“They Live” – (1988)
Dirigido por John Carpenter, o filme começa de forma branda e serena.
A crise econômica atingiu os EUA de modo a gerar muitos desempregos. O personagem principal com sua backpack vaga pela cidade em busca de emprego e nada acontece. O contra-baixo da trilha sonora faz com que seus passos andem livremente e simetricamente pelas calçadas e parques. Há um sentimento de marasmo de que nada acontece e nada vai acontecer, tudo permanece estático como uma forma de desesperança.
De longe, ouve um padre a profetizar: “Our human spirit is corrupted. Why do we worship greed? Because outside the limit of our sight, feeding off us, perched on top of us from birth to death, are our owners! They have us, they control us, they are our masters. Wake up!“. Distancia-se quando um carro de polícia se aproxima.
A esperança chega a um ponto em que a fé torna-se parte do que aquilo que se esperava, mesmo que de forma pequena, sua irmã: juntas em prol da bondade. Os braços fortes acabam transformando mão de obra em estabilidade financeira e a respiração sua, a cada batida na terra dura, uma pernada ao próximo dólar. Ele acredita na América, ou melhor, no sonho americano. Embora, a cada televisão que avista enxergue uma publicidade grosseira de positividade, ilusão e ganância, durante alguns espasmos, mensagens subliminares ressoam entre estáticas produzidas pela própria tv, deixando-o com dores físicas e desentendimentos mentais. O papel dos televisores é entreter, que em demasiada proporção, faz com que nossa única atenção se dê para eles, apenas, como uma tomada de consciência, como um abandono de si mesmo para que o tempo passe e nos desfrutemos com o nada que nos diverti.
Tais mensagens, a cada momento de seu parecer, de fato, vem a mostrar exatamente o papel dissonante e destrutivo que a televisão pode ter, desta forma, havendo uma metalinguagem dicotômica fortíssima.
De tempos em tempos, são os momentos de crise que afetam diretamente os comportamentos, os hábitos e a forma pela qual a fé se apropria de nossas fraquezas. É por dentre esse emaranhado de sensações que a má índole e o caráter desajustado pegam os mais fracos e os consomem como se houvesse uma mutação e perda de controle das próprias ações. Os óculos pretos surgem de uma conspiração daqueles que governam nossas consciências. São muitos e estão longe de fazerem parte de um contrabando de mercadorias, apenas com o intuito de venda e compra, já que está para além disso. E porque não usar um?
A cada billboard visto, uma mensagem de obediência, um imperativo de rendição. A não ação, o estático, o abandono de si mesmo perante ao que a sociedade demanda de nós, entraves inerentes ao modo de dominação dos mais fracos, através das lentes, tudo visto com uma clareza simples de ordenamento e de não escolha. “Do not sleep, obey, no independent thought […]”. Tais exclamações, vistas apenas através dos tais óculos, a cada olhar, uma nova obrigação, como uma deserção.
“Sleep, sleep, sleep …”.
E quando acordamos? E quando damos conta do domínio de terceiros e da tentativa deles em nos tomar por inteiro? Violência é a resposta. Por conseguinte, mascarada pela raiva e pelo ódio, poucos conseguem entender, ainda mais àqueles que ainda na caverna, perseveram em apenas enxergar a ilusão de suas próprias imagens e mundo. O som das batedeiras e o ágil músculo a levar força bruta em busca do consolo do dinheiro, então, voltam a apaziguar a mente daquele que enxergou por um instante a realidade.