CRÍTICA: A MALDIÇÃO DA CHORONA
O maior susto vem das expectativas em vão.
Ficha técnica:
Direção: Michael Chaves
Roteiro: Mikki Daughtry e Tobias Laconis
Elenco: Linda Cardellini, Raymond Cruz, Marisol Ramirez, Patrícia
Velászquez e Tony Amendola
Nacionalidade e lançamento: Estados Unidos, 19 de abril de 2019
Sinopse: Uma assistente social viúva, encontra um misterioso caso para cuidar. A sua família começa a passar por coisas inexplicáveis e se vê em meio a sobrenatural vingança de Chorona, uma garota que séculos atrás afogou os próprios filhos por ciúme e agora caça crianças pelo mundo para substitui-los.
Uma das temáticas mais rentáveis da história do cinema é o terror. Muitas vezes o baixo custo da obra somado a um roteiro esculpido pela curiosidade, entopem sessões e mais sessões em torno do globo rendendo milhões. O terror muitas vezes ignorado pelos críticos que amam melodramas cotidianos, também gera grandes diretores como Peter Jackson ou o próprio James Wan.
O terror serve muitas vezes de laboratório para iniciantes, mas está longe de ser um gênero fácil de se trabalhar. Ano após ano, década após década, o terror é o estilo fílmico que mais precisa de transformações para se manter. Terror tem um público que particularmente gosto de chamar de “mãe”. Ama incondicionalmente, puxa a orelha para crescer e bate forte quando sai dos trilhos. Dito isso, posso descrever a crítica, focando 100% na categoria.
Temos o pessoal da Marvel como a maior franquia de heróis no cinema, Vin Diesel sustentando a maior franquia de “ação” sobre rodas e o agente secreto da rainha como a maior franquia durante os anos do cinema… exemplos não faltam. Graças os slashers nos anos 80, tivemos franquias maiores no terror, porém, este universo compartilhado é o maior produto do gênero atualmente. Infelizmente – ao meu ver – este é o episódio mais fraco de toda a série.
É normal perder o ritmo ou se engasgar em um mundo com tantos misticismos, mas creio que a culpa fica um pouco mais em cima do formato, que vem se corroendo muito rápido. Sem um bom roteiro ou um puta vilão para sustentar essas fragilidades, temos um produto fraquíssimo.
Temos na cadeira do diretor, comandando todos do set o Michael Chaves (THE MAIDEN), que tem sim a sua parcela de culpa no resultado decepcionante, porém, não pode ser crucificado. Em tese, pegou o livrinho James Wan e o fez de cabo a rabo, o que demonstra total domínio cinematográfico e ao mesmo tempo, coragem alguma em variar ou propor algo. Temos Marisol Ramirez (TOQUE DE RECOLHER) enclausurada em uma vilã sem sal. Muitas vezes somos apanhados pela estética ou personalidade desses antagonistas sobrenaturais, aqui não encontramos nenhum dos dois.
Outra que será a minha protegida aqui, é a sempre carismática Linda Cardellini (DEAD TO ME), que não só sustenta grande parte do filme sozinha, criando tensão em suas expressões, mesmo não tendo auxilio algum do roteiro. Você encontra e se deleita com o seu esforço, diferente do meu querido Raymond Cruz (BREAKING BAD), que tem um puta personagem legal nas mãos, com bons diálogos e entrega algo sem vontade.
Nas minhas últimas críticas eu ressaltei bastante o trabalho da Jeté Laurence em (CEMITÉRIO MALDITO) e do que vimos em Jackson Ribert Scott em (MALIGNO), mas aqui não consigo fazer o mesmo. A dupla de pequenos. Roman Christou e Jaynee-Lynee Kinchen, telegrafam muito o que está por vir. Falta experiência de esconder o que leram no roteiro. Quero deixar CLARO que isso é totalmente NORMAL para a idade deles, não é sempre que aparece um Culkin, uma Fanning, um Osment ou uma Olsen. É que infelizmente aqui, temos más atuações pra todo lado, o que ajuda o nível da obra continuar em queda e levar os pequenos juntos.
Mas o pilar que acabou acarretando tudo isso citado acima, é o roteiro a quatro mãos. Mikki Daughtry e Tobias Laconis – que fizeram também juntos A CINCO PASSOS DE VOCÊ – criam tudo sem peso, dando ar de “feito nas coxas”, não dão o verdadeiro sabor do terror. É como se soubessem a receita do sucesso e tivessem grande ingredientes, mas claramente tirou cedo demais a forma do forno. Este filme tem gosto de algo que não estava pronto.
Uma mãe que perdeu a pouco o marido militar, criando os filhos sozinha após algo tão traumático como a perda do pai. Sua profissão? Assistente social. Ou seja, protegendo crianças e entendendo o problema de suas mães diariamente. O que o roteiro faz? Faz com que a protagonista tente entender a entidade perturbada pelo passado? Tenta ajuda-la a combater o mal? Tenta conforta-la de sua culpa? Não. O roteiro só quer uma batalha final obvia e sem nexo, após passar por inúmeros personagens praticamente intangíveis, diálogos fracos, furos e mais furos em sua narrativa…
Summary
Infelizmente, fãs de terror e principalmente deste universo compartilhado, criaram muitas expectativas. Culpa do público? Também, mas sabemos que o filme foi vendido como mais um episódio nesta grande trama iniciada lá atrás com os Warren. Os produtores pensam com bolso – e não estão errados – e a franquia desta vez, dá um passo para trás com uma promessa não cumprida. James Wan criou e estabeleceu um formato que se desgastou “assustadoramente” rápido. Infelizmente o terror é assim.