O Professor (2019)
“O Professor” (2019) é um filme dirigido pelo Wayne Roberts e que tem como essência um desenvolvimento que mescla o humor ácido e o drama reflexivo de um personagem, Richard, que descobre que tem mais seis meses de vida e que não a aproveitou como gostaria.
O protagonista é interpretado pelo Johnny Depp que demonstra uma versão diferente em termos de performance, já que o ator adquiriu para si, ao longo das décadas, uma galeria de personagens excêntricos, moldados através da mesma linha performática, aqui ele se apresenta de forma mais intimista, ainda que no primeiro ato tenha resquícios de maneirismos característicos de personagens anteriores. O fato é que Richard não consegue absorver a ideia da morte e, com isso, o seu olhar realista é desenrolado de forma paulatina; narrativamente o filme transita entre o humor negro e direto, culminando no drama familiar.
O personagem central, como reflexo da notícia avassaladora, não está nem um pouco preocupado com o macro, o seu senso de realismo individualiza a sua percepção do meio e ele não está nem um pouco preocupado com o externo ao seus próprios dramas. Com isso, se em dado momento ele ignora a causa feminista, por outro lado dá atenção extremamente carinhosa e sincera à filha que anuncia sua homossexualidade.
Na cena inicial Richard confronta o médico e é o único momento que o personagem possui espaço na cena, em seguida ele sempre é mostrado pressionado no quadro seja por um objeto ou a própria posição da câmera, deslocando os personagem para os cantos. Isso demonstra o mundo (ele) encontrando um declínio e perdendo-se na confusão demonstrada esteticamente com o alto consumo de álcool e sexo.
Percebe-se que o drama se esconde na maneira de enxergar a iminente morte e a própria narrativa do filme segue essa tendência ao passo que abusa do absurdo da despreocupação no primeiro ato e, aos poucos, despe o personagem principal a ponto de ressaltar a sua fragilidade enquanto homem solitário, ainda que acompanhado pela família.
A despreocupação com a morte é forçadamente trabalhada para enganar o protagonista, não o espectador, que de maneira atenta percebe desde o início que se trata de uma rebeldia contida, feita por alguém completamente desmoronado. Há de se apontar, como conclusão, a discrepância entre os atos. No terceiro, quando só resta o homem enfrentando o seu fim, o drama atinge um estágio poderosamente humano, no entanto é lamentável que para tal acontecimento seja necessário uma série de cenas exageradas.
Assista o meu vídeo analisando o filme: