Crítica: O Menino que Descobriu o Vento (2019) – original Netflix
O Menino que Descobriu o Vento é o primeiro longa dirigido por Chilwetel Ejiofor, e foi premiado em Sundance.
Ficha técnica:
Direção: Chilwetel Ejiofor
Elenco: Maxwell Simba, Chilwetel Ejiofor, Lily Banda, Aïssa Maïg.
Nacionalidade e lançamento: Reino Unido, 2019 (Estreia mundial Netflix no dia 1º de março de 2019)
Sinopse: Baseado em uma história real. William Kamkwamba vive em uma vila bastante pobre no Malawi, onde acontecimentos políticos recentes apenas pioraram a situação dos moradores. Seu acesso aos livros e sua educação é que vão levá-lo a descobrir uma forma de melhorar a plantação de sua família, castigada pela seca.
Se tem uma coisa que o filme de Chilwetel Ejiofor consegue ser é detalhista. Não passa nada despercebido para a câmera e o roteiro de “O Menino que Descobriu o Vento”. O vento faz parte da narrativa desde o começo, assim como as intempéries da natureza e a vastidão da savana e do ambiente em que a história se passa.
A visão que Ejiofor têm da região é muito parecida com a que vemos em Rainha de Katwe, por exemplo. Ao mesmo tempo em que olha para a dura realidade local de forma esperançosa e respeitosa – o que se reflete até mesmo na fotografia quente e colorida – o filme também diminui o impacto das tragédias que acompanhamos.
Poder-se-ia dizer que o propósito é mostrar a trajetória de William, o que tira a necessidade de mostrar boa parte do drama pelo qual o país passou, mas não podemos deixar de notar que a narrativa parece olhar para a realidade com uma certa distância, o que é sintomático de uma produção inglesa e um diretor também inglês. E se Ejiofor não deixa escapar detalhes ao se preocupar em destacar até mesmo os efeitos do 11 de Setembro na vida de uma vila no interior do Malawi – bem como pesadas questões políticas locais, das quais se esquece depois – por que não se demorar mais em destacar a preocupação da narrativa com personagens que vão além do núcleo familiar do protagonista?
Como ator, Ejiofor extrai ótimos momentos e consegue demonstrar as dores e o desespero de um pai que tenta manter sua família com aquilo que produz.
Mesmo assim, o grande mérito de “O Menino que Descobriu o Vento” está no passo a passo da trajetória de Wiliam Kamkwamba e sua descoberta gradativa a respeito de como seria possível resolver o problema de sua comunidade. Ao contrário de muitos filmes, que mostram grandes soluções como epifanias repentinas, fica claro no filme como se desenvolveu o pensamento e a estratégia de William. E justamente por isso o filme é uma ode à educação e ao poder do conhecimento. “O Menino que Descobriu o Vento” é desses filmes que, apesar de mostrar uma realidade dura, consegue ser esperançoso e leve, do tipo que os professores vão desejar mostrar na sala de aula. Tomara que alcance muita gente por meio da Netflix.
ps: note a mensagem que temos em um dos momentos finais, quando o protagonista e seu amigo se olham diante de uma cerimônia tribal.