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Crítica: Yesterday (2019)

Explicar quem são os Beatles é quase uma redundância, certo? Errado, caso você esteja no mundo do novo longa dirigido por Danny Boyle (Trainspotting, Quem Quer Ser um Milionário?, Steve Jobs). Imagine que você é um músico sem sucesso e após um incidente mundial você acorda e ninguém mais se lembra da banda mais famosa de todos os tempos, só você tem na cabeça todas as letras e melodias. Será que as diversas músicas que marcaram gerações seriam tão impactantes se fossem apresentadas por você em 2019? Essa é a divertida premissa do roteiro de Yesterday.

Esse “e se…” rende momentos pra lá de criativos. Depois de termos ouvido Beatles centenas ou milhares de vezes será que a gente consegue lembrar como foi o primeiro contato com as canções? Há vários momentos em Yesterday que brincam com isso e a música título aparece de uma forma arrepiante e tem o valor digno de uma das canções mais famosas de todos os tempos. Em contrapartida é muito bem sacado o jeito como Let it Be é apresentada em um desprezo hilário.

E mais: quais as bandas, produtos e demais coisas que foram influenciados simplesmente não existiriam sem o quarteto de Liverpool? Outro acerto certeiro do filme é criar esses cenários em uma piada que não cansa e sempre surpreende. E será que você consegue se lembrar palavra por palavra, sem poder pesquisar no google, as letras da tua banda favorita? O jeito como o filme transita por essas situações são os melhores momentos.

Infelizmente nem tudo são pontos positivos. Essa ideia não sustentaria um filme de quase duas horas, ou pelo menos não sustentou aqui. Então ela acaba virando plano de fundo para uma típica comédia romântica com todos os clichês padrão. Alguns dá até para relevar por estarem envoltos no ponto de partida descrito acima, mas tem horas que soa só como um roteiro preguiçoso e até com alguns furos.

Outro ponto que joga contra é que há uma certa involução no filme. O começo é espetacular. Seria possivelmente nota máxima se continuasse naquela toada. Mas ao poucos a coisa fica corrida e o roteiro com uma série de facilitações. Então dá pra ficar dividido entre o “a primeira impressão é a que fica” e aquele gostinho do que poderia ter sido… é quase um “e se… ” dentro do outro “e se..”, no caso imaginar todo o potencial que havia ali…

Voltando aos méritos, uma palavra define Yesterday: carisma. Obviamente que ao usar quase 20 músicas dos Beatles dificilmente um filme erraria nesse quesito, como bônus a escolha do elenco também foi muito acertada.

Himesh Patel, que atuou basicamente em curtas e séries (confesso que não o conhecia), dá conta do protagonista cheio de questões internas mal resolvidas e desse pepino musical. Vale a nota que o ator interpreta as canções ele mesmo e que elas são gravadas ao vivo. Palmas. Lily James faz a melhor amiga do protagonista e flutua na tela. O sorriso dela tem virado um bait que não me incomodo de morder essa isca. Joel Fry traz um humor mais incisivo e bobão, mas que cabe na proposta. Ed Sheeran faz ele mesmo cumpre de maneira digna com bom tempo em tela.Já a excelente Kate McKinnon infelizmente tem uma personagem um tanto forçada que destoa negativamente, nem tanto por culpa dela.

Por mais que Beatles seja algo de conhecimento público, parte das piadas funcionarem depende de um conhecimento prévio. Semelhante ao que ocorre no Era Uma Vez…em Hollywood . Mas aqui, mesmo que o teu conhecimento seja básico, creio que funciona melhor do que o filme do Tarantino. Ok, que Jonh Lennon ser mais famoso que Jesus e do que a Sharon Tate ajuda….

Yesterday vai aquecer o coração dos fãs, tem personagens engajantes, porém rasos e abre diversas possibilidades de conversas futuras (que outras coisas não existiriam sem a influência da beatlemania?). Mas o gosto final, como consistência cinematográfica, é agridoce.

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