especial, filmes com conflitos dentro do campo de combate. “Lawrence da Arábia” (1962. Direção: David Lean) é provavelmente o melhor filme sobre a Primeira Guerra, mas ele ficará de fora dessa lista, porque falaremos sobre ele em um artigo à parte.
A Primeira Guerra em 7 Filmes
Sem Novidade no Front (1930). Direção: Lewis Milestone.
Durante a guerra, jovens soldados alemães descobrem que o conflito no campo de combate é muito diferente do que eles ouviam falar. Perdidos em meio à toda a barbárie, eles vivem momentos de angústia e medo.
Um dos melhores filmes vencedores do Oscar principal, “Sem Novidades no Front” é uma verdadeira obra-prima não apenas do gênero guerra, mas do próprio cinema mundial. Vencedor do Oscar de melhor filme e direção, a obra – baseada no livro do escritor alemão Erich Maria Remarque – é antibélica e foge da fórmula romântica de outros filmes do gênero. Uma crítica ácida que denuncia os atos de doutrinação sofridos por jovens voluntários, onde estes eram convencidos a participar de uma guerra impiedosa e desumana. Depois desse filme, o diretor Lewis Milestone e o ator Lew Ayres fariam uma bem sucedida carreira no cinema.
Sargento York (1941). Direção: Howard Hawks.
A história real de Alvin Cullum York, soldado norte-americano que se destacou na guerra por seus atos de bravura, se tornando o mais condecorado de seu país na Primeira Guerra.
Primeiro dos dois Oscars que o astro Gary Cooper recebeu (o segundo foi pelo western “Matar ou Morrer”), fazendo um personagem forte, com muita determinação e coragem. A direção do genial Howard Hawks enfatiza na primeira metade do filme a vida rural de York no Tennessee, deixando as cenas de combate para a segunda metade. Nada é apressado, mas contado de forma sincera e humana. O elenco de apoio é muito bom, com o excelente Walter Brennan interpretando um pastor. Entre os roteiristas, está o célebre John Huston. Venceu ainda o Oscar de melhor edição.
Glória Feita de Sangue (1957). Direção: Stanley Kubrick.
Três soldados franceses são condenados à morte depois que seu pelotão falha em uma missão suicida, tendo um saldo de vários soldados mortos e feridos. O coronel, líder do grupo (que também é advogado criminalista), tenta interceder por eles.
Este é o primeiro grande filme da carreira do genial Stanley Kubrick (“2001: Uma Odisseia no espaço”, “Laranja Mecânica”, “O Iluminado”), onde ele tem a primeira das duas parcerias com o astro Kirk Douglas no cinema (eles fariam em 1960 o épico “Spartacus”). Filmado em preto e branco, o filme mostra que a guerra é um jogo de ordens vindas de oficiais dispostos a fazer carreira e sucesso. Com cenas fortes – como a do ataque em campo aberto -, Kubrick utiliza seu talento para criar grandes momentos, em uma obra atemporal e necessária. “Glória Feita de Sangue” é eleito por muitos um dos melhores filmes de guerra já realizado.
Gallipoli (1981). Direção: Peter Weir.
As ansiedades, alegrias e tristezas de dois amigos que se lançam na Primeira Guerra, na batalha de Gallipoli, em um dos mais violentos combates já registrados entre todas as guerras.
O diretor Peter Weir mostrou muito talento e versatilidade em excelentes obras como “A Testemunha” (1985), “Sociedade dos Poetas “Mortos” (1989) e “O Show de Truman”. Antes, porém, ele dirigiu, entre outros, “Gallipoli”, um drama de guerra filmado na Austrália. Um projeto pessoal e ambicioso que ajudou a lançar o astro Mel Gibson ao estrelato. Gibson faria posteriormente com o diretor Weir o bom “O Ano em que Vivemos em Perigo” (1982). Estrelado ainda por Mark Lee e Bill Kerr, “Gallipoli não mostra a guerra de forma panfletária, preferindo apostar na construção dos dois protagonistas e a forma como eles encaram todo aquele horror.
Feliz Natal (2005). Direção: Christian Carion.
Na noite de Natal, oficiais e soldados franceses, escoceses e alemães se protegem em suas trincheiras, até que todos eles se unem em uma confraternização, dando uma trégua na guerra, em um raro momento de paz.
Merecidamente indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2006 (perdendo para o sul-africano “Infância roubada”), “Feliz Natal” é um filme necessário nos turbulentos dias atuais. Baseado em uma impressionante história real, o filme carrega uma mensagem de alento e esperança poucas vezes visto em um filme de guerra. Talvez o mais antibelicista dos filmes do gênero do cinema moderno, a obra dirigida pelo também roteirista Christian Carion é extremamente bem feita. No elenco afiado, destaque para Guillaume Canet (o tenente francês), Gary Lewis (o padre escocês), Diane Kruger e Benno Fürmann (o casal de sopranos).
Eles Não Envelhecerão (2018). Direção: Peter Jackson.
Documentário remasterizado e colorizado digitalmente, que narra momentos reais vividos por soldados e oficiais na linha de frente de batalhas na Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918).
Depois de se consagrar com as trilogias “O Senhor dos Anéis” (2001 a 2003) e “O Hobbit” (2012 – 2014), o diretor Peter Jackson se aventurou em uma difícil jornada: Colorizar e sonorizar imagens raras gravadas durante a Primeira Guerra. Jackson e sua equipe ainda foram além, transformando o que eram 16 quadros por segundo em 24 quadros por segundo, dando assim a impressão que aquelas cenas foram filmadas há pouco tempo, principalmente também por mudar a imagem para o formato widescreen. Para tornar tudo ainda mais verdadeiro (cinematograficamente) aos dias de hoje, foram inseridas narrações de oficiais e soldados, captando todo o terror vivido naquela época.
1917 (2019). Direção: Sam Mendes.
Dois amigos soldados recebem uma missão perigosa: levar uma mensagem para o alto comando. A mensagem irá salvar a vida de mais de mil soldados nas trincheiras.
Indicado a 10 Oscars e vencedor de três prêmios da Academia (melhores efeitos visuais, fotografia e mixagem de som), “1917” é o novo trabalho do diretor Sam Mendes (Oscar de direção por “Beleza Americana”). Tendo dirigido o melhor filme da franquia James Bond (“007 – Operação Skyfall”), Mendes retorna em grande estilo em uma história baseada em acontecimentos vividos por seu avô durante a Primeira Guerra. O filme nos dá a impressão de que é todo filmado em dois longos plano-sequências, com o uso de excelentes efeitos visuais que tornam crível essa proposta. Com um roteiro simples, porém eficiente, a força de “1917” reside em sua impecável parte técnica.
Em breve: A Segunda Guerra Mundial em 7 Filmes
Colaboração: Ana Luiza