“L’avenir” – (2016)
L’avenir é um filme francês que trata de contar o dilema vivido por uma professora de filosofia parisiense que diz respeito tanto a sua crise existencial, quanto a desesperanças, perdas e a uma reconciliação com sua própria liberdade.
A partir de um temporal de revoltas estudantis por conta de uma reforma previdenciária emergente e que se alastra pelo país, Nathalie (Isabelle Huppert) preocupa-se apenas com sua pragmática estrutura professoral e decide não opinar e se envolver politicamente acerca do que ocorre ao seu redor. Apesar do calor efervescente de seus alunos e da tentativa frustrada de proibirem outros deles de frequentarem suas devidas aulas, Nathalie mantém-se firme segundo sua convicção pacífica de não envolvimento e de defesa do direito de aula e do estudo em sala de aula, já que acredita que por estarem protestando não estão aprendendo, logo, não adiantaria de nada permanecer fora das aulas.
Embora o filme traga uma questão pessoal e interna sobre a vida dessa professora, porém, o filme não é sobre isso, ou seja, não concerne somente a uma olhar sobre a vida pessoal de Nathalie e, pelo contrário, através da filosofia, conversa sobre a vida, sobre a filosofia em si – dialética – sobre ideologias de vida e sobre a morte. Ademais, com base em Adorno, o filme critica a visão cultural e industrial a partir de uma visão dos propagandistas da editora a qual Nathalie publica seus livros. É a partir de um olhar crítico quanto aos seus exemplares à nível de pouca venda, também, que um embate de ideias surge entre a empresa que publica e o autor que escreve (produz) a obra.
Nathalie acredita que filosofia e realidade comungam-se entre si e é assim que leva sua vida. Segundo uma visão revolucionária e anarquista de um de seus alunos preferidos, Nathalie engloba e visualiza sua inocência e ingenuidade quando jovem, ao passo que se refugia na casa de montanha em que ele e colegas estudantes e escritores decidiram viver em prol de um distanciamento da civilização. A filosofia, então, está presente em todo o filme, seja referenciando-se a Adorno, Marx, Raymond Aron, Rousseau, ou mesmo, a própria vida dessa professora de filosofia. Através de suas filosofias, pois, constrói um argumento narrativo potente e conversa diretamente com as palavras filosóficas propagadas por seus autores e a vida real de uma estudiosa da área.
Para além da filosofia o filme é sobre amor, desamor e romantismo. Nathalie sempre achou que seria amada pra sempre por seu marido de anos, mas quando recebe a notícia de que será abandonada, percebe sua ilusão e finca os pés na realidade dura de tornar-se solteira em plenos 40 anos. É a partir de um sentimento de vazio e de contemplação de segundos que Nathalie percebe seu ser abandonado e dilacerado pelo esgotamento de um amor que achava ser infinito. Pascal, também referenciado no filme, traz seu amparo quanto a esse recolhimento de si quando uma vez disse: “All of humanity’s problems stem from man’s inability to sit quietly in a room alone.”
Por conseguinte, para além da separação, há um movimento curioso por parte do seu ex-marido em levar consigo livros de filosofia os quais pertenciam a Nathalie e, como tais, tinham anotações de leitura. Entre eles, o filme cita Emmanuel Levinas (filósofo judeu do século vinte) e Schopenhauer (filósofo alemão do século dezenove, considerado como pessimista e que influenciou Nietzsche, Beckett e Wagner). E além de ser abandonada, Nathalie ainda tem que lidar com a morte e com a liberdade que parecia não existir antes dos seus problemas surgirem, porém é ela que a aprisiona por estar agora só e livre, por mais paradoxo que isso pareça.
Ou seja, L’avenir é um filme francês filosófico e que vale a pena ser conferido.
É dirigido por Mia Hansen-Love.