Crítica: O Rei Leão (2019)
O remake ultrarrealista “O Rei Leão” reflete um paradoxo que não deixa de fazer sentido nos dias de hoje.
Ficha técnica
Direção: Jon Favreau
Roteiro: Jeff Nathanson
Nacionalidade e Lançamento: Estados Unidos, 2019 (18 de julho de 2019 no Brasil)
Sinopse: Após a morte de seu pai, o jovem leão Simba foge do reino acreditando ter sido culpado, mas aprenderá que suas responsabilidades precisam ser enfrentadas para que ele retome o trono que lhe é de direito.
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Após defender o filho do resultado de sua irresponsabilidade, Mufasa olha com decepção para Simba, que expressa sua culpa apenas no olhar… mas isso é algo que acontece apenas na animação original, obra-prima de 1994. Na versão de 2019, os leões ultrarrealistas são tão realistas que seus rostos permanecem os mesmos – já que leões de verdade não sentem decepção ou culpa.
É neste paradoxo que se encontra O Rei Leão: sua perfeição e proximidade com a realidade é tão grande que nos afasta, já que abdica daquilo que é mais importante em personagens antropomorfizados: a proximidade com os sentimentos humanos. As vozes ajudam, e tanto James Earl Jones quanto Chilwetel Ejiofor fazem trabalhos incríveis, mas isso não é o suficiente para nos aproximar da mesma forma que na animação original.
As escolhas da câmera de Favreau também são muitas vezes estranhas, especialmente quando se afastam – literal e metaforicamente – dos personagens em longos planos amplos, que fazem deles parte de um cenário muito mais do que personagens únicos.
É claro que o apuro técnico deve ser valorizado, e a capacidade dos profissionais de fazer tanto o ambiente quanto os bichos com tamanho realismo é de cair o queixo. Mas apenas por alguns minutos. Depois que nos acostumamos com o que é plástico, precisamos de sentimento, de profundidade, e infelizmente não temos isso no filme.
Há muito nesta versão de O Rei Leão que não merece aplausos porque é apenas o mesmo da animação anterior: as músicas são lindas, mas são as mesmas (e a única original, cantada pela Beyoncé, não empolga); a história é eficiente, mas é a mesma; e até mesmo algumas piadas são praticamente as mesmas, ou seja, fazem rir tal qual um esquete repetitivo. E diferente das outras adaptações da Disney, esta não traz absolutamente nenhum elemento novo.
Além disso, Favreau faz escolhas que enfraquecem o filme ainda mais. Uma delas é quando ele opta por uma cena anterior ao pôr-do-sol para abrir o filme com um silêncio, em vez de começar direto com o grito clássico (se o filme é todo uma repetição do desenho, por que se diferenciar justo nisso?). A outra é colocar a sequência da canção “Can you feel the love tonight” (Hoje à noite o amor chegou) em plena luz do dia, o que não faz o menor sentido.
A busca pela perfeição fotorrealística que o filme nos apresenta não deixa de ser um reflexo do tempo em que vivemos, no qual as possibilidades tecnológicas permitem emular tudo de forma tão próxima da realidade que nos esquecemos da “alma” que só a verdade nos traz. Verdade essa que é mais fácil de identificar na caricatura e no lúdico.
É como se este O Rei Leão fosse uma foto dos jardins de Monet: pode até ser bonito, mas não supera a pintura original do artista.
Summary
O remake ultrarrealista “O Rei Leão” reflete um paradoxo que não deixa de fazer sentido nos dias de hoje.