CRÍTICA(2): STAR WARS: A ASCENSÃO SKYWALKER (2019)
Star Wars Episódio IX tinha uma missão clara… Trazer os fãs de volta para dentro da saga após o baque de The Last Jedi. Não porque o filme anterior era ruim (não é), mas sim por ter sido tão mal recebido pelo público que realmente importa: o que gasta dinheiro comprando sua marca. A contratação de JJ para esse episódio final evidencia ainda mais esta missão, já que sua principal capacidade é a de recriar elementos já prontos e repassá-los ao público de forma sentimental e nostálgica (alguns exemplos são Star Trek, Super 8 e O Despertar da Força).
(Caso você tenha problemas em saber até a espinha dorsal da história pode considerar esse parágrafo um spoiler)
Após o final de The Last Jedi a resistência passa por grandes dificuldades, pois houve várias baixas e ela não consegue mais recrutar pessoas nos planetas, pois a maioria está com um tanto de medo da Primeira Ordem. Já Kylo Ren, agora líder Supremo depois de ter assassinado Snoke, recebe um chamado de Palpatine que de alguma forma retornou à vida e quer reconstruir o Império. E é nessa dinâmica de reconstrução de um lado e finalização de outro que o fio condutor do roteiro é traçado.
(Fim do parágrafo com Spoiler)
A estrutura do longa divide-se entre o núcleo de Rey e Kylo. Praticamente toda cena do longa tem um dos dois personagens em tela ou personagens falando sobre eles. Assim como em O Retorno de Jedi (o fim da trilogia clássica), este Episódio IX segue a linha de confronto direto entre duas figuras antagônicas, que acabam se completando de alguma forma. Luke x Vader, Rey x Kylo. Com apenas uma ou outra dinâmica diferente. Outra coisa semelhante entre os dois filmes é a utilização de um humor bastante ingênuo, em Retorno de Jedi nós temos os Ewoks fazendo um humor bobinho pro filme, aqui nós temos o C3PO fazendo esse papel.
Contudo, essa ideia de estruturar um filme com cheiro de Star Wars para trazer os fãs de volta para dentro da saga trouxe algumas consequências que incomodam bastante. JJ, que também assina o roteiro, decide usar poucos elementos de The Last Jedi e por conta disso acaba recontando e voltando em elementos já batidos no episódio anterior, apenas para que possa fazer de sua própria maneira e do jeito “Star Wars”, causando uma correria desenfreada de acontecimentos logo no começo, sem deixar o espectador respirar ou ficar por dentro da história. Várias e várias ações acontecendo simultaneamente e informações sendo jogadas para o espectador, que acaba não se tornando insuportável pela boa inserção de humor no meio dessa maçaroca toda.
Outra coisa que prejudica bastante é o foco total em dois personagens, deixando de lado todos os outros secundários que tornam-se apenas muletas narrativas ou figurantes de luxo. O único arco narrativo de Finn e Poe está em encontrar interesses amorosos para eles sem nunca, literalmente, acontecer nada. A nova personagem mascarada (eu realmente esqueci o nome dela) aparece apenas para entregar um objeto a Poe que irá servir de Deus Ex machina mais para frente. Rose não há o que comentar, JJ decide simplesmente colocar apenas duas frases em sua boca.
Mas não é apenas isso que incomoda, o Episódio IX é visualmente pobre. Tirando o enquadramento final (muito parecido com um usado em The Last Jedi e Uma Nova Esperança) não há qualquer outro momento de tirar o fôlego ou que você se pegue pensando “nossa, olha só o que estou vendo”. O filme usa cores chapadas em vários momentos e extremamente escuras em outros, não há qualquer cena mais imaginativa como o confronto nas salinas ou na sala vermelha de The Last Jedi, ou a fatídica morte de Han Solo no hangar em O Despertar da Força. É tudo muito automático, parece que sentaram em uma sala de reunião e a primeira ideia de como realizar a cena é a que foi filmada. O uso das cores tão conhecidos de Star Wars também não se encontra aqui.
Além de tudo isso que foi citado acima, precisamos falar sobre as cenas de ação. Bom, primeiro devemos pensar em Star Wars e em suas cenas de ação que são divididas em três cenários: Espaço/luta de nave, terra/sabre de luz e terra/força, os últimos dois acabam se entrelaçando diversas vezes. Em Episódio IX as lutas no espaço são quase inexistentes e, as que têm, acabam focando muito mais no rosto dos pilotos dentro das naves ou em um monte de naves na tela atirando para qualquer lugar. É quase assombroso pensar que o mesmo JJ dirigiu uma das melhores cenas de ação da franquia em O Despertar da Força, na qual vemos Finn lutando em terra enquanto naves, em segundo plano, duelam no céu e aqui ele apenas faça um serviço simples e pobre. Já os duelos de sabre de luz acabam sendo o mesmo que em O Despertar da Força, são duelos bastante físicos e com movimento viscerais remetendo muito mais a franquia clássica do que o balé bolshoi das prequelas, são lutas bem coreografadas para sua proposta mas nada além disso. A força? Bem a força que em The Last Jedi é trabalhada de forma muito mais filosófica do que atuante, aqui é usado apenas como trampolim – literalmente, sério – para personagens saltarem a altura e distância inimagináveis, o que acaba sendo engraçado já que várias vezes a Rey se mata para subir em algo sendo que apenas poderia usar a força. Porém preciso ser justo, já que em uma cena específica o duelo de uso da força é magnífico, pena que a consequência deste duelo é jogada no lixo dois minutos depois.
Afinal, o que há de tão especial neste Star Wars, ou então, será que há algo especial nele? Há sim, ele é muito Star Wars. Esquecendo os problemas técnico nós temos um filme com cheirinho de Star Wars. A Space Opera mais querida do mundo é bem representada com uma trilha sonora, como sempre, deslumbrante, e reviravoltas na trama digna de novela mexicana. E digo isso como algo bem legal, afinal Star Wars sem um problemão familiar não é Star Wars. O apressado roteiro é pensado para trazer todos esses elementos que tanto fizeram essa franquia ser um fenômeno de volta e consegue isso direitinho.
O humor ingênuo, os personagens canastrões e carismáticos, os personagens de visuais maravilhosos para vender boneco e ficar bonito na sua estante. Tudo isso tem neste filme. Além de manter aqui um pensamento de esperança. A esperança sempre permeou Star Wars e aqui não é diferente, aprendemos que precisamos acreditar na força dentro de nós, acreditar que podemos melhorar sempre e que nosso destino está somente em nossas mãos e que nunca é tarde para recomeçar… sempre, sempre lembrando que tudo fica melhor com pessoas queridas ao nosso lado.
E em um mundo onde o ódio, intolerância, violência e todas esses elementos catastróficos nos trazem um amargor na boca, e que tantos filmes nos lembram como a vida é dura e cheia de sanha, nada melhor do que nossa querida Space Opera para nos fazer rir, nos transportar para uma Galáxia muito, muito distante, e nos fazer lembrar que podemos sim resistir ao lado sombrio e ter esperança que tudo possa melhorar. Afinal, “enquanto há luz, há esperança” e enquanto o espírito de Star Wars estiver vivo, o mundo estará mais iluminado.