Crítica: Guerra Fria (2018) – 3 Indicações ao Oscar!
Há alguns anos eu conhecia e me encantava pelo diretor polonês Pawel Pawlikowski no filme Ida, indicado ao Oscar de Fotografia e vencedor do Oscar de melhor Filme Estrangeiro. Feito que ele repetiu este ano com Guerra Fria e com o acréscimo da nobre, e justa, lembrança para Melhor Direção.
Confira a nossa crítica completa de Ida
Muitos dos méritos de Ida são vistos aqui. Por exemplo, a ausência de exposição didática que infantiliza o público. Nós temos que construir parte da história na nossa cabeça, o roteiro não entrega tudo de mão beijada. E tal opção, além de ser inteligente por si só, permite que Pawlikowski aposte na concisão, que vemos refletido na minutagem (menos de 1h30).
O que torna mais surpreendente é que a história contada é uma relação de idas e vindas de um casal (baseado nas vidas dos pais do diretor), atravessando muitos anos e diversos países. Conseguir condensar tudo isso em pouco tempo é um feito. O sucesso se dá também pelas elipses, que coadunam com elemento referido anteriormente, o de não exposição.
O rigor estético é sentido em cada quadro. Nota-se um pensamento por trás do enquadramento escolhido, aliado à fotografia em preto e branco que reforça as dualidades (a visual, a textual e da dinâmica dos personagens). Além da razão de aspecto mais quadrada focalizar ainda mais a dupla principal, comprimindo-os. Aquele velho clichê de que várias composições poderiam ser penduradas na parede se aplicam aqui também. Acusar Guerra Fria de ser sem emoção é ignorar toda essa técnica por trás. Nesse sentido a disputa com Roma é das mais estupendas. Mesmo o longa mexicano sendo franco favorito em tudo, considero a obra polonesa fazendo jus, e dada a objetividade (ponto justamente que o filme mexicano falha), prefiro Guerra Fria.
Se ainda assim não se sentir tocado, Guerra Fria usa o elemento musical como motor narrativo e emocional. As entradas são perfeitas e desde a primeira cena temos esse uso quase como que apresentando o universo. As letras colocam também muito de vida e podem ajudar a preencher certas lacunas como os momentos mais explícitos.
Entre silêncios e desencontros, personalidades opostas e atrativas, luz e sombra, temos a evolução de Zula (Joanna Kulig) e Wiktor (Tomasz Kot). Apreendemos as personalidades (e as mudanças delas) conforme o passar do tempo, de maneira orgânica, tal como a vida. Os atores também nos ajudam e muito a nos transportar para aqueles caracteres, o desgaste e o amor ficam evidentes, às vezes em um olhar “apenas”.
O plano de fundo que dá título à obra permite a expressão de sentimentos e ações únicos. Somos convidados a embarcar no universal e no íntimo, no local e no multicultural, já que ambos têm os destinos marcados, como não poderia deixar de ser, pelos acontecimentos macros. E essa amplitude é vista também na sutileza, de escolhas, de placas e fronteiras, mas principalmente das nuances da relação daquelas figuras.
Guerra Fria é daquelas obras que ficam e tal qual os personagens, merece ser revisitada de tempos em tempos.