Crítica: Todas as Sardas do Mundo (Original Netflix)
Todas as Sardas do Mundo é o primeiro original Netflix do ano. E vindo da ressaca pós-Irlandês/Dois Papas/História de um Casamento, o nosso querido serviço de streaming tem margem para voltar a errar. O longa mexicano é bem raso, apesar que dentro do gênero (filme para o público infanto-juvenil) tem uma ou outra ideia diferente.
O plano de fundo aqui é a Copa do Mundo de 94, mas o foco é a história de José Miguel (Hanssel Casillas). Um inventivo garoto, que fisicamente parece estar alguns anos aquém dos colegas, e que ao chegar no colégio novo se apaixona justamente pela menina mais bonita (esta, claro, namora um jogador de futebol). Além disso, temos arcos com o pai ausente, a irmã fã de futebol, o amigo atrasado na escola (que tem um sub-arco no mínimo estranho), a amiga que gosta de música e um diretor saudosista.
Pelo panorama, percebe-se que o longa de pouco mais de 1h30 não daria conta de tudo. Talvez se fosse uma série Todas as Sardas do Mundo poderia ter algum desenvolvimento. Aqui, contudo, temos apenas caracteres bem básicos. Talvez ele devesse se chamar “todas as histórias do mundo”. Como causa ou consequência disso, a montagem é bem problemática. As transições são duras e várias cenas soam inacabadas.
Os adolescentes são basicamente clichês e os adultos não parecem humanos – é aquela velha máxima de em filmes com esse viés etário, os adultos são quase vultos caricatos. No entanto, os movimentos “errados” do protagonista o tornam ironicamente passível de uma identificação. Não temos aqui um personagem perfeitinho e isso é bom. Em certo nível é possível se engajar pelo jovem – reitero: mesmo ele sendo bastante babaca às vezes. O engajamento é narrativo e não como identificação secundária.
As resoluções são um pouco apressadas, mas tem um ou duas ideias que saem do convencional. Uma cena resolvendo o conflito de três personagens é bem bonita até. E nas cenas durantes os créditos tem umas piadinhas que podem divertir.
O grande problema em Todas as Sardas do Mundo é a montagem. Trabalhado com mais cuidado e aliando com um roteiro desenvolvendo algumas das faíscas levantadas até que seria mais palatável.