Grandes mestres do Cinema: Charles Chaplin
Nascido em Londres no ano de 1889, Charles Chaplin desde criança sabia que tinha um grande talento para a comédia, e o que ele se tornaria para a Sétima Arte é para poucos. Artista completo, Chaplin sempre foi considerado um dos maiores gênios do cinema. Sua vida particular foi cercada de escândalos e polêmicas, mas vamos nos ater aqui ao artista nas telas de cinema.
Começando em curtas-metragens em 1914, Chaplin já apresentava seu imortal personagem Carlitos em “Carlitos Repórter”. No mesmo ano, ele estrearia seu primeiro longa-metragem: “O Casamento de Carlitos”, uma produção aquém de seus trabalhos posteriores, mas que já exibia seu estilo inconfundível de brincar com o público. A direção desta produção ficou a cargo de Mack Sennett. Nesse período, o já famoso comediante assinou contratos caríssimos para estrelar várias produções. Chaplin encontrou nos Estados Unidos a oportunidade de brilhar em obras que exigiam o seu talento.
Chaplin fazia comédias em uma época produtiva para o gênero. O público ia ao cinema para se divertir, e via nesses filmes uma ótima oportunidade de distração (lembremos que a Primeira Guerra Mundial estava começando). Seu personagem Carlitos era um vagabundo que dependia de atitudes, ora trapaceiras, ora nobres, para sobreviver à cidade grande que tentava engoli-lo de alguma forma. Sempre fugindo de algum policial ou cidadão, Carlitos era visto pela sociedade como um pequeno infrator; mas por trás de algumas confusões existia alguém de bom coração.
Nos anos 20, Chaplin dividia os holofotes com outros dois excelentes comediantes da era muda que, assim como ele, abusavam da imaginação, criando as melhores situações cômicas, e até mesmo se arriscando bastante em cenas perigosas. Buster Keaton, ‘o homem que nunca ri’, se imortalizou com obras como “Nossa Hospitalidade” (1923), “Bancando o àguia” (1924), “Sete Oportunidades” (1925) e o excelente “A General” (1926). Harold Lloyd, com seu estilo “nerd”, brilhou em “O Homem Mosca” (1923), “O Calouro” (1925), “O Caçula” (1927) e “O Ás da Velocidade” (1928), entre outros. Para alguns, é difícil desassociar a figura e genialidade de Chaplin com as de Keaton e Lloyd.
Ator, diretor, produtor, roteirista e compositor, Chaplin não escondia seu perfeccionismo durante as filmagens, vindo a repetir uma mesma cena dezenas de vezes se assim ele achasse necessário. Entre seus vários curtas e médias-metragens, um dos maiores destaque é “Vida de Cachorro” (1919). O primeiro longa-metragem dirigido e atuado por Chaplin foi “O Garoto” (1921), uma de suas obras-primas e um de seus trabalhos mais sentimentais, onde ele divide as cenas com o talentoso ator mirim Jackie Coogan. Em “Casamento ou Luxo” (1923) Chaplin apenas dirige. Um filme romântico e por vezes amargo, com idas e vindas que, se não está à altura de seus grandes trabalhos, também não decepciona.
“Em Busca do Ouro” (1925) mostra um Chaplin mais ágil e cheio de pantomimas, em uma história divertida do início ao fim. Nem o Alasca e os garimpeiros ficam longe de suas lentes geniais, com destaque para a dança dos pães e a cena em que Carlitos é visto como uma galinha por um faminto caçador de ouro (feito por Mack Swaim). Por “O Circo” (1928), Chaplin concorreu ao Oscar de melhor ator, mas perdeu para Emil Jannings por “O Último Comando” e “Tentação da Carne”. Ainda assim, ele foi laureado por um prêmio honorário da Academia naquele ano. Em “O Circo”, Chaplin se arrisca em truques perigosos envolvendo acrobacias e animais selvagens. Foi também seu último filme produzido durante o cinema mudo.
Chaplin não era um admirador do cinema falado. Ele tentou resistir, produzindo seu próximo filme sem um único som. “Luzes da Cidade” (1931) é considerado por muitos seu melhor trabalho até ali. A história de Carlitos e uma florista cega rende alguns dos mais belos momentos do cinema clássico. Chaplin era um ótimo diretor e sabia tirar o máximo de seus atores, como fica demonstrado nas figuras da florista e do milionário bêbado.
“Tempos Modernos” (1936) é provavelmente seu melhor filme. É também sua obra de transição do cinema mudo para o cinema falado, onde ele utiliza alguns sons, falas e até mesmo uma canção. Carlitos é um operário que surta em pleno serviço. Pelas ruas ele encontra uma jovem pobre (a belíssima Paulette Goddard), e ambos se metem nas mais engraçadas confusões. “Tempos Modernos”, no entanto, não é apenas uma comédia cheia de situações cômicas, mas também um dos trabalhos mais críticos de Chaplin, onde ele expõe a realidade miserável das ruas e as manifestações populares.
O personagem Carlitos sai de cena.
Ao contrário de Chaplin, os comediantes Buster Keaton e Harold Lloyd não conseguiram sobreviver ao cinema falado. “O Grande Ditador” (1940) é o primeiro filme totalmente sonorizado de Chaplin, e também o único de seus trabalhos que concorreu ao Oscar de melhor filme (perdendo para “Rebecca, a Mulher Inesquecível”, de Alfred Hitchcock). Concorreu também aos prêmios de melhor ator, ator coadjuvante (Jack Oakie) e roteiro original. Em uma sátira ao Nazismo e o Facismo, Chaplin ridiculariza o poder e a alienação pública. Seu discurso final é memorável.
Indicado ao Oscar de roteiro original, “Monsieur Verdoux” (1947) conta a história de um sedutor que engana mulheres ricas e depois as assassina. Chaplin interpreta o papel-título. Seu personagem aqui é muito diferente dos anteriores. Para não tornar seu filme muito obscuro, Chaplin resolveu fazê-lo como uma farsa, injetando um pouco de comédia em uma história que não esconde um tom obscuro e trágico.
“Luzes da Ribalta” (1952) é o último grande filme de Chaplin. Conta a história de um velho artista que ajuda uma bailarina (Claire Bloom) a voltar a dançar. Com o passar do tempo, é ele quem está precisando de apoio, e ela assim o ajuda a voltar aos palcos. Com uma mistura de drama e comédia, “Luzes da Ribalta” traz uma participação especial de Buster Keaton. É uma obra bonita e comovente, com uma belíssima trilha sonora (composta pelo próprio Chaplin) vencedora do Oscar. Chaplin, que estava na Inglaterra, foi impedido de retornar aos Estados Unidos, por fazer parte da Lista negra do Macarthismo; curiosamente, ele só ganharia esse prêmio em 1972, quando pôde ir aos Estados Unidos recebê-lo.
“Um Rei em Nova York” (1957) não faz parte das obras-primas de Chaplin, mas ainda enxergamos ali um pouco de sua genialidade. Alguns veem naquela história de um rei deposto, um pouco da história do próprio Chaplin. “A Condessa de Hong Kong” (1967) traz apenas uma pontinha de Chaplin. Os protagonistas são Marlon Brando e Sophia Loren. Considerado um filme menor do diretor, é curioso por ser o último trabalho do mestre.
No dia 25 de dezembro de 1977, os admiradores do cinema se despediam do mais brilhante e genial mestre da comédia.