Chico Buarque e o Cinema: Chico nas Trilhas do Cinema - Cinem(ação)
Chico Buarque
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Chico Buarque e o Cinema: Chico nas Trilhas do Cinema

Conheça a relação bem próxima de Chico Buarque com o Cinema

Chico Buarque

No último dia 21 de maio de 2019, o músico, dramaturgo, escritor e ator, sim ator, Francisco Buarque de Hollanda, ou apenas Chico Buarque, ganhou o prêmio Camões 2019. Um dos maiores prêmios da literatura de língua portuguesa. Chico foi o primeiro músico a ganhar o prêmio, que premia desde 1989 grandes escritores da língua portuguesa. Já ganharam o prêmio os escritores João Cabral de Melo Neto, Rachel de Queiroz, Jorge Amado, José Saramago, Rubem Fonseca, Lygia Fagundes Telles, João Ubaldo Ribeiro, Ferreira Gullar, entre outros, e agora Chico Buarque também entra para essa seleta lista.

Chico Buarque Cinema
DVD Chico Buarque Cinema lançado em 2006 em homenagem aos 40 anos de carreira.

Mas aí querido leitor você me diz: “O que Chico Buarque tem a ver com o cinema? Afinal ele é cantor e compositor.” Sim isso é verdade, mas o que muitos não sabem, é que Chico tem uma relação muito próxima com o cinema. Além de ser cinéfilo e fã do cinema clássico, a relação Chico Buarque x Cinema passa por trilhas sonoras, adaptações de suas obras e acreditem se quiser até como ator. Na verdade, existe até um álbum duplo chamado Chico no Cinema lançado em 2005 com as músicas do compositor usadas no cinema, algumas compostas especialmente para o cinema. Também existe um DVD, lançado em 2006, chamado Chico Buarque Cinema que mostra a relação do compositor com o cinema. Inclusive esse documentário está disponível no Youtube. Chico até tem uma música chamada Ela Faz Cinema. Isso mostra que esse multiartista brasileiro, tem tudo a ver com o cinema.

Aproveitando  o prêmio Camões 2019 para Chico Buarque, esse que vos escreve, que é fã dele, resolveu prestar uma merecida homenagem a Chico. Essa homenagem, dividida em 3 partes, irá mostrar a relação entre Chico Buarque e o Cinema. Sente-se confortavelmente, coloque Chico para tocar no Spotify, Deezer e afins, e vamos embarcar nessa viagem cinematográfica e musical.

Chico Buarque e as Trilhas Sonoras

Chico Buarque  no Cinema
Álbum Duplo Chico no Cinema, lançado em 2005 com os maiores sucessos de Chico Buarque no cinema

Quando se fala em Chico Buarque e cinema logo se vem à mente trilhas sonora. No IMDB existem 33 créditos ao artista como compositor e 53 em trilhas sonoras no cinema. Vale ressaltar que no IMDB são 44 créditos como compositor e 107 trilhas, mas ali se incluem novelas, minisséries e DVD’s, nosso foco aqui é o cinema. O primeiro crédito em trilha sonora para o artista é de 1967 no filme Garota de Ipanema de Leon Hirszman. Na trilha sonora do filme, que é predominada por Tom Jobim e Vinícius de Moraes, Chico entrou com duas canções Chorinho  e Noite dos Mascarados. Já como compositor, o primeiro crédito de Chico Buarque é em O Anjo Assassino, também de 1967. O filme foi dirigido por Dionísio de Azevedo, e a trilha foi escrita por Chico e Gabriel Migliori, que fez a trilha sonora de clássicos brasileiros como O Cangaceiro e O Pagador de Promessa.

Vai Trabalhar, Vagabundo!
Cena de Vai Trabalhar, Vagabundo! de 1973 dirigido por Hugo Carvana e música de Chico e Roberto Menescal.

Mas a grande estreia de Chico como compositor no cinema foi em Quando o Carnaval Chegar, mas sobre esse filme falaremos mais pra frente. Então vamos para o ano de 1973 quando foi lançado o clássico Vai Trabalhar, Vagabundo!, de Hugo Carvana. O filme conta a história de Secundino Meirelles (Hugo Carvana) um malandro carioca que é colocado em liberdade depois de um longo tempo na prisão e dedica seus primeiros momentos a admirar as maravilhas do RJ. Preocupado com seu futuro, ele planeja uma grande virada utilizando seus talentos para trambiques. O filme, que foi premiado no Festival de Gramado de 1974, foi embalado por uma trilha sonora escrita por Chico Buarque e Roberto Menescal, inclusive a trilha foi premiada no Festival de Messina, na Itália. A música tema do filme Vai Trabalhar, Vagabundo! é um dos grandes clássicos da carreira de Chico.

