Damon Packard, o gênio underground - Cinem(ação)
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Damon Packard, o gênio underground

Além dos holofotes e das superproduções de Hollywood, existe um mundo de cinema underground pouco conhecido do grande público, mas que lotam galerias e “cinemas secretos” dos grandes centros, como Los Angeles, Nova Iorque, Austin, Berlin, Londres e Paris. Um dos cineastas mais conceituados desse meio é o americano Damon Packard, do clássico obscuro “Reflections of Evil”. Antes de falar sobre a carreira de Packard, preciso esclarecer o que é de fato um filme underground.

Apesar de ser facilmente confundido com o estilo cult,  eles não são o mesmo estilo de cinema. Para ser underground, o filme precisa se enquadrar nos aspectos de estilo, gênero e, principalmente, orçamento – bem abaixo dos padrões de superproduções. Em termos de comparação, vamos aos filmes de John Waters: “Cry-Baby”, considerado cult,  foi encomendado pela Universal e custou 15 milhões de dólares. Já “Pink Flamingos” – underground – é 100% autoral e custou pouco mais de 10 mil dólares.

Dito isso, vamos a Damon Packard, um cineasta genial cujo a persona cinematográfica, que na maioria das vezes atua em seus próprios filmes, se estende para fora das telas. A maneira mais eficaz de descrevê-lo seria como uma junção de Andy Kaufman com Andy Warhol. Packard nasceu em Ohio e é neto de Sam Pollock, um famoso ativista trabalhista que liderou importantes greves nos anos 30. Damon começou a fazer filmes logo na infância com uma câmera Super 8, assim como Steven Spielberg, que, por sinal, é tratado constantemente em suas produções.

Seu primeiro trabalho de destaque foi o curta de 30 minutos “Dawn of an Evil Millennium”. Já o segundo foi o filme “Apple”, uma fantasia com elfos, que foi filmada durante dois anos no Havaí e, segundo relatos, Damon morou todo esse tempo em uma tenda. Depois de passar um período apertado, o cineasta ganhou uma herança de um parente distante, e decidiu gastar tudo em um projeto, o excepcional longa “Reflections of Evil”.

Reflections of Evil

É difícil definir o gênero (ou a história) do filme. Ele ilustra a paranoia americana do “American Dream” e seu título diz muito: Reflexões do Mal. O filme conta a história de Julie, que morreu de overdose nos anos 70, e que tenta contatar do além seu irmão Bob, interpretado pelo próprio Packard, que está nos anos 90. Bob é um obeso vendedor de relógios a beira de um ataque de fúria. Se a trama do filme em sí já é uma loucura, as histórias de bastidores são mais loucas ainda. Damon “invadiu” um lote nos estúdios da Universal em Los Angeles e gravou durante alguns dias várias cenas sem que ninguém perguntasse se ele poderia estar por lá. Depois, rodou várias cenas dentro do próprio parque. Quando descoberto, ele acabou detido e proibido de visitar a Universal.

Damon mandou produzir 25 mil cópias de “Reflections” em DVD e começou a distribuí-las gratuitamente. Essa primeira tiragem é tão rara que quando aparece a venda on-line, o valor da unidade chega a mais de 60 dólares. O diretor também enviou o filme pelo correio para várias celebridades e agentes, tornando-o assunto interno no meio Hollywoodiano. Uma das celebridades que ficou fascinado por Damon foi Sage Stallone, filho de Sylvester Stallone, que virou colaborador com Damon durante anos até sua morte por problemas cardíacos. “Reflections of Evil” ganhou maior destaque quando a revista Film Comment o colocou na lista como um dos melhores filmes de 2005.

Na vida real, Damon não esconde seu pessimismo e descontentamento com Hollywood e a indústria atual do cinema. Ele critica a forma como o visual e o estilo dos filmes são monopolizadas, e como os diretores não podem realmente abusar de sua criatividade. De um modo irônico, ele afirma que 1984 foi o último ano em que se produziu um filme de alto orçamento realmente bom. O filme é justamente o clássico cult “1984”. Damon chegou a dirigir uma sequência do filme. “Spacedisco One” é uma sequencia não autorizada tanto de “1984” como de “Logan’s Run”, onde o mundo dos dois filmes se cruzam em um ringue de patinação no espaço que serve como teletransporte para a Terra.

Mas, afinal, o que faz Damon Packard ser um gênio do cinema underground? Packard abusa dos efeitos mais psicodélicos e de um design de som pensado especificamente para criar as mais diferentes sensações no espectador. A personagem de Bob em “Reflections of Evil”, por exemplo, ao caminhar, produz sons de muitas moedas no bolso do vendedor de relógios, e o som vai aumentando ao ponto de que em certo momento tudo que se ouve é apenas o barulho das moedas no bolso.

Além disso, sua visão de mundo, completamente na contramão de qualquer coisa, pode ser considerada como um tipo de cinema anarquista. Sua edição, justapondo imagens de arquivo, cenas clássicas e narrações em off, fazem dele o maior editor underground de todos os tempos. Qualquer amante de cinema, em seu puro e verdadeiro significado, vai adorar absorver o quebra-cabeças e emoções, críticas e pensamentos apresentados pelo cinema de Damon Packard.

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