Crítica: Rainha de Copas
No dia 12 de setembro estreiou nos cinemas o filme dinamarquês Rainha de Copas. Por não ser uma produção Hollywoodiana, o longa-metragem, que teve sua estreia no Festival de Sundance, chegou timidamente ao Brasil. Apesar de não chamar muita atenção Rainha de Copas traz um enredo instigante se levarmos em conta o recente movimento Metoo.
Dirigido por May el-Toukhy o drama narra a história de Anne (Trine Dyrholm), uma advogada bem-sucedida e especialista em casos de abuso infantil, que vive bem com seu marido Peter (Magnus Krepper) e suas filhas gêmeas. O filme nos apresenta inicialmente um casal com bom relacionamento familiar e bem estruturado.
Porém, as situações cotidianas do casal começam a evidenciar um distanciamento entre ambos, devido à rotina do trabalho. Um dos aspectos positivos do filme é evitar explicações demasiadas, muitas vezes deixando que o espectador capte os elementos subjetivos da trama. Esse artificio faz com que quem assista fique instigado a querer conhecer melhor as personagens e entender o que de fato vai acontecer dentro da casa.
O filme se desenrola quando o jovem Gustav ( Gustav Lindh), filho do primeiro casamento de Peter acaba se mudando para a casa do casal. Anne diante de um casamento morno acaba se interessando pelo enteado, comprometendo sua carreira profissional e a estabilidade familiar. Seu envolvimento com Gustav se torna complexo e arriscado gerando dilemas e consequências.
O longa dinamarquês poderia ser somente mais um filme tratando de um relacionamento proibido, mas, pelo contrário, a direção e roteiro convida o espectador a refletir sobre machismo e abuso sexual. A diretora de forma subjetiva nos faz questionar: e se uma mulher mais velha se relacionasse com um rapaz menor de idade? E se ele a denunciasse? Acreditariam nele? Em cenas em que Anne trabalha com mulheres vítimas de estupro ou de agressão física, o filme nos faz refletir sobre a sociedade machista em que vivemos e nos provoca: se fosse ao contrário?
Anne é a personagem central do filme, onde o espectador acompanha suas ações e atitudes, em uma espécie de jogo de xadrez, fazendo com que o espectador torça por ela muitas vezes, mas questione a moral e a ética da personagem e de si mesmo. Até que ponto devemos ir?
Apesar da boa crítica social, a a direção e roteiro se perdem nos atos finais, dando a impressão de não saber como concluir o drama, tornando o filme longo e cansativo. Era possível apresentar resoluções dos problemas de forma mais simplificada, sem perder a qualidade.
Summary
Um drama instigante e reflexivo sobre uma sociedade machista e os casos de violência e abuso sexual. Porém peca em alguns aspectos do roteiro e deixa a desejar na conclusão da história.