Ainda em 1973 a dupla Chico e Menescal, foi novamente premiada pela trilha do filme Joanna Francesa. Dirigido por Cacá Diegues, um grande parceiro de Chico no cinema, o filme tinha no elenco Jeanne Moreua no papel título, que foi dublada por ninguém menos do que Fernanda Montenegro. Pelo filme Chico Buarque e Roberto Menescal ganharam o prêmio de Melhor Trilha Sonora da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte). O filme ainda faturou o prêmio de Melhor Roteiro Original, também pela APCA. Uma curiosidade sobre esse filme e sua música, é que Chico é fã incondicional de Jeanne Moreua, e para poder facilitar a vida da atriz, Chico fez uma música com muitas frases em francês.

Dona Flor e Seus Dois Maridos

Agora avançamos 3 anos e chegamos a 1976. E vamos falar de um dos maiores clássicos do cinema nacional Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Bruno Barreto. Baseado na obra de Jorge Amado o filme, pra quem não conhece, conta a história de Flor (Sônia Braga) uma professora de culinária que se casa com Vadinho (José Wilker) um verdadeiro malandro, bom vivant, que um dia de carnaval morre. Após ficar viúva Flor se envolve com o farmacêutico Dr. Teodoro (Mauro Mendoça), que ao contrário de Vadinho é trabalhador e recatado. Eles se casam, mas como Teodoro não consegue satisfazer Flor, Vadinho volta. Mas apenas Flor o vê. O filme durante 34 anos foi a maior bilheteria do Brasil e ganhou vários prêmios, incluindo Melhor Trilha Sonora no Festival de Gramado. A trilha do filme foi composta por Francis Hime e Chico Buarque, que escreveu para o filme as três variações da música O Que Será: Abertura, À Flor da Pele e À Flor da Terra, músicas que se tornaram clássicos da carreira de Chico e do cancioneiro brasileiro.

Bye, Bye Brasil
José Wilker e Betty Faria em cena de Bye, Bye Brasil de 1979

3 anos depois o trio Chico Buarque, Cacá Diegues e Roberto Menescal se juntaram novamente, dessa vez para o clássico do cinema nacional Bye, Bye Brasil. Com José Wilker e Bete Faria no elenco, o filme conta a história de três artistas itinerantes, Salomé (Betty Faria), Lorde Cigano (José Wilker) e Andorinha que cruzam o país juntamente com a Caravana Rolidei, fazendo espetáculos para o setor mais humilde da população brasileira e que ainda não tem acesso à televisão. A eles se juntam o sanfoneiro Ciço (Fábio Jr.) e sua esposa, Dasdô (Zaira Zambelli), e a Caravana cruza a Amazônia até chegar a Brasília. O filme foi um sucesso de crítica, inclusive está em 18º na lista de Melhores Filmes Brasileiros de todos os tempos. Bye, Bye Brasil também foi um grande sucesso de publico, levando 1,488 milhões de espectadores ao cinema, uma marca histórica principalmente se tratando de cinema nacional. A trilha sonora do filme foi composta Chico, Menescal e Dominguinhos. Mas a grande música do filme, que entrou para história do cancioneiro brasileiro, é a inesquecível Bye, Bye Brasil. A música composta por Chico e Menescal é faixa certa em todos os álbuns de melhores de Chico Buarque.

Em 1983, Chico Buarque fez uma música especialmente para um filme baseado na obra de Nelson Rodrigues, a pedido do filho do dramaturgo, Nelson Filho. O filme, Perdoa-me Por Me Traíres, foi dirigido por Braz Chediak, que dirigiu vários outros filmes baseados na obra de Nelson, mas isso é uma outra história. Voltando a Perdoa-me Por Me Traíres, o filme é protagonizado por Vera Fisher e Lídia Brondi, e conta a história de Glorinha (Lídia), que tem quinze anos e vem de uma família de classe média, no Rio de Janeiro. A moça cresceu acreditando que sua mãe, Judite (Vera), tirou a própria vida e, como consequência disso, seu pai, Gilberto (Nuno Leal Maia), acabou enlouquecendo. No entanto, Raul (Rubens Corrêa), o tio da moça, resolve contar toda a verdade sobre os pais de Glorinha quando descobre que a jovem está trabalhando como prostituta. Para o filme, Chico fez a música Mil Perdões, que ficou eternizada na voz de Gal Costa. Uma curiosidade é que a relação entre Nelson e Chico não era das melhores. Principalmente após uma entrevista em que Chico Buarque disse que ‘preferia que Nelson Rodrigues não o defendesse’. O filme aconteceu após a morte de Nelson, então nunca saberemos se a música teria a aprovação do dramaturgo.

