MOSTRA SP 2018 | Deixem os Velhos Morrerem
Deixem os Velhos Morrerem é contraditório como seu protagonista
Ficha Técnica
Direção: Juri Steinhart
Roteiro: Juri Steinhart
Elenco: Max Hubacher, Jessy Moravec, Julian Koechlin, Flurin Giger, Samir Klipic, Olivia Lina Gasche
Nacionalidade e Lançamento: Suíça, 2017
Sinopse: Kevin vive em um tempo e em um lugar onde tudo é permitido e aceito. Ele quer uma revolução! Mas contra o quê? Sua vida confortável e sem problemas o deixa entediado e o aborrece. Kevin decide, então, estabelecer uma comuna com seu melhor amigo, Manuel. Como um ritual de iniciação, os neorrevolucionários destroem seus smartphones: eles querem a volta das emoções verdadeiras, o fim das convenções e escapar do consumismo.
O Punk é atitude. Já dizia o arruaceiro Suicide no clássico B A Volta dos Mortos Vivos (1985): “Você acha que isso é a porra de uma fantasia? Isso é um estilo de vida!”, e podia muito bem ser deste filme o pôster que Kevin (Max Hubacher), protagonista de Deixem os Velhos Morrerem (Lasst Die Alten Sterben, 2017), cola em sua parede após uma epifania. No entanto, é o pôster de Taxi Driver (1976) – este um clássico de primeira – que estampa parte de seu quarto e explicita uma interpretação equivocada do material por parte do jovem mais preocupante até mesmo que a sátira com zumbis poderia representar.
E Kevin é, ao seu próprio modo, um zumbi. Vivendo do alto de seus privilégios de classe alta, na Suíça e em 2017, Kevin é um representante de boa parte de sua geração, com o egocentrismo latente e necessidade de aprovação evidenciados pela maneira obsessiva com que almeja curtidas e comentários em redes sociais. O jovem, porém, está entediado, e após um colapso nervoso oriundo de um desprezo pelo comodismo e necessidades consumistas de seus pais, decide virar adepto do movimento punk. Convida seu amigo Manuel (Julian Koechlin) – que, igualmente banal e entediado, se junta sem resistência – e juntos abrem uma comuna. Não tarda para que ela ganhe novos membros, e os ideais que fabricaram sejam postos a prova.
Dirigido e escrito pelo também suíço e estreante em longas-metragens Juri Steinhart, Deixem os Velhos Morrerem acaba sendo curioso justamente por suas contradições que se equiparam a seu patético protagonista. Adotando desde o início uma montagem e estética que remetem a filmes como Trainspotting e Clube da luta, com a narração em off e quebras da quarta parede, tudo no filme de Steinhart clama pelo “descolado” através da transgressão da linguagem. O problema é que, já diluída no cinema britânico de máfia dos anos 2000 e pelo próprio cinema estadunidense, tais recursos estilísticos já estão um tanto quanto saturados – e poucos cineastas conseguem utilizar tal estética de forma inovadora.
Assim, ao invés de evidenciar tais elementos cool apenas para desconstruí-los nas inevitáveis crises que tal ideologia trás – como a necessidade de seus membros de utilizar celulares e viver uma vida convencional e “responsável” – o diretor está apaixonado pela própria estética, sacrificando a jornada de seu próprio protagonista de vez em um momento chave, onde uma manifestação que sucede uma morte diminui o peso da mesma ao ser embalada com um pop que não reflete as emoções que deveriam ser externadas.
Com uma breve citação de imigrantes que evoca até mesmo a mostra do ano passado e seu olhar para a crise dos refugiados, Deixem Os Velhos Morrerem não consegue se desprender de sua estética exagerada, e se perde em suas próprias mensagens, que se embaralham e se contradizem.
Confira a programação da 42ª mostra
Resumo
Deixem os Velhos Morrerem é contraditório como seu protagonista, privilegiando floreios estilísticos ao invés de uma lógica interna.