Pela subversão da ordem em busca do estranhamento
A nova produção da Netflix “Com a palavra: Arnaldo Antunes” (2019), é o que poderíamos de chamar de homenagem. Não apenas ao artista em questão, mas à música brasileira.
Talvez, você que me lê agora não saiba exatamente quem é Arnaldo Antunes Filho, talvez, você não tenha escutado Titãs ou Tribalistas com o devido cuidado e apreço, talvez, você esteja se questionando do porquê seria tão interessante assistir a um documentário sobre esse cara, afinal o que ele fez de tão importante?
A certeza, é que Arnaldo é um dos maiores e mais importantes ARTISTAS que o Brasil já teve. Compositor, poeta, escritor, letrista, intérprete, sonhador, subversivo, questionador, o que mais o definiria? Nem as próprias palavras, pelas quais ele tem tanto domínio e afeto, são passíveis de defini-lo.
Arnaldo nasceu em 2 de setembro de 1960 em São Paulo e é o 4º de seis filhos. Desde cedo, as palavras o invadiram e o seu mundo foi ressignificado por elas. Ainda na época de colégio, desenvolveu o seu gosto pelas artes, assistiu a shows de Nelson Cavaquinho, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Cartola no pátio da escola. Fez teatro, música e encantou-se pela língua portuguesa.
“De normal, bastam os outros”. Conhecendo Arnaldo, percebemos o quanto é necessário experimentarmos mais o mundo e as diferentes linguagens que nos permeiam. Diferentemente da comunicação formal, o autor explica que na poesia, as palavras são objeto e não mera intermediação:
“A poesia não precisa fazer sentido, precisa fazer sentidos”.
Arnaldo Antunes
A vida e a obra de Arnaldo Antunes são extensas e ambas caminham lado a lado com a música brasileira, sendo impossível conhecer uma sem a outra. Em família, com os amigos, na mídia ou em suas interpretações, Arnaldo é o que é, um experimentador da vida. O seu jogo de linguagem, a sua sensibilidade com o que nos define toca o que há de mais pessoal em nós.
“Com a palavra: Arnaldo Antunes” é um hino à poesia, uma defesa do artista sobre o seu próprio material de trabalho. Para ele, a poesia é mais do que nunca necessária, pois é, em si, a fresta que nos liberta do padrão, da forma, do definido, do previsível. Arnaldo Antunes preza pela subversão da ordem, pelo rompimento com o que é dito “normal” e nos leva pela fantasia do estranhamento de percebermos a nós mesmos de outro lugar.
Que não é o que não pode ser que
Não é o que não pode
Ser que não é
Pode ser
Que não
É
O que não pode ser que
Não é o que não pode ser
Que não é o que
O quê?
O quê?
O quê?
Que não é o que não pode ser que não é
Música: “O que”, por Arnaldo Antunes