Para Viver um Grande Amor

No ano seguinte, 1984, Chico se juntou a Tom Jobim para fazer a trilha sonora de um musical baseado na obra de ninguém menos que Vinícius de Moraes e Carlos Lyra. O filme Para Viver um Grande Amor, dirigido por Miguel Faria Jr., é baseado no musical Pobre Menina Rica de 1963, e conta a história de um futuro próximo onde os moradores de favelas ocupam uma cidade abandonada, estabelecendo uma nova sociedade que as elites procuram reprimir com brutalidade. Ao mesmo tempo, a “garota rica” Marina (Patrícia Pillar) apaixona-se por Vinícius (Djavan), morador de uma pobre comunidade. Para o filme Chico escreveu sete músicas, seis com Tom e uma com Djavan. Uma curiosidade sobre esse filme, que além de ser o primeiro trabalho de Patrícia Pillar, é que o diretor, Miguel Faria Jr., odeia esse filme. Em uma entrevista ele disse que ‘odeia esse filme, porque na época ele estava muito louco’.

Na década de 80, como todos sabem, o cinema nacional entrou em crise e na década de 90 quase foi extinto. Por esse motivo Chico Buarque parou de compor para o cinema. Mas suas músicas apareceram em um filme ou outro, ele chegou até a atuar como ator, mas isso fica pra depois.

A Ostra e o Vento
Floriano Peixoto e Leandra Leal nos bastidores de A Ostra e o Vento

A próxima trilha que Chico compôs para o cinema foi 12 anos depois. Walter Lima Jr. pediu para que Chico Buarque escrevesse uma música para seu próximo filme A Ostra e o Vento, de 1997. O filme, gravado na Ilha do Mel, no Paraná, conta a história de Marcela (Leandra Leal) uma jovem que vive com seu pai, o faroleiro Jose (Lima Duarte), e o velho Daniel (Fernando Torres) numa ilha. O único contato da menina com o mundo exterior se dá através de uma embarcação com 4 marinheiros que regularmente vai levar-lhes provisões. Através das palavras de Daniel, que a ensina a ler e sua fonte de ternura e conhecimento, e da severidade do pai, que quer protegê-la do resto do mundo, Marcela segue sua vida até que, ao tornar-se adolescente, passa a sentir sua sexualidade e seus anseios de viver de forma intensa. O filme, que é a estreia de Leandra Leal nos cinemas, conta com uma valsa instrumental criada por Chico e era usada pelo mesmo para ninar seu neto.

Após A Ostra e o Vento, no IMDB, as contribuições de Chico para o cinema, se restringem a filmes que usam suas músicas como A Dona da História, Zuzu Angel, A Máquina, Batismo de Sangue, Elis, entre diversos outros. Mas no site oficial do artista existem duas outras atribuições para Chico Buarque no cinema. O primeiro em O Xangô de Baker Street de 2001 e o outro para o filme Lara de 2002.

Em O Xangô de Baker Street, de Miguel Faria Jr, temos uma aventura de Sherlock Holmes no Brasil e os primeiros crimes de Jack, o Estripador, realizados aqui no Brasil. O filme é baseado no livro homônimo de Jô Soares e conta com o português Joaquim de Almeida como Sherlock e com o inglês Anthony O’Donnell como Watson no elenco. A trilha foi composta por Edu Lobo, e Chico Buarque escreveu junto com ele a música Forrobodó. Já Lara, filme dirigido por Ana Maria Guimarães, é a cinebiografia de Odete Lara, uma das mais famosas e influentes atrizes brasileiras. Para o filme Chico escreveu juntamente com Dori Caymmi a música Fora de Hora.

Zuzu Angel

Embora após Lara, Chico não compôs especialmente para o cinema sua música esteve sempre presente no cinema, com direito a um documentário sobre sua vida, mas isso fica para depois. Mas o que gostaria de destacar é o filme Zuzu Angel. O filme dirigido por Sérgio Resende, conta a história da estilista Zuzu Angel que teve seu filho morto durante a Ditadura Militar. No filme Chico Buarque é citado de forma bem contundente, pouco antes de “sair para a morte” Zuzu (Patrícia Pillar) recebe um pacote com uma fita cassete enviado por Chico. Na fita está a gravação de Apesar de Você, um hino contra a repressão da ditadura. Quando ocorre o fatídico acidente, ela está ouvindo a música o que é quase um recado um grito de liberdade, em especial na cena. Ao final dessa cena, o filme acaba e toca a música Angélica, escrita por Chico Buarque e Edu Lobo em homenagem a Zuzu Angel.

Pois é meus amigos tenho certeza que a maioria de vocês não sabiam de que a relação de Chico Buarque e o Cinema era tão intensa. Mas isso é só o começo. Para falar de Chico no cinema um texto apenas não é suficiente! Por isso se preparem, no próximo texto embarcaremos nas obras de Chico adaptadas para o Cinema. Até lá!

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