Aterrorizados (Demián Rugna, 2018)
“Aterrorizados” (2018), dirigido por Demián Rugna, desperta a atenção pelo formato explícito e confuso, quebra com rapidez a linearidade vista em filmes de terror norte-americanos, aqui não há a preocupação constante em resoluções para o que se está sendo mostrado, o filme se desenvolve em base à atmosfera. Fotograficamente há uma coerência com essa pretensão essencial, aja visto a tendência ao sépio, que exalta o sentido anacrônico e distorcido dos acontecimentos.
A estranheza parte da explicitude, se trata de uma viagem em dados momentos envolvente e algumas cenas são indiscutivelmente horripilantes – destaco uma em especial sobre a perspectiva de um personagem na janela e a forma que o susto é frontalmente jogado ao espectador – no entanto essa narrativa envolvente é a mesma que perde credibilidade por não chegar até o final em suas enormes possibilidades. A ausência de explicação não se trata de um problema, mas a não exploração dos elementos sim, o que afeta duramente a experiência cinematográfica. Um exemplo é o surgimento de um cadáver do menino que acabara de falecer em uma casa, cuja presença física é visualmente atrativa, mas pouco utilizada, se tratando de apenas uma boa ideia, mas superficial desenvolvimento prático.
Esse limite que o roteiro impõe aos próprios elementos é recorrente, ainda que não seja um desperdício total a experiência de assistir por conta dos excelentes efeitos visuais, atmosfera que transparece estranheza e os modos criativos que os jump scares acontecem, sempre envoltos dessa necessidade primordial de ser dinâmico.
A estética também é inteligente ao usar brilhantemente os cômodos da casa para trancafiar os personagens, de modo que sempre sigam em passos tortos, como se a investigação dos casos fosse pautada em cima do medo e da sensação de que tudo pertence ao campo do pesadelo, um tanto onírico. Todos os personagens são pouco desenvolvidos se comparado com as sensações provocadas pela ambientação, movimento de câmera e o modelo de horror criado, a história que entrelaça diversos personagens e um mal desconhecido que assola um local, soa como algumas histórias japonesas, como por exemplo o mangá “Uzumaki” do Junji Ito.
“Aterrorizados” (2018) é despretensioso na criação de um universo onírico, onde o medo é transformado em desconforto através da confusão estética e dos acontecimentos, mas é justamente esse desenvolvimento que cria, por diversas vezes, uma acomodação na narrativa, onde alguns elementos cruciais são pouco explorados, fica a sensação de que boas ideias atingem um limite imaginário, criado não pela má qualidade do roteiro, mas pela despreocupação com os desdobramentos das aparições fantasmagóricas.