“Best Friend”
A companhia de quem não existe, de fato, já faz parte de nossas vidas. O mundo virtual pertence ao nosso mundo e não temos muito o que fazer à respeito, pelo menos não mais. Henry David Thoreau, autor de “Walden ou A vida nos bosques”, de certa forma narra uma experiência de filosofia prática a qual traz em seu conteúdo uma vivência de isolamento da sociedade civil. Nesse relato, distancia-se do acúmulo exacerbado do capital mundo social e afetivo e, em contrapartida, reverbera e dilacera um outro olhar para um bem viver, porém, não em sociedade.
Apesar de ser uma referência interessante e que faz jus como semelhança de análise a esse post, aqui venho falar da não possibilidade de retiro -de modo opcional, como em Walden – e pelo contrário, inerente as nossas vidas. Best Friend é um short-film de animação ganhador do prêmio The best Student film Award in View Conference 2018. Meu interesse por trazer aqui um short-film de animação, como em todas minhas postagens, pertence ao meu modo de ver o estranhamento como uma forma de aprimoramento, de aprendizagem e de tesão. Quando me dei conta da bela estrutura simples desse filme, percebi que nele poderia me debruçar um pouco e estruturar um pensamento sobre seu argumento. Embora nele encontremos certas fatias de referências já conhecidas como Black Mirror, principalmente, não é por isso que perca qualidade.
A princípio tudo corre bem numa festa de aniversário. O aniversariante está de frente ao seu bolo de aniversário e está rodeado de pessoas queridas e amigos. Toda sua festa está inteiramente conectada a um dispositivo instalado no seu cérebro de modo a levá-lo a viver essa realidade na qual apenas existe devido ao seu desejo em ter amigos; um pouco confuso, mas não tanto. Esse dispositivo é acionado por ele como se fosse um botão, e assim a festa continua, seus amigos o amam, todos sorriem, em resumo, faz a felicidade ser eterna e seu aniversário ser extremamente o que ele sempre quis. Essa é a droga dos melhores amigos e seu logo diz o seguinte: “Are you still looking for a better friend? Now we can give you the best. The friend only you can see: Best Friend, never be alone”. Decerto, agora, consigamos compreender melhor o que a animação veio tratar.
A tensão na qual o enredo debruça relaciona-se a nossa realidade atual e que sem dúvidas, não sei se chegará a esse nível, mas compactua de forma metafórica ao modo pelo qual lidamos com as tecnologias ao nosso redor, bem como, nos desfiguramos e nos desconectamos de nós mesmos quando inseridos ou conectados a elas. A desconexão faz parte do melhor convívio consigo mesmo no mundo atual. As telas, uma ao lado da outra numa mesa comprida de uma biblioteca, na qual até os livros sentem-se abandonados, visto que nem eles mais são tão mais necessários já que vivem ao redor de tantos como eles na rede, de fato, espelham nosso bem-viver na atualidade.
A forma como Best Friend lida com o tema da solidão num mundo de conexões demasiadas e pouco conectividade, mesmo não indo muito além disso, faz um alerta esquisito e que faz refletir. Por isso o indico.
Bom pensamento 🙂