Crítica: Hebe: A estrela do Brasil , com Andréa Beltrão - Cinem(ação)
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Crítica: Hebe: A estrela do Brasil

Hebe: A estrela do Brasil” é sintomático do seu tempo e traz escolhas interessantes.

Ficha técnica
Direção: Maurício Farias
Roteiro: Carolina Kotscho
Nacionalidade e Lançamento: Brasil, 26 de setembro de 2019
Sinopse: Durante os anos 80, a apresentadora de TV Hebe Camargo decidiu ter mais controle sobre sua própria carreira, exatamente quando precisou lutar contra a censura ao seu trabalho, e ao mesmo tempo em que enfrentou crises na vida pessoal.

É muito positivo que a cinebiografia da apresentadora Hebe Camargo seja bastante focada na época de sua mudança da TV Bandeirantes para o SBT. O período foi marcado por um momento de crise no Brasil, censura disfarçada ao conteúdo da TV e conservadorismo em relação à população LGBT (que, na época, nem recebia essa nomenclatura). A situação ocorreu há mais de 30 anos, mas poderia ter sido hoje.

“Hebe: A estrela do Brasil” passa por esses temas e centraliza a trama no sofrimento de Hebe em relação às tentativas de impedi-la de dizer o que queria, incluindo suas críticas aos políticos e sua insistência em contar com pessoas gays em seu programa.

De fato, Hebe teve esse papel pioneiro na TV e marcou sua carreira com críticas contundentes (ainda que pouco profundas) a diversos políticos – e o filme é corajoso ao não se furtar em exibir o apoio da apresentadora ao então governador paulista Paulo Maluf.

O filme de Maurício Farias também não tem medo de mostrar elementos mais difíceis de Hebe, como sua relação com o marido Lélio, e nem de mostrar o quanto ela tinha horror à Globo (mesmo sendo distribuído pela Globo Filmes e com previsão de se tornar minissérie no canal). Da mesma forma, é curioso notar que ele também não tem nenhum receio de mostrar rostos de personalidades cujas imagens são facilmente reconhecidas pelo público, de Nair Belo a Roberto Carlos e Chacrinha. É uma pena, portanto, que a câmera de Farias pareça circundar os personagens, criando certo suspense antes de mostrá-los, como se pedindo desculpas pela dramatização apresentada.

Oras, é claro que o filme não terá atores extremamente semelhantes às figuras retratadas, e o simples fato de Andréa Beltrão não se preocupar em fazer uma representação extremamente fiel já é ponto de partida fundamental para que o público entenda as representações do filme. Aliás, a câmera sempre atrás dos personagens cria uma visão bastante limitada das cenas. Como resultado, ela mais atrapalha do que nos aproxima das personagens (provavelmente a intenção do diretor). Essa câmera, que insiste em mostrar a nuca da protagonista, pode até mesmo desfavorecer a visão do espectador da atuação de Beltrão, que se mostra excelente justamente por atuar de forma mais naturalista. Tanto que o filme fica mais poderoso justamente quando a câmera se afasta.

“Hebe: A estrela do Brasil” possui um roteiro ao mesmo tempo interessante e contraditório em seus resultados. É claro que a escolha de um recorte temporal na vida da personalidade e evita o excesso típico de cinebiografias que tentam olhar para tudo na vida de alguém. Entretanto, ele parece mais preocupado em retratar algumas idas e vindas de Hebe do que dar foco no plot relacionado às tentativas de censurar seu programa. No fim, nunca sentimos nenhuma real ameaça a ela, nem em relação ao programa, nem diante dos ciúmes do marido.

Mesmo assim, o filme garante momentos interessantes – algumas cenas muito engraçadas – e uma visão pungente da apresentadora e daquilo que ela representou, fechando os arcos dos personagens secundários e mostrando suas influências na vida de Hebe.

Por funcionar como uma lupa para um momento específico e um retrato pontual, “Hebe: A estrela do Brasil” deixa de ser um filme pretensioso, e é nesse ponto que ele sai ganhando.

  • Nota
3

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