Crítica: O Juízo – 43ª Mostra de São Paulo - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
O Juízo – 43ª Mostra de São Paulo - foto: Suzanna Tierie
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Crítica: O Juízo – 43ª Mostra de São Paulo

O Juízo tenta construir tensão e atmosfera sem qualquer estofo em sua base.

O filme está em exibição na 43ª Mostra de São Paulo.

Ficha técnica:
Direção: Andrucha Waddington
Roteiro: Fernanda Torres
Nacionalidade e Lançamento: Brasil, 5 de dezembro de 2019 (24 de outubro de 2019 na 43ª Mostra de Cinema de São Paulo)
Sinopse: Augusto se muda com a família para uma fazenda abandonada que herdou. A intenção é encontrar diamantes que ele acreditava existirem naquelas terras. Mas Augusto acaba seduzido pelo espírito de um traficante de diamantes, que está em busca de vingança há 200 anos.

Elenco: Felipe Camargo, Carol Castro, Fernanda Montenegro, Lima Duarte, Joaquim Torres Waddington, Criolo.

Andrucha Waddington é um baita diretor. É capaz de realizar imagens belíssimas, fotografia angustiante, momentos de tensão e algumas tomadas inspiradas — como duas que mostram pessoas deitadas, vistas de cima, de forma tortuosa, criando uma sensação de estranhamento.

Mas só. A trama começa com certo potencial, com uma família se mudando para uma antiga fazenda herdada pelo marido e pai. A casa antiga sequer tem energia elétrica, e o espectador já viu, na primeira cena, que houve algum problema relacionado a diamantes da fazenda e um antigo escravo liberto (ou algo semelhante).

Daí em diante, é um festival de tentativas. Há fantasmas dos escravos assombrando. Há uma espécie de conta a ser paga pela família, provavelmente pela morte deste escravo. Há uma história antiga mal resolvida entre pais e filhos das famílias. E há uma tentativa de abordar a ganância.

É uma pena, no entanto, que o primeiro roteiro escrito unicamente por Fernanda Torres jogue tudo e não consiga dar força a nada. Podemos notar, por exemplo, que o protagonista Augusto diz mentir para a família o tempo todo, quando na verdade não havia qualquer indício deste fato. Há uma referência ao fato de ele ter sido alcoólatra, mas o roteiro não constrói nada acerca do tema, para mais tarde jogar o personagem totalmente bêbado.

As explicações sobre o pai de Augusto são fracas e não fazem sentido, assim como a construção do ódio dos “fantasmas” que assombram o local. O mesmo pode ser dito da construção da ganância do protagonista: sua busca por mais diamantes na chuva é algo pontual, que vai do nada ao lugar nenhum.

A forma como se dá a relação entre Augusto e Costa Breves, vivido por Lima Duarte, poderia ser interessante. No entanto, os diálogos entre eles pouco contribuem à trama. É como se o mais importante fosse criar uma sensação de mistério em relação aos diamantes e alguns plot twists já típicos de filmes do gênero, e não as explicações para a trama.

No fim das contas, não há imagem com o rosto de Criolo iluminado de forma aterrorizante, e nem Lima Duarte ou Fernanda Montenegro com suas presenças semidivinas que compensem a falta de nexo que é o filme O Juízo. Como se não bastasse, o jovem Joaquim Torres Waddington infelizmente não tem estofo para dar conta do que seu personagem exige. Waddington (o diretor) sempre filmou “em família”, mas deveria escolher um personagem menor para a estreia de seu filho.

O Juízo tinha gente talentosa o suficiente para um ótimo filme, mas não consegue. Uma pena.